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architectourism ISSN 1982-9930

Porto de Paranaguá PR. Foto Abilio Guerra

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Ana Paula Spolon mostra, em seu tocante artigo, as maravilhas do interior do Ceará, tendo como pano de fundo sua própria experiência de vida


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SPOLON, Ana Paula. Do interior de SP ao interior do CE. Arquiteturismo, São Paulo, ano 01, n. 002.06, Vitruvius, abr. 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/01.002/1316>.


Escrevendo sobre o interior do Ceará, lembrei da primeira aula do curso de hotelaria e da pergunta do professor, que quis saber de cada um o que estava fazendo ali. Sem pensar muito, respondi que era porque gostava de viajar. Levei um passa-fora. Ele me disse de pronto que eu talvez estivesse no lugar errado – “Hotel não sai do lugar”! E isso era, de fato, uma verdade. Que eu não aceitei, devo dizer.

Lembrei também do interior de onde vim. Uma cidadezinha pequena, na região noroeste do Estado São Paulo. Mas como tantas do interior do Ceará. Em comum, têm a insistência míope de não preservar as casinhas de arquitetura eclética, desfigurar construções históricas, ignorar a cultura imaterial, não cuidar do meio ambiente e não se valorizar...

De não reconhecer os recursos que, bem geridos, constituem adoráveis atrativos turísticos. De fato lá não tem cinema, nem teatro. E o mundo exterior só chega mesmo pela tela da televisão. Quando muito, pelas revistas. Ou pelo que as pessoas contam. O único jeito de descobrir a magia de outros lugares é mesmo saindo de lá.

Saí há quase 20 anos. Desde então, administro a saudade que tenho da melhor esfiha do mundo – a do “seu” Riskalla, que por mim seria tombada como patrimônio nacional, junto com o sorvete de caramelo do tio Abílio! Lá se vai o tempo.

Nesses anos, a trabalho principalmente, viajei por todo o Brasil, para o Ceará inclusive (para Fortaleza e litoral, nunca até o interior). Mala nas costas, ia para aeroportos e rodoviárias com um guia na mão e a curiosidade nata de quem tem um mundo por descobrir. Chegando nos lugares, andava pelas ruas, olhava as pessoas, admirava monumentos e construções.

Com o passar dos anos, fui percebendo uma certa mudança em meu olhar. Já não era só uma turista, ou uma técnica para quem os lugares eram só o objeto de estudo. Ao contrário, passei a vê-los como sujeitos. Comecei a olhar para as cidades mais atentamente e a perceber que nelas havia alma, símbolos e todo um imaginário por ser desvendado.

Adotei a fotografia como aliada e passei a registrar tudo o que me pudesse parecer interessante. Comprei um caderninho onde anotava minhas impressões, registrava minhas dúvidas, escondia meus comentários. Um baú de palavras e de imagens de lugares para os quais eu nunca soube se iria voltar.

Deste olhar, primeiro encabulado e inseguro e mais tarde atencioso e crítico – mas sempre cheio de encantamento – veio a percepção de que as cidades, os espaços, os monumentos, os ícones e as paisagens escondiam muito mais do que normalmente se consegue captar. Olhar para os lugares passou a ser minha obsessão. Não é sem emoção que hoje me dou conta do quanto esse olhar é diferente. De alguma forma e em algum momento, casaram-se turismo e arquitetura.

Continuo viajando para muitos lugares, buscando encontrar pontos de conexão entre as duas áreas. E são muitas as histórias para relembrar, de cada uma das cidades. As cidades, como os hotéis, também não saem do lugar. É preciso que as pessoas cheguem até elas – não é mesmo professor? Hoje, costumo dizer aos meus alunos: Saiam do lugar!

São as idas e vindas que fazem o turismo. E são muitos os caminhos. Nesses pelo interior do Ceará, descobri coisas que vão muito além do óbvio circuito sol e praia. Ao viajar pelo Estado, prepare seu olhar técnico e apurado para gratas surpresas e deixe livre a memória de sua máquina digital – há muito para ver e lembranças à beça para guardar. Sugiro um caminho. Que se faz em uma semana.

Embora a entrada mais óbvia seja mesmo Fortaleza, capital descontraída, onde a arquitetura há alguns anos começou a dar sinais de ousadia, com seus prédios cheios de recortes e detalhes estéticos, é muito bom experimentar ser diferente e chegar por Juazeiro do Norte, no sul do Estado, região do sertão do Cariri. Há um bom aeroporto e atrações que vão além das famosas menções ao Padre Cícero. É bom não deixar de ver o artesanato temático do lugar. Vale a pena.

Na seqüência, vale alugar um carro e ir até Nova Olinda e Barbalha, ali do ladinho, com criações artesanais e patrimônio edificado cujo encanto você vai logo perceber.

Uma outra boa pedida é seguir pelo Vale do Salgado até Icó, uma graça de cidade, com construções já restauradas e em processo de restauração pelo Projeto Monumenta. E logo ao lado tem Orós, onde os mais apaixonados por engenharia podem ver o maior açude do Brasil e que está – dizem – encravado na maior barragem de terra do mundo. Se sobrar coragem, vale também se arriscar em uma das modalidades de esporte radical.

De lá, é legal puxar estrada até Tauá, onde estão alguns dos mais importantes sítios paleontológicos e arqueológicos do Ceará. Mais uma parada em Nova Russas e pronto, chega-se à Serra da Ibiapaba, onde estão municípios nos quais a natureza, a hospitalidade e a arquitetura simples e cheia de charme fazem jus à sua visita.

O mais conhecido de todos é Ubajara, onde está o Parque Nacional e a Gruta de Ubajara. Por alguns poucos reais é possível fazer trilhas guiadas e dar um passeio de teleférico para ver de cima os 563 hectares de área do parque. Para além de Ubajara, há o município de São Benedito (que se destaca pela produção de flores), Tianguá (com suas cachoeiras e fazendas de cana-de-açúcar) e Ipu.

Em Ipu está a Bica do Ipu, jorro d'água que cai de uma altura de 130 metros onde, diz a lenda, se banhava Iracema, a virgem dos lábios de mel do romance de José de Alencar. Na saída da serra, fica a simpática Viçosa do Ceará, bem conservada e hospitaleira – conheça o artesanato e a Casa dos Licores do Casal Miranda, um charme!

A próxima parada pode ser no Vale do Acaraú, em Sobral. A “Princesinha do Ceará”, graciosa, com seus prédios e jardins bem cuidados, é o exemplo de que recuperar o patrimônio só faz melhorar o astral dos habitantes de um lugar. Outras duas horas de estrada (no caminho, sugiro dar uma espiadela no patrimônio edificado de Granja, uma beleza!) e lá está ele, o litoral.

Bem, antes de ir embora talvez não seja mesmo má idéia tomar uma boa água de coco e pegar uma cor. E depois ir dirigindo sem pressa até Fortaleza. Lá, um bom dia de sol, com almoço à beira do mar com brisa fresquinha, vai lhe dar fôlego para organizar as imagens da viagem. Ah, sim... você vai se lembrar, nessa hora, que no Ceará tem praias. Bem, para visitá-las talvez seja preciso uma nova viagem...

sobre o autor

Ana Paula Garcia Spolon é hoteleira, mestre e doutoranda pela FAU/USP, onde desenvolve temas sobre renovação urbana e desenvolvimento turístico. Atua na área de planejamento e desenvolvimento de projetos turístico-hoteleiros há 15 anos.

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