Um passeio magnífico nos arredores de Londres é o Kew Gardens. Este jardim botânico belo e grandioso revela ainda uma surpresa incrível que é a Xstrata Walkway Treetop e o Rhizotron. Não soube fazer essa introdução sem esses adjetivos todos. A passarela é de tirar o fôlego. Aberta em 2008, a estrutura em aço patinável permite ao visitante subir 18 metros e percorrer um caminho de 200 metros até o topo das grandes e majestosas árvores. Por conta do material e do desenho, a estrutura se insere delicadamente na paisagem.
O Rhizotron é uma estrutura de concreto que, em oposição à passarela, leva o visitante para “dentro da terra”, para conhecer os processos que acontecem sob o solo. Uma instalação que representa as raízes das árvores feita com tubos metálicos, numa estética de submarinos, traz animações e vídeos que explicam as relações que existem entre as raízes, o solo e organismos como nematóides, besouros, tatuzinhos e bactérias.
Nosso amigo que mora em Londres não nos deixou visitar a London-Eye, descrevendo-a como uma “roda-gigante monga”, típico programa “pega-ratão” (algo como ‘para enganar turista’, uma expressão do Rio Grande que ele gosta de usar). Coincidentemente, essa estrutura do Kew Gardens foi projetada por Marks Barfield Architects, que também desenharam a London Eye. Nosso amigo poderia dizer, então, que “acertaram dessa vez”.
Duas curiosidades: uma é que o elevador nunca funcionou. No website, a administração do parque, além de pedir desculpas, informa que ele “não se provou confiável” e “que após uma investigação exaustiva, foi decidido que uma solução alternativa precisará ser encontrada”. A única via de acesso são os 118 degraus. A outra curiosidade é que os arquitetos explicam que a estrutura dos pilares foi calculada usando uma seqüência numérica de Fibonacci, presente com freqüência nos padrões da natureza do crescimento. Se na natureza, os números explicam como cresce uma população de coelhos, na estrutura significou mais material onde havia mais esforço. Pode parecer óbvio, pode parecer brincadeira de matemático, pode ser que tenham razão.
sobre a autora
Francine Sakata é arquiteta paisagista, autora do livro Paisagismo urbano - requalificação e criação de imagens (Edusp, 2011) e co-autora de Parques urbanos no Brasil (Edusp, 2002), com Silvio Macedo. Desenvolve projetos pela NK&F Arquitetura da Paisagem em parceria com Fábio Namiki, Fabio Robba e outros. Leciona na FMU e é associada à ABAP – Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas.