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architectourism ISSN 1982-9930


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O ensaio fotográfico de José Tabacow capta aspectos da paisagem natural do afloramento granítico conhecido como Lajedo do Pai Mateus, na Paraíba


how to quote

TABACOW, José. Lajedo do Pai Mateus. Cabaceiras - PB. Arquiteturismo, São Paulo, ano 04, n. 038.01, Vitruvius, abr. 2010 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/04.038/3430>.


Algumas informações dão conta de que no planalto da Borborema, centro-leste da Paraíba, o afloramento granítico conhecido como Lajedo do Pai Mateus tem dois quilômetros quadrados de área, aqui e ali pontuados por mais de trezentos blocos imensos, também de granito, erraticamente distribuídos pela enorme extensão de rocha. Outras fontes informam que a área de exposição rochosa é de mais de um quilômetro quadrado, com número superior a uma centena de blocos rochosos com forma aproximadamente esférica. O Google Earth torna trivial a tarefa de esclarecer a contradição entre estes números. Se alguém se animar, as coordenadas são 7°22' 50" S, 36° 17' 51" W.

Entretanto, o que importa paisagisticamente é que o Lajedo do Pai Mateus é uma enorme superfície de rocha (foto 1), com forma aproximada de um prato emborcado, tendo distribuídos de forma casual, dezenas de grandes blocos (foto 2), ora isolados (foto 3), ora formando conjuntos (foto 4) de grande expressividade (foto 5), que os geólogos poeticamente denominam “mar de bolas” (foto 6), embora algumas assumam formas mais surpreendentes (foto 7) . Nas depressões da rocha pode acumular-se água, formando lagos de formas inusitadas que, em função do regime irregular das chuvas, podem secar (foto 8).

Há pouca vegetação, mais concentrada nas bordas do alforamento, onde formam-se verdadeiros jardins em que sobressaem os grupos de xique-xiques e macambiras-de-pedra (foto 9).

Tudo isso assume a forma de uma grande ilha, em meio ao cariri, como são conhecidas as caatingas do interior da Paraíba. A vegetação geral, envolvendo o conjunto, é a predominante no semiárido: Joazeiros (Zyziphus joazeiro), sempre verdes em meio à vegetação ressequida, imburanas (Bursera leptophloeos) (foto 10), macambiras-de-pedra (Encholirium spectabile) (fotos 11 e 12), além das diversas e constantes espécies de cactus, que se espalham por toda a paisagem. Citamos o mandacaru (Cereus jamacaru), a palmatória (Opuntia sp.), o xique-xique (Pilosocereus gounellei) (foto 13) e o facheiro (Pilosocereus pachycladus) (foto 14).

Situada no município de Cabaceiras, na região de Campina Grande, esta paisagem única (foto 15) só vai encontrar similares geomorfológicos em poucas regiões do planeta, como em Devil's Marbles no deserto australiano, Erongo Mountains na Namíbia e na região do Hoggar na Argélia.

Mas as surpresas não acabam aqui! A apenas dois quilômetros do lajedo acha-se a surpreendente formação denominada Saca de Lã (foto 16), um conjunto de imensos blocos quase regularmente superpostos, que assemelham-se às sacas de lã que, nas fazendas locais, eram empilhadas após a tosquia dos rebanhos de ovelhas.

Na fazenda vizinha, outra formação granítica, conhecida como “o cânion” (foto 17) exibe elaboradas marcas de erosão (foto 18), sob a forma de panelas, pontes de pedra e outras esculturas inusitadas.

Finalmente, mas não menos singular, é a forma de preservação deste local mágico. O proprietário da terra estabeleceu uma pousada que inclui, nas diárias, os passeios a estes e outros sítios. Os hóspedes (ou visitantes não hospedados) são sempre acompanhados por guias formados e informados sobre o que há de especial ali. Deste modo, as paisagens rupestres estão preservadas (foto 19) em sua forma original, sem os tradicionais sinais de degradação (foto 20), como as pichações, sacolas plásticas, latas e outras mazelas com que tantos turistas costumam marcar sua passagem.

Cabral não descobriu o Brasil, apenas começou a descobrir. Hoje, quinhentos anos depois, ainda continuamos descobrindo.

notas

1
Observar, no fundo, o fechamento com pedras empilhadas, para proteção de chuvas e ventos.

2
As plantas sempre verdes, nos planos posteriores, são joazeiros (Zyziphus joazeiro)

3
que enrolavam suas hastes com folhas de jornal (para se proteger dos espinhos) e acendiam-lhes as pontas para, como fachos, iluminar os caminhos, acampamentos ou locais de pescarias.

sobre o autor

José Tabacow é arquiteto paisagista, formado pela FAU-UFRJ, especialista em Ecologia e Recursos Naturais pela UFES e Doutor em Geografia pela UFRJ. É professor das disciplinas de Paisagismo e Coordenador da Pós-graduação em paisagismo do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UNISUL. Possui um arquivo fotográfico com mais de 20.000 imagens de paisagens, principalmente do Brasil. As fotos deste artigo são de sua autoria e de L. C. Marigo.

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