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architectourism ISSN 1982-9930

arquiteturismo

abstracts

português
As particularidades de Almere, a jovem cidade holandesa que se planeja para crescer nos próximos 20 anos

english
Some details about Almere, the young dutch city and its urban plan to enlarge in the next 20 years

español
Las particularidades de la joven ciudad holandesa y sus planos para los próximos 20 años


how to quote

VIDOTTO, Taiana Car. Jovem cidade, grandes planos. Arquiteturismo, São Paulo, ano 04, n. 047-048.02, Vitruvius, fev. 2011 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/04.047-048/3730>.


Assim que decidi morar na Holanda por um ano, diversas cidades com projetos que me serviram de referência para os trabalhos de faculdade entraram no meu roteiro de viagens imediatas: Amsterdã, Roterdã, e, obrigatoriamente, Almere. Para meu espanto, sempre que conversava com algum holandês sobre meu objetivo de visitar a cidade uma questão era feita: mas o que você vai fazer lá?

Almere é uma municipalidade jovem. É uma das principais cidades da província holandesa de Flevoland, que por sua vez está localizada onde antes estava o Mar do Sul. Isso mesmo, como os holandeses dizem aqui Deus criou o mundo e os holandeses a Holanda. Brincadeiras à parte, o mar desta área central do país foi drenado para que fossem evitadas enchentes no futuro. Desde 1920 a água do mar passou a ser drenada e os polders foram tomando forma do que hoje é território da província.

Com sua imensa densidade populacional, a Holanda tirou proveito de uma área tão próxima do Randstad (anel formado pelas quatro maiores cidades do país: Amsterdã, Roterdã, Haia e Utrecht) para abrigar parte da população de um país que recebe cada vez mais imigrantes, como os demais países europeus.

A cidade de Almere se conecta com as demais províncias do país através dos trens e de duas auto-estradas: uma com conexão direta para Amsterdã e a outra para Utrecht. Hoje é a sétima maior cidade holandesa com 185.000 habitantes.

Dados à parte, voltando à pergunta dos holandeses sobre o que eu faria em Almere, em 1994 o OMA – escritório local liderado por Rem Koolhaas – ganhou o concurso para projetar a área central da cidade visando que ela deveria ser redimensionada em virtude da população cada vez mais crescente da cidade. O plano então desenhado pelo OMA teve cada edifício atribuído a um arquiteto diferente, sendo os usos todos combinados – habitação, comércio, cultura, lazer.

Minha primeira visita à cidade aconteceu em uma quarta-feira de verão, ainda no mês de agosto de 2009. De certa forma comecei a entender o que os holandeses questionam: Almere não tem ruas estreitas com canais e muito menos de tijolos, não tem as frondosas árvores. As ruas do centro priorizam apenas o pedestre e tem uma dimensão bem diferente da escala das cidades tradicionais daqui por terem sido projetadas atualmente e dimensionadas para um futuro em médio prazo. A população que vemos na rua também mistura todas as línguas, incluindo o português! Uma das barracas da feira aos sábados é de uma brasileira que vende desde coxinhas até guaraná!

Grande parte dos moradores da cidade é visualmente de imigrantes. As casas têm um valor um pouco menor que nas cidades tradicionais do país e tem área externa para jardim! Fica também um sentimento de pioneirismo e novidade que não está presente no imaginário dos holandeses tradicionais. Em contrapartida, para os imigrantes não há problema algum em ocupar uma área que era inexistente, já que o impacto da mudança de país e a adaptação a nova cultura se dará de qualquer forma.

De ambos os lados do percurso sugerido pelo guia da cidade estão exemplares de ótima arquitetura: desde o bloco chamado de Citadel projetado por Christian de Portzamparc, a biblioteca ainda não finalizada do escritório holandês Meyer en Van Schooten, o cinema Utópolis de Rem Koolhaas com a praça do Fórum e ainda o Teatro do japonês Sanaa.

Devido às largas ruas e as formas bastante marcantes dos prédios o vento que vindo do lago artificial que limita o centro realmente trás uma atmosfera gelada para a cidade, mas nada que cause desconforto para uma arquiteta feliz por ver ao vivo aquilo que há muito tempo via nos livros.

No fim do percurso chegamos ao CASLa – o centro de arquitetura da cidade. Isso é uma característica fantástica nas cidades daqui, cada cidade tem um centro ou instituto (como a NAi de Roterdã) servindo como espaço para discussão de novas diretrizes da cidade e de referências sobre a história local. O prédio do CASLa está imerso na paisagem, sua cobertura é uma deliciosa arquibancada para os dias de verão.

O CASLa abriga sempre uma exposição sobre a cidade. Em minha última visita, o projeto apresentado era de ampliação da cidade. São previstas quatro novas áreas de urbanização, até 2030, e para que Almere cresça o plano liderado pelo MVRDV prossegue em longa discussão com a participação de todas as esferas: poder público, moradores e construtores. A cidade também continua em processo construtivo da área de edifícios comerciais. Diversos prédios as margens da estação de trem central estão em fase de acabamento e logo abrigarão escritórios.

Seja no inverno atual, um pouco rigoroso, ou no verão, as ruas do centro tem um grande fluxo de pessoas sempre que o comércio está aberto ( e isso acontece de segunda a sábado até as 18 horas e no primeiro domingo do mês durante a tarde). De fato, quando é passado o horário comercial sentimos uma atmosfera mais pacata, mas isso se repete em qualquer cidade do país.

Almere pode não ser o retrato da Holanda tradicional, desbravadora do mundo com sua Companhia das Índias e sempre na vanguarda das polêmicas discussões sobre uso de drogas e prostituição, no entanto é e será o retrato da Holanda atual e do futuro – uma mistura de pessoas e de exemplares arquitetônicos dignos de muito respeito e consideração.

sobre a autora

Taiana Car Vidotto é arquiteta graduada em 2006 na Universidade Paulista de Campinas, morou um ano na Holanda fazendo pesquisas sobre arquitetura contemporânea no país, visitando mais de 50 cidades. De volta a Campinas é arquiteta do URB Arquitetos Associados.

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