Este era um lugar que queríamos muito visitar em Buenos Aires, pois seria a primeira obra do arquiteto Santiago Calatrava que iríamos "conhecer pessoalmente". A Puente de la Mujer – que na verdade é uma passarela para pedestres – interliga os dois lados do Dique 3 em Puerto Madero. Sua execução foi iniciada em 1998 e concluída em 2001. Já havíamos visto várias imagens dela antes de ir a Buenos Aires, mas uma surpresa fez do nosso passeio uma experiência especial.
Era um domingo e fomos caminhando do hotel a Puerto Madero. Seguimos ao longo do dique em direção à ponte e em torno meio-dia, chegamos lá. Já admirando os traços simples da ponte, preparamos aquele "pé direito" para começar a travessia, quando, de repente, uma cancela desceu impedindo nossa passagem e um guarda solicitou que as pessoas no meio da ponte se dirigissem para uma das margens.
Juntamos algumas palavras e soubemos que algum barco ia passar ali, mas somente depois de várias pistas pudemos compreender tudo: um pilar isolado no meio da água, os tirantes da ponte, a necessidade das pessoas saírem para os barcos passarem... Quer dizer que a ponte se mexe!? Como não sabíamos disso? Por coincidência chegamos na hora exata e descobrimos da melhor forma possível que esta é uma ponte móvel?! Que sorte!
Poucos minutos se passaram até que a ponte começou a se movimentar. Fazendo um giro de 90 graus, a extremidade da ponte fica em balanço, sustentada pelos cabos (agora sim entendemos para quê servem!) até que se encaixa no pilar isolado na água.
A ponte estava em uma posição que jamais havíamos visto, partida em três segmentos, abrindo espaço no meio do canal para a passagem dos barcos. Soubemos que há pessoas que realmente vivem nos barcos, outras apenas queriam velejar. Fazíamos parte de uma multidão que contemplava aquela bela imagem ao mesmo tempo em que éramos observados e fotografados pelas pessoas nos barcos.
Dizem que Calatrava tomou um casal dançando tango como inspiração para conceber a ponte. Achamos que seu desenho está mais associado aos esforços que ela tem que suportar e ainda permitir o movimento de rotação. É claro que para se ter um resultado harmonioso é preciso criatividade, mas se for para encontrar uma referência, vejamos como a ponte se comunica com os mastros dos barcos que passam no canal. Se alguém procura uma relação entre a ponte e o tango, talvez não a encontre na forma, mas sim na coincidência entre o movimento que ela descreve e a dança: uma elegante rotação, tal qual gira a mulher em torno do homem no salão.
Acompanhamos a travessia de todos os barcos, fechada com um veleiro de maior porte. Finalizada a passagem, a ponte voltou a sua posição original e guardou o seu segredo.
sobre os autores
Cynara de Sá Fernandes é arquiteta e urbanista (UFRN, 2004).
Petterson Dantas é arquiteto e urbanista (UFRN, 2004) e Tecnólogo em Gestão Ambiental (IFRN, 2010). Atualmente é aluno do Mestrado Profissional em Arquitetura, Projeto e Meio Ambiente (UFRN).