Quero relatar aqui uma interessante experiência que tenho vivenciado nos últimos anos na cidade onde vivo, Lausanne, e particularmente junto ao grupo de arquitetos da SIA – Sociedade de Engenheiros e Arquitetos do Cantão Vaud, na Suíça (órgão similar ao IAB).

Trata-se da forma exemplar de como este grupo promove a vivência, o intercâmbio e o conhecimento de cidades e obras de arquitetura contemporânea regionais e internacionais.

No âmbito nacional e internacional o grupo organiza anualmente uma viagem de estudo à uma ou mais cidades, visitando um conjunto de obras de arquitetura selecionadas previamente.

Estas viagens abrem os horizontes profissionais, favorecem o intercâmbio entre colegas além do prazer de desfrutar as especificidades de outras culturas.

Nós mesmos acompanhamos os colegas suíços em 2003 e 2004 à São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador. O resultado extremamente positivo dessas viagens reflete-se nas diversas solicitações da parte de outros grupos de arquitetos para repetição da experiência.

Mas é no âmbito regional que a coisa parece bem mais interessante. Desde 2001 organizam-se regularmente visitas à obras de arquitetura e engenharia recém-construídas, sendo a maioria delas resultantes de concursos públicos: escolas, creches, bibliotecas, museus, edifícios esportivos, hospitalares ou residenciais.

Essas visitas destinadas aos profissionais têm o mérito de propiciar um intercâmbio entre estes e os diferentes atores ligados à realização do projeto; cada uma delas é ocasião para clientes, arquitetos e engenheiros apresentarem a nova construção, explicando suas especificidades.

E para os visitantes, por sua vez, de exercerem seu senso crítico dentro de um espírito de formação contínua. Realizadas em um clima descontraído, normalmente aos sábados pela manhã, essas visitas se fazem em família e muitas vezes terminam com um aperitivo oferecido pelo cliente.

Certos de que essas visitas poderiam suscitar o interesse também do grande público, dando-lhe a possibilidade de descobrir obras normalmente não mencionadas nos guias turísticos, o mesmo grupo de arquitetos deu início o ano passado a uma outra experiência batizada “quinzena da arquitetura contemporânea”

O evento – inspirado no sucesso de experiências similares realizadas na Alemanha, França, e Holanda – oferece ao público a possibilidade de visitar uma série de realizações arquiteturais e urbanas recentes dentro da região francófona da Suíça.

A particularidade dessas visitas é que elas contam com a presença dos arquitetos e engenheiros nas obras, são eles que se incumbem de acolher o público in situ e lhe fornecer as explicações solicitadas. Uma ocasião privilegiada para apreender as problemáticas arquitetônicas, os desafios atuais do desenvolvimento urbano e de compreender o papel dos profissionais na melhoria de nosso meio de vida.

O sucesso da edição de 2006 já repercute na edição de 2007 que conta com o dobro de edifícios abertos à visitação. Para quem quiser dar uma olhada de perto ou de longe, a quinzena da arquitetura contemporânea é gratuita e se realizará do dia 21 ao 29 de abril e o guia e o programa estão disponíveis no website www.15n.ch.

Outro coletivo de arquitetos Tribu’architecture também vem organizando uma série de visitas destinadas ao grande público. Trata-se de um outro tipo de enfoque, onde os diferentes temas tratados são pretextos para permitir ao cidadão descobrir e refletir sobre os destinos de sua própria cidade.

Assim, são organizadas visitas à zonas industriais em mutação, à bairros em expansão ou mesmo um passeio lúdico em patinete através das inúmeras ladeiras de Lausanne, considerada capital mundial do roller, afim de compreender a relação entre a morfologia da cidade e sua evolução histórica.

Sempre ouvi dizer que arquitetos são bons turistas… Não sei o que isso quer dizer mas posso afirmar que as visitas de cidades e obras organizadas por arquitetos costumam ter êxito.

Claro que não falamos aqui de visitas à arquiteturas mediatizadas pelo turismo mas sim de obras de arquitetura de boa qualidade assim como de uma reflexão urbana conseqüente. E é nesse sentido que encontramos o interesse dessas visitas arquiteturais: interesse profissional, ético, cívico e didático.

sobre o autor

Olivia de Oliveira é arquiteta e sócia do escritório Butikofer & De Oliveira em Lausanne, Suiça. Além da prática de projeto dedica-se ao ensino e pesquisa. Principais publicações: "Lina Bo Bardi. Sutis substâncias da arquitetura", Romano Guerra e Gustavo Gili, 2006. 2G "Lina Bo Bardi, obra construida" n° 23/24, Gustavo Gili ed., Barcelona 2002.