O caso do cine Belas Artes, prestes a finalizar suas atividades, exprime bem a falta de atitude da cidade e Prefeitura, que poderia ser exemplar. No mínimo, faltou diálogo.
O desenvolvimento urbano e a ampliação da infraestrutura deixaram o imóvel que abriga o conjunto de cinemas em uma posição estratégica. Hoje, a proximidade de duas estações de duas linhas diferentes de metrô e sua localização praticamente na esquina da rua da Consolação com a Avenida Paulista – uma das principais esquinas da cidade – confere ao imóvel um valor imobiliário significativo. Considerando que se trata de imóvel comercial, é de se esperar que seja alugado por seu valor de mercado. O tombamento, obviamente, não é um expediente adequado para manter a atual atividade em funcionamento, uma vez que esta é uma modalidade de uma intervenção voltada para imóveis de qualidades histórica e arquitetônica consagradas, não para garantir determinado uso.
Como o cinema só opera à noite e nos finais de semana, o local fica abandonado durante o dia, junto com a passagem subterrânea sob a Rua da Consolação, também subutilizada. A utilização do térreo com uma atividade mais compatível com a intensa vida urbana do local, seria uma saída não só adequada, mas fundamental para a manutenção do imóvel com programação artística. Quem sabe, a instalação de uma galeria no térreo, diretamente aberta para a calçada pública, o que não seria complicado, uma vez que as salas de cinema estão no subsolo e nos pisos superiores. Medidas como esta, totalmente compatíveis com o que já ocorre ao longo de toda a avenida Paulista, confeririam vida constante ao ambiente, tanto de dia, como de noite.
Não caberia à Prefeitura agir como intermediária, com uma espécie de câmara de conciliação urbana, que propõe soluções e promove incentivos às atividades de interesse público? E, do ponto de vista urbanístico, seria viável e até indicado um redesenho desta esquina, envolvendo o prédio do cine Belas Artes, a passagem subterrânea e principalmente o espaço da Avenida Paulista, onde a existência de dois enormes buracos de exaustão dos gases expelidos pelos automóveis nas pistas enterradas ampliam a confusão urbana, permitindo a ampliação da poluição visual, ambiental e sonora. Que tal um concurso público de urbanismo para a concepção de uma belíssima e envolvente praça?!
nota
NE
Sobre o fechamento do cine Belas Artes, ver no portal Vitruvius:
- COELHO SANCHES, Aline. Notas sobre a arquitetura do Cine Belas Artes. Drops, São Paulo, 11.040, Vitruvius, jan 2011 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/11.040/3729>.
- SANTOS, Cecília Rodrigues dos. Em defesa do cinema Belas Artes. Drops, São Paulo, 11.040, Vitruvius, jan 2011 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/11.040/3727>.
- BONDUKI, Nabil. Não deixe o cine Belas Artes fechar. Minha Cidade, São Paulo, 11.126, Vitruvius, jan 2011 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/11.126/3726>.
sobre o autor
Michel Gorski, arquiteto e urbanista, editor de Arquiteturismo, é fã de cinema de rua e frequenta o cine Belas Artes desde quando ele se chamava Cine Trianon.