Expus anteriormente aqui na revista Arquiteturismo (1) um viés de minhas viagens de formação no México entre os anos de 2000 e 2006, quando mostrei uma parte de meu acervo fotográfico sobre sítios arqueológicos. Nesta ocasião, apresento como continuação um segundo cenário em torno de algumas das principais cidades coloniais do território mexicano.
Como na maioria dos países da América, a colonização europeia no México se deu a partir de finais do século 15. Ao encontrar civilizações que já manipulavam metais e pedras preciosas, os espanhóis paulatinamente se apoderaram do território e impuseram seus padrões. Apesar da resistência da cultura autóctone, as cidades e edificações foram em grande medida (re)construídas nos moldes ibéricos. Os traçados urbanos ortogonais e as plazas mayores predominaram, mas houve também espaço para acomodações. Nesse ínterim, muitos dos templos pré-hispânicos foram demolidos e suas pedras usadas em novas construções, enquanto a arquitetura ordinária se adaptava ao ambiente e incorporava sutilmente a cultura indígena.

Querétaro, rua de pedestres vista desde a Plaza de Armas, 2001
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães
A formação das cidades coloniais mexicanas remonta aos primeiros séculos de ocupação espanhola, o denominado período virreinal, considerando que o país se tornou independente no ano de 1821. Muitos dos núcleos urbanos ainda se encontram bastante preservados, tanto em seus traçados urbanos como em suas edificações institucionais e civis remanescentes.
Rumando para o norte desde a Cidade do México, há um conjunto de localidades que formam um excelente roteiro turístico. A cidade de Santiago de Querétaro, de considerável porte, se apresenta com uma riqueza urbanística e arquitetônica impressionante, com destaque para calçadões, praças e cúpulas a conduzir e orientar os pedestres.

Querétaro, parte traseira do Templo de la Santa Cruz, 2001
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães
Mais adiante, na mesma antiga rota de caminhos, chega-se a San Miguel de Allende, pequena cidade conhecida por seu casario colonial. De fato, chamam a atenção as sequências de paredes pintadas ora em cores de tonalidade pastel, ora com intensos alaranjados, vermelhos e amarelos, em contraste com a cantaria aparente das igrejas.

San Miguel de Allende, casario visto desde o átrio do Templo de la Inmaculada Concepción (Las Monjas), 2001
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães

San Miguel de Allende, Igreja de Nuestra Señora de la Salud, 2001
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães
Seguindo o caminho, desemboca-se na cidade de Guanajuato, palco de importantes acontecimentos no processo de independência do país. O relevo acidentado e o acesso por túneis indicam o seu passado minerador. Tem-se como resultado um traçado urbano sinuoso e intrincado, com pequenas praças disformes e becos que sobem as encostas.

Guanajuato, vista geral da cidade, 2001
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães

Guanajuato, beco com casario tradicional, 2001
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães
Distanciando-se um pouco deste conjunto de belas cidades coloniais, mais adiante em direção a norte, vale a pena mencionar a cidade de Zacatecas, capital do estado homônimo. Percebe-se de imediato uma mudança de cor no ambiente, devido ao uso de uma pedra rosada na arquitetura e em elementos de infraestrutura urbana. Os relevos barrocos das portadas e torres das igrejas saltam à vista.

Zacatecas, Avenida Hidalgo com catedral ao fundo, 2001
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães
Ainda no norte do México, cabe mencionar uma peculiar localidade situada em uma serra desértica. Depois de constituir um importante centro de exploração de prata, a isolada Real de Catorce se tornou um local de peregrinação. A secura do clima rebate nas paredes rebocadas e nos muros de pedra, com destaque para a Capela da Virgem de Guadalupe e respectivo cemitério.

Real de Catorce, cemitério e capela da Virgem de Guadalupe, c. 2003
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães
De volta à referência geográfica da Cidade do México, há duas urbes importantes à mesma distância de duas horas de viagem. Ao sul, em uma pronunciada encosta, Taxco de Alarcón exibe seu suntuoso templo barroco de Santa Prisca.

Taxco, torre do templo de Santa Prisca, 2001
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães
Para leste, em direção ao Golfo, encontra-se Puebla, a quarta maior cidade do país. Seu centro antigo conta com ruas movimentadas que albergam letreiros de comércio, casarios tradicionais e importantes templos católicos.

Puebla, Rua comercial de pedestres, c. 2003
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães

Puebla, c. 2003. Rua com casario tradicional
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães

Puebla, templo conventual de San Francisco, c. 2003
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães
Seguindo desde Puebla para a costa, chega-se à cidade litorânea de Veracruz, onde se sente de imediato uma cultura mais praieira, caribenha. Seu porto dinâmico e suas praças arborizadas ajudam a aliviar o intenso calor. Em todo caso, vale a pena descer cerca de 100 quilômetros pelo litoral e subir o rio Papaloapan até chegar à localidade de Tlacotalpan. Cidadezinha tranquila, de ambiência agradável e marcada por uma cultura pesqueira de beira de água doce, em que se destacam ruas de arquitetura colorida com calçadas protegidas por arcadas.

Tlacotalpan, vista geral com a Igreja de San Cristóbal, c. 2003
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães

Tlacotalpan, edificação com arcadas, c. 2003
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães
Continuando pelo litoral do Golfo, alcança-se a Península de Yucatán, especialmente a antiga cidade fortificada de Campeche. O perímetro amuralhado ainda conserva alguns impressionantes baluartes de pedra. A tradição espanhola também é vislumbrada na Plaza Mayor, no tabuleiro de ruas ortogonais e nos conjuntos de fachadas de topo reto.

Campeche, rua com casario na cidade fortificada, c. 2003
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães
Chega-se então ao sul do México, onde a cultura indígena é mais perceptível do que em qualquer outra região do país. A cidade de Oaxaca, capital do estado homônimo situada a curta distância do sítio arqueológico de Monte Albán, se distingue por suas largas ruas de paralelepípedo exclusivas para trânsito de pedestres. As longas perspectivas causadas pela extrema ortogonalidade do traçado urbano são guiadas por um soberbo casario, praças e templos, com destaque para o ex-convento de Santo Domingo de Gusmán.

Oaxaca, rua de pedestres no centro antigo, c. 2003

Oaxaca, ex-convento de Santo Domingo de Gusmán, c. 2003
Seguindo caminho rumo à Guatemala, a paisagem muda drasticamente, de um clima seco para uma região mais vegetada. Na altitude da localidade de San Cristóbal de las Casas, o peculiar entorno é marcado por montanhas e florestas de coníferas. Aqui é mais comum o uso de arcadas e de beirais nas casas. A cultura indígena se expressa de forma especial nos mercados populares de rua e na arquitetura, a exemplo da catedral com suas cores fortes e estuques de motivos florais e fitomórficos.

San Cristóbal de las Casas, Rua Miguel Hidalgo com Arco del Carmen ao fundo, c. 2003
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães

San Cristóbal de las Casas, arcadas, c. 2003
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães

San Cristóbal de las Casas, catedral, c. 2003
Foto Marcos Vinícius Teles Guimarães
Estas são algumas das muitas cidades coloniais que merecem a atenção do viajante interessado na cultura urbana e arquitetônica do México. Oxalá este relato sirva de motivação e incentivo para viagens turísticas e de estudo. Se antes já incursionamos também nos sítios arqueológicos, fica faltando agora abordar a capital mexicana, a grandiosa Cidade do México.
nota
1
GUIMARÃES, Marcos Vinícius Teles. Viva México! Sítios arqueológicos. Arquiteturismo, São Paulo, ano 05, n. 059-060.02, Vitruvius, fev. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/05.060/4216>.
sobre o autor
Marcos Vinícius Teles Guimarães é arquiteto e professor no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de São João del-Rei.