Quando os Estados Unidos revelaram os arquivos secretos sobre a participação do seu governo nas ditaduras dos países latino-americanos, os documentos chegaram ao público com partes dos textos censurados com tarjas negras. Esta é a matéria prima usada pela artista chilena Voluspa Jarpa, que toma partido do apagamento da memória resultante do documento rasurado: uma imagem que expressa tanto a construção do que é visível como seu anverso, o mundo de sombras e lapsos de um presente cujos fundamentos foram sequestrados.
Histórias de aprendizagem, a obra de Voluspa Jarpa para a Bienal, é uma instalação composta por dois conjuntos de documentos sigilosos referentes a períodos duros da história brasileira: os arquivos da CIA sobre a ditadura brasileira (1964-1985), revelados há alguns anos pelo governo dos Estados Unidos, e os documentos dos serviços secretos brasileiros produzidos durante os mandatos dos presidentes Getúlio Vargas (1951-1954) e João Goulart (1961-1964). Deste último, Jarpa inclui também registros sobre o exílio do presidente deposto no Uruguai e do seu suposto assassinato na Argentina, em 1976, como parte do plano coordenado entre as ditaduras do Cone Sul conhecido como Operação Condor.
Nascida em 1971, a artista passou a infância e a adolescência em um Chile dividido entre apoiadores e resistentes ao governo ditatorial de Pinochet, divisão que se prorroga até hoje, onde as sombras do passado sanguinário e um renitente conservadorismo católico convivem com uma sociedade dinâmica e uma economia neoliberal vigorosa. Ao tencionar e articular distintas representações da história presentes nos meios de comunicação ou na arte, a obra de Voluspa Jarpa fala do Brasil com uma aproximação “estrangeira”, não solidária ao hábito brasileiro de esquecer o que não pode ser esquecido.
sobre a artista
Voluspa Jarpa 1971, Rancagua, Chile. Vive e trabalha em Santiago, Chile. Formada pela Facultad de Arte de la Universidad de Chile, Voluspa Jarpa construiu sua trajetória por meio da investigação teórica e conceitual sobre a pintura e as técnicas de representação. Recentes mostras individuais incluem Secret/Sensitive Eyes Only (2013), Mor Charpentier Galerie, e L’Effet Charcot (2010), Maison de l’Amerique Latine, ambas em Paris, França. Já as exposições coletivas abrangem History’s Mine (2012), Les Abattoires, Toulouse, França; 3ª e 8ª Bienais do Mercosul (2001 e 2011), Porto Alegre, Brasil; e 12ª Bienal de Istambul (2011), Turquia.
sobre os autores
Helena Guerra e Caio Guerra, diretores e roteiristas, sócios da produtora Irmãos Guerra Filmes, são autores de documentários para exposições e curtas de ficção.
Ludovico Schilling é sound designer e produtor de musica eletrônica. Nascido em Milão, atualmente desenvolve pesquisa em Londres.
ficha técnica
texto / vídeo
Helena Guerra
edição
Caio Guerra
som
Ludovico Shilling