Nos dias 19 de junho e 7 de agosto de 2011, domingo de manhã, aconteceram passeios pelo centro da cidade de Franca, guiados pelo arquiteto Mauro Ferreira, com o apoio da artista plástica Atalie Rodrigues Alves. Ambos pertencem à coordenação do Laboratório das Artes de Franca, um movimento cultural local que mantém um pequeno museu privado de artes visuais modernas e inclui em suas preocupações a preservação do patrimônio cultural edificado. O Laboratório das Artes se responsabilizou pela organização do evento e por sua divulgação na imprensa local dos passeios, que foram abertos a toda a comunidade.
Os passeios realizados pretendiam articular diversos objetivos, desde os culturais, permitindo conhecer e discutir aspectos significativos da história da cidade contada por seus edifícios, os objetivos sociais, tornando possível o contato e relacionamento direto de pessoas interessadas nas questões da preservação da arquitetura local e também objetivos ligados à saúde e ao lazer, já que o percurso foi realizado a pé.
O primeiro passeio se desenvolveu na região central e na parte baixa do bairro da Estação, priorizando a arquitetura modernista existente num contexto de um centro histórico desprotegido, com sua arquitetura característica das décadas de 1950 a 1970 em acelerado processo de deterioração e/ou transformação desenfreada, incluindo obras de arquitetos como Carlos Gonzalez Lack e Ícaro de Castro Melo. O segundo passeio percorreu as edificações tombadas pelo órgão de patrimônio cultural do município (Condephat) no casco histórico central de Franca, importante núcleo urbano do interior paulista que surgiu na rota do Anhanguera no final do século XVIII e que hoje concentra o maior pólo calçadista masculino do país, atingindo uma população de 313.128 habitantes (Censo IBGE 2010).
Antes do início do passeio, uma apresentação visual na sede do Laboratório, de onde partiu o grupo para o passeio, mostrou o roteiro elaborado, as principais características dos imóveis e sua importância na história local. Em seguida, o grupo percorreu a pé o trajeto previamente definido, observando em grupo os imóveis após breve parada para esclarecimentos e comentários sobre passagens interessantes da história do prédio feitos pela equipe do Lab, que trazia para a discussão as questões relacionadas à construção, história, personagens e situações relativas aos prédios.
Os passeios contaram com a presença, além dos organizadores, de um grupo com aproximadamente trinta pessoas, formado principalmente por arquitetos, artistas, professores e estudantes. Apesar do calor, o dia de céu azul e cheio de luz permitiu boas tomadas e registros fotográficos dos prédios visitados pelos participantes, que puderam ver em detalhe a situação precária de alguns imóveis tombados e o descaso das autoridades municipais competentes. O sucesso da iniciativa está exigindo do Lab a realização de novos eventos da mesma natureza (já está previsto um no bairro da antiga estação ferroviária), fazendo com que as pessoas redescubram a beleza da cidade escondida pelo movimento feérico do centro no dia a dia e pelas placas publicitárias exageradas, incentivando o movimento pela preservação da arquitetura local e cobrando um maior cuidado de todos na manutenção dos passeios, praças públicas e dos locais visitados.
sobre o autor
Mauro Ferreira (Franca, 1952) é arquiteto (FAU Braz Cubas, 1974), mestre e doutor em arquitetura (EESC-USP) e professor na Universidade do Estado de Minas Gerais, no campus de Passos. Atua em sua cidade natal, realizando projetos de arquitetura e planejamento urbano. Mantém uma coluna semanal de crônicas no caderno Nossas Letras, do jornal Comércio da Franca. É ficcionista, com contos e romances publicados. É um dos dirigentes do movimento cultural Laboratório das Artes de Franca.