Depois de diversas viagens a Bertioga, litoral sul do Estado de São Paulo, fiquei sabendo sobre o roteiro turístico da Vila de Itatinga. Como arquiteta, a possibilidade de visitar uma usina centenária ainda em funcionamento e sua vila operária com mais de setenta residências despertou interesse imediato. Além do interesse arquitetônico, a bela paisagem da serra do mar também motivou a viagem.
Por se tratar de uma usina ativa e localizada em uma área de proteção ambiental, os programas de visitação são restritos e organizados por agências de turismo credenciadas pelo município. Os passeios ocorrem duas vezes por mês, sempre no primeiro domingo e terceiro sábado de cada mês.
O roteiro se inicia nas margens do Rio Itapanhaú com uma bela paisagem composta por pequenas embarcações e jet skis navegando frente à serra do mar. A travessia do rio é feita em um pequeno barco, que leva os passageiros a uma acanhada estação. Da estação parte um bonde que os transporta até a vila. O trajeto percorrido pelo bonde, de aproximadamente sete quilômetros, é marcado pela vegetação abundante e pelo perfume do lírio do brejo.
Ao chegar à vila, depara-se com um grande espaço aberto delimitado, nas laterais, por casas em renque e, ao fundo, pela usina. A vila é cercada pela densa vegetação que se estende pela serra do mar, onde é possível avistar diversas cachoeiras. Antes de explorar o formoso conjunto arquitetônico, é feita uma trilha na Mata Atlântica. Ao longo da trilha, que dura em torno de meia hora, podem ser vistas bromélias de cores e tamanhos variados em meio ao verde. Para observação de pássaros, o local é um prato-cheio. A trilha é finalizada com um mergulho nas águas frias da Cachoeira dos Três Poços.
Após a trilha, nada mais apropriado que o almoço. Como o vilarejo conta somente com uma venda que serve apenas salgados, pizzas e bebidas, é recomendável levar algum tipo lanche no passeio. Durante o almoço, em mesas e muretas sob as árvores, muitas as aves podem ser vistas, entre elas tucanos.
Depois do almoço, é iniciada a visita à vila propriamente dita. Em meio a conservadas residências de madeira verde-amarelas, há enfermaria, venda e anfiteatro. Em áreas mais elevadas se situam as residências de engenheiros, a escola e a Capela Nossa Senhora da Conceição, de onde é possível avistar grande parte do conjunto. Hoje em dia, algumas destas residências funcionam como alojamento de funcionários e outras estão desocupadas. Na capela ainda são celebrados serviços religiosos periodicamente.
Atravessada a vila, chega-se à Usina Hidrelétrica de Itatinga. Construída há mais de cem anos, esta usina ainda abastece o Porto de Santos. A eletricidade é gerada a partir das águas do Rio Itatinga. Por meio de cinco dutos, a água escoa de mais de 600 metros de altitude e move as rodas d’água das turbinas. É fascinante ver toda esta estrutura em funcionamento.
A visita à usina, entretanto, não encerra o passeio. Após caminhar ao redor do edifício de pedras onde se localizam as turbinas, é feita uma trilha em direção ao local em que o Rio Itatinga deságua no Rio Itapanhaú. Esta trilha, tão rica quanto a primeira, se encerra com um banho de rio.
O regresso no bonde das quatro é um lento “até logo”, pois, definitivamente, haverá uma segunda visita à Vila de Itatinga. Além de ser muito interessante por si só, este roteiro turístico leva à reflexão a respeito da preservação do patrimônio industrial e da possibilidade de vinculação de atividades turísticas e industriais com a preservação do meio ambiente.
sobre a autora
Denise Fernandes Geribello é arquiteta e urbanista formada pela PUC-Campinas e mestranda em História pela Unicamp.