Parti para o México no ano de 2000 para cursar um mestrado e acabei ficando por lá durante seis anos. Aproveitei as férias proporcionadas pela vida universitária e realizei um bom número de viagens. Conheci o vasto e variado território mexicano, visitando e conhecendo suas diferentes regiões e culturas. Além das viagens, aproveitei também da residência na Cidade do México para desfrutar dessa singular urbe. As excursões – ou, como muitas vezes, simples deambulações – por cenários urbanos e paisagens naturais foram ao mesmo tempo uma motivação e um meio de descobrimento.
Estas viagens que considero de formação, dadas as experiências de vida proporcionadas, serviram para conhecer melhor tanto o contexto mexicano como o brasileiro. É que quando temos uma referência aprofundada de uma cultura alheia, criamos um outro olhar sobre nossa própria cultura. Somos então capazes de desenvolver uma visão crítica e, ao mesmo tempo, valorativa. O caso do México foi peculiar porque, apesar de apresentar semelhanças gerais em termos históricos, políticos e econômicos (compartidas entre muitos dos países latino-americanos), apresenta profundas diferenças culturais. Não só as civilizações indígenas, com destaque para a Asteca e a Maia, mas também a colonização espanhola e a paisagem natural, são importantes elementos contrastantes com o Brasil.
Munido de uma câmera ainda manual (onde se escuta o clic mecânico e se cuida cada “chapa queimada”) tomei gosto pela fotografia, que continua sendo um importante recurso de registro, análise e interpretação de imagens. Com a intenção de rememorar os lugares que visitei, fiz de minha câmara uma companheira de viagens e formei um modesto banco de imagens. Três cenários mexicanos me parecem especialmente interessantes de se abordar, não só pelo panorama cultural que oferecem, mas também como recomendação de possíveis focos turísticos. Os sítios arqueológicos, as cidades coloniais e a Cidade do México são temas ou lugares significativos que o viajante pode explorar. Apresento nesta ocasião uma parte desse acervo fotográfico que enfoca a maravilhosa arquitetura das cidades rituais dos antigos povos indígenas mexicanos.
O México era habitado, antes da chegada dos espanhóis no final do século XV, por civilizações indígenas com complexos níveis de urbanidade. Os primeiros centros cerimoniais datam de até o ano de 1200 a.C. Os sítios arqueológicos que permaneceram correspondem, em boa medida, aos centros monumentais com suas calçadas e pirâmides de pedra, para onde confluía a população nos rituais religiosos e políticos. Devido à grande variedade cultural e geográfica do território mexicano, resulta muito instigante comparar as nuances arquitetônicas e urbanísticas.
Os sítios arqueológicos mexicanos funcionam como grandes parques, no geral muito ensolarados. Vale a pena visitá-los com calma, destinando um bom tempo para acessá-los e desfrutá-los. É comum ter um pequeno museu junto aos sítios com informações arqueológicas e exposição de peças encontradas nas excavações.
A uma hora de viagem da Cidade do México encontra-se Teotihuacán (“cidade dos deuses”), um dos sítios arqueológicos mais antigos do México que abrigou em seu apogeu aproximadamente 200 mil habitantes, população imensa para a época. Pouco se sabe da história do lugar, pois já era considerada uma “cidade fantasma” e misteriosa até mesmo para os astecas. Destacam aqui duas das maiores pirâmides do México, a da Lua e a do Sol, esta com aproximadamente 75 metros de altura.
Ainda no altiplano central, pode-se visitar Xochicalco, menos monumental mas com estruturas arquitetônicas importantes como o Templo da Serpente Emplumada e a caverna com orifício no teto usada como observatório astronômico.
Em direção ao Golfo do México encontra-se El Tajín. A topografia acidentada e a vegetação irregular se refletem nas pirâmides íngremes e texturizadas. As escadarias representam um desafio para os turistas em busca de ascensão simbólica e vistas panorâmicas. As estruturas rememoram um rito de sacrifício da cultura pré-hispânica, onde cabeças humanas eram cortadas e roladas escada abaixo.
Na região montanhosa e seca dos vales centrais de Oaxaca, encontram-se outros sítios arqueológicos de especial interesse. Uma montanha foi moldada para abrigar a grande plataforma, esplanadas e pátios de Monte Albán. As encostas escalonadas do bem conservado campo de bola dá uma ideia do jogo ritualístico praticado, onde se batia com a bola no quadril para passá-la em um aro de pedra. Ali perto, a uma hora de viagem, vale a pena passar por Mitla. O conjunto paisagístico não é tão monumental, mas as pequenas peças de pedra dispostas em relevo nos muros do templo formam mosaicos de rara beleza.
Na porção sul do México há sítios arqueológicos de influência maia. Até para quem viaja ao mega resort turístico de Cancún, pode-se facilmente visitar Chichén Itzá com sua pirâmide da Serpente Emplumada e, ainda mais facilmente, o parque litorâneo de Tulum. Este se destaca pela situação na beira de uma pequena falésia no Mar do Caribe. As estruturas arquitetônicas, mais simples e de escala mais singela, aproveitam da situação elevada e “olham” em direção ao continente.
Adentrando-se um pouco mais na Península de Yucatán em direção ao Golfo do México, encontra-se o impressionante Uxmal, um dos mais preservados sítios arqueológicos maias. No arranjo livre e informal de estruturas contrastam os edifícios horizontais dispostos sobre plataformas e as silhuetas massivas das pirâmides. Os relevos de peças de pedra encaixadas representam divindades e desenhos geométricos.
Ainda na cultura maia, destaca o sítio arqueológico de Palenque, situado mais ao interior do continente, em uma área de transição entre as montanhas coníferas do pacífico e as selvas subtropicais rumo à Guatemala. Desde aqui, tem-se ainda um acesso algo difícil – horas de van e trechos de lancha – a ruínas pouco restauradas como as de Yaxchilán e Bonampak.
Em direção ao norte do território mexicano o clima fica bem mais desértico e há poucos sítios arqueológicos de interesse. Poderíamos destacar, porém, La Quemada, cujo diferencial consiste no aproveitamento da um monte natural que foi sustentado e revestido de pedra para albergar a cidade ritual. (Figura 20) Ainda mais ao norte, perto da fronteira com os Estados Unidos, está Paquimé. Não pude estar lá, mas este conjunto modelado com terra também se encontra na rota dos principais sítios arqueológicos do México.
Como é comum acontecer diante de um território tão variado e rico, acabamos por selecionar alguns lugares e, por conseguinte, excluir outros. Acredito, mesmo assim, ter oferecido um panorama razoável da singular beleza dos sítios arqueológicos mexicanos. Para maiores informações sobre o assunto, recomendaria a consulta de autores como Ignacio Marquina e Paul Gendrop. Também espero que este ensaio motive estudos, visitas e viagens ao México, país que tem ainda como focos de interesse cidades coloniais bastante preservadas e a peculiar cultura urbana da capital Cidade do México.
sobre o autor
Marcos Guimarães é arquiteto e urbanista (UFMG-Brasil), mestre em arquitetura (UNAM-México / UPC-Espanha) e docente no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de São João del-Rei.