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architectourism ISSN 1982-9930

Sao Luís do Maranhão. Foto Victor Hugo Mori

abstracts

português
O texto relata a viagem a Hull, cidade inglesa que tenta promover-se turisticamente, mesmo sem ter elementos para tal; suas agruras foram agravadas pela crise econômico-financeira de 2008, que realçou o contraste entre o desejo e a realidade local.

english
The journey to Hull shows an English city that tries to promote itself to tourism, without having enough attractions; its hardships were aggravated by the economic crisis of 2008, which highlighted the contrast between desire and local reality.

español
El texto relata el viaje a Hull, ciudad Inglés que se intenta promover turísticamente, aún sin tener elementos para; sus dificultades se vieron agravadas por la crisis económica de 2008, que destaca el contraste entre el deseo y la realidad local.


how to quote

FONTAN KÖHLER, André. Hull: entre o desejo e a realidade. Arquiteturismo, São Paulo, ano 06, n. 071-072.05, Vitruvius, jan. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/06.071-072/4643>.


Em janeiro e fevereiro de 2011, viajei à Inglaterra, dentro do trabalho de campo de minha tese de doutorado. Tive a oportunidade de visitar várias cidades industriais, que, nas últimas décadas, têm formulado e implantado políticas de regeneração urbana – esse é o termo usado por lá – voltadas ao lazer, turismo e entretenimento. Foi possível visitar Sheffield, Manchester, Bury, Salford, Liverpool, Wigan e Kingston upon Hull, vulgo Hull. É sobre a experiência de viagem a essa última que esse texto debruça-se.

Localizada na Região Yorkshire and the Humber, há 02h45 de trem de Londres, Hull conta com cerca de 250.000 habitantes; desde os anos 1930, ela vem sofrendo perdas populacionais. Dentre as cinquenta e seis maiores cidades inglesas, Hull apresenta o segundo maior índice de pobreza, da ordem de 42% do total de habitantes, sendo “superada” apenas por Liverpool. Ao contrário das outras cidades visitadas, ela continua a registrar crescimento do emprego na indústria de transformação, nas últimas duas décadas, fato raro no Reino Unido, devido à importância de seu porto.

Hull não é um destino turístico óbvio. Na Segunda Guerra Mundial, avalia-se que ela sofreu os maiores danos causados por bombardeios no Reino Unido, fora de Londres. Praticamente toda a área central foi destruída ou danificada, tendo sido reconstruída, nos anos 1950 e 1960, através de operações de renovação urbana, que privilegiaram a construção de grandes blocos de apartamentos e escritórios e a expansão e melhoria do sistema viário municipal.

Em recente pesquisa de opinião pública, Hull foi considerado o pior e mais tedioso lugar para se morar, no Reino Unido – feio, boring e sem nada para fazer. A cidade não conta com nenhum monumento ou equipamento cultural importante, nem tem um tema capaz de atrair turistas e visitantes – Beatles (Liverpool), vikings (York) etc. –, tampouco é conhecida fora de sua região. Em York, cinco ingleses desaconselharam-me a visitar a cidade, tendo sido unânime a opinião de que Hull era horrível, e de que eu passaria o dia inteiro sem ver nem fazer muita coisa.

Então, como é passar um dia em Hull como turista? O que a cidade oferece de interessante a alguém particularmente interessado em arquitetura e urbanismo? E o que as autoridades locais têm feito para promover Hull como destino turístico?

Logo ao chegar, é possível ver o esforço para mudar a percepção sobre Hull, através da campanha “Welcome to the new Hull,” que celebra um conjunto de novos equipamentos culturais, shopping centres e remodelações urbanas na área central; há várias placas e cartazes baseados nesse tema, como “Real shopping” e “Real waterfront.” Contudo, grande parte desse material encontra-se deteriorada ou depredada, realçando o contraste entre o desejo de transformar Hull em destino turístico importante e a realidade da cidade, ainda na “ressaca” da crise econômico-financeira de 2008.

Digna de nota é a construção, nos últimos vinte anos, de três shopping centres na área central, com subsídio público. Dado que se assume que fazer compras é o passatempo preferido dos britânicos, prover esse tipo de equipamento virou uma “receita de bolo” nas políticas de regeneração urbana; contudo, não há diferenças entre as lojas encontradas aqui e em Sheffield, Manchester e Liverpool, dada a supremacia das grandes cadeias de loja no varejo britânico. O St. Stephen’s e Prospect substituíram prédios modernistas, dos anos 1950 e 1960; já o Princes Quay destaca-se na área central com sua arquitetura pós-moderna, encontrando-se suspenso por estacas sobre a redundante Prince’s Dock.

O principal logradouro é a Queen Victoria Square, cuja configuração urbana, da primeira metade do Século XIX, foi salva das remodelações dos anos 1950 e 1960. Além do centro de informação turística, localizam-se nela importantes prédios públicos, do Século XIX; contudo, o mais interessante é comparar dois espaços acessíveis pela praça, cujas entradas não distam mais de trezentos metros entre si.

Nos anos 1950, a Queen’s Dock, já redundante e localizada atrás do Maritime Museum, foi aterrada e transformada em um agradável parque público, o maior da área central; o conjunto de armazéns e fábricas a seu redor foi substituído por prédios comerciais e residenciais de arquitetura moderna, sem nenhum destaque individual, o que não tira o encanto de caminhar pelo bem cuidado parque. Já nos anos 1990, a Princes Dock, também já redundante, foi aproveitada para a construção do Princes Quay Shopping Centre, de arquitetura arrojada e voltado a um público mais sofisticado. Não dá para passear pelos dois locais sem pensar em David Harvey, que contrapõe o moderno ao pós-moderno nas políticas urbanas e formas de pensar e tratar a cidade.

De lá, segui ao Museum Quarter; “ilha” de museus criada em 2001, onde visitei o Streetlife Museum, Wilberforce House Museum, Artic Corsair e Hull & East Riding Museum. Não espere encontrar nada de excepcional; todos os equipamentos centram-se em acervos e narrativas regionais. Contudo, as propostas inusitadas valem a caminhada, principalmente o Streetlife Museum. Ele centra-se na história do cotidiano de Hull e região, na primeira metade do Século XX; há a reconstituição de estabelecimentos comerciais, ambientes de trabalho e residências, que tentam mostrar o dia-a-dia das pessoas, mesmo que através de uma “história artefatual,” centrada em objetos originais e reproduções.

Do Museum Quarter, o caminho para The Deep, atração principal (flagship attraction) de Hull, mostra os efeitos da crise econômico-financeira sobre a cidade. O passeio às margens do Rio Hull foi interrompido por uma grade, mesmo com o folder turístico apontando que ele estará pronto, em 2010, sem mostrar caminhos alternativos para The Deep. A ponte de pedestres sobre o Rio Hull, perto do Museum Quarter, também estava inconclusa. Sem indicações de como chegar a meu destino, perambulei por algumas ruas e vielas, deparando-me com uma das maiores concentrações de placas “to let” e “for sale” vistas no Reino Unido, fruto, segundo pesquisado, do sobreinvestimento em escritórios e novos prédios comerciais em Hull.

Por fim, terminei minha visita na orla fluvial, “regenerada” nos últimos dez anos. Foi criada uma atração principal, The Deep, assinada por Sir Terry Farrell, que consumiu aproximadamente £ 50 milhões na criação de um dos maiores aquários do mundo – certamente, a visita vale cada um dos £ 10.50 gastos. Do outro lado da orla, Humber Quays, que previa a formação de um novo quarteirão de negócios, ilustra as consequências da supracitada crise; seus dois prédios de alto padrão encontram-se quase totalmente ociosos.

Vale a pena visitar Hull? Estando perto dela – por exemplo, em York –, sim. Fica patente, em Hull o esforço feito por cidades sem grandes atrativos turísticos, ou mesmo com péssima reputação, para se tornarem destinos turísticos regionais ou nacionais importantes, com todas as agruras e desafios, agravados desde 2008. Aos interessados em conhecer o contraste entre o desejo e a realidade, não se preocupem; as últimas notícias de jornal, lidas em 2012, apontam o corte generalizado de serviços públicos e iniciativas de regeneração urbana, em uma cidade na qual o índice de pobreza atinge quase metade da população.

sobre o autor

André Fontan Köhler é professor assistente do Curso de Bacharelado em Lazer e Turismo da EACH/USP. É bacharel em Administração e mestre em Administração Pública e Governo pela FGV-EAESP. É doutor em Arquitetura e Urbanismo pela FAU/USP, e participa do grupo de pesquisa Da soCIeDADE moderna à pós-moderna: permanências, rupturas, conflitos. Principais interesses de pesquisa: políticas urbanas e turismo cultural e urbano.

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