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architectourism ISSN 1982-9930

Praça Jamaa el-Fna, Marrocos. Foto Victor Mori

abstracts

português
Apresento minhas impressões sobre a 16ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza. Sob o tema Freespace, escolhido pelas curadoras Yvonne Farrell e Shelley McNamara, poucas propostas mostram um enfrentamento das questões políticas contemporâneas.

english
I present my impressions on the 16th edition of the Venice Architecture Biennale. Under the theme Freespace, chosen by curators Yvonne Farrell and Shelley McNamara, few proposals show a confrontation of contemporary political issues.

español
Presento mis impresiones sobre la 16ª edición de la Bienal de Arquitectura de Venecia. Bajo el tema Freespace, escogido por las curadoras Yvonne Farrell y Shelley McNamara, pocas propuestas muestran un enfrentamiento de las cuestiones políticas contemporá


how to quote

MORAIS, Lívia Zanelli de. Arquitetos, política e bienal ou Freespace a 30 euros. Arquiteturismo, São Paulo, ano 12, n. 137.03, Vitruvius, ago. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/12.137/7077>.


A 16ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza foi aberta ao público no último 26 de maio. Freespace foi o tema escolhido pelas curadoras Yvonne Farrell e Shelley McNamara, do escritório irlandês Grafton Architects. O conceito Freespace é bastante amplo e se manteve assim no manifesto das arquitetas, o que resultou em grandes diferenças nas propostas dos pavilhões nacionais – de instalações de arte à exibição pura de maquetes – e também nas demais apresentações da exposição. Este resultado talvez seja reflexo de uma curadoria também livre, o que pode ter seu lado positivo com mensagens mais políticas (mesmo que escassas), mas pode ser contraproducente por deixar de informar o público sobre questões que emergiram na disciplina e também sobre a própria produção desenvolvida nos países participantes desde a última edição, em 2016. Ainda, enquanto temos consciência de certo movimento de volta das fronteiras em várias partes do mundo, esta edição da bienal parece se resguardar de tais questões apresentando projetos de starchitects que trabalham livres pelo globo – pelo menos até o dia em que seus freespaces estejam ameaçados pelos assuntos que eles deixaram de enfrentar.

Imagem do vídeo In Plain Sight, de Diller Scofidio + Renfro
Foto Lívia Zanelli de Morais

Nesse contexto, poucas propostas encaram temas urgentes. Tal foi o caso do pavilhão dos Estados Unidos (Dimensions of Citizenship, curadoria de Niall Atkinson, Ann Lui e Mimi Zeiger) com a ideia de espaço de cidadania que não se restringe ao território americano frente ao complicado cenário político do país. Cidadania como tópico global e crítico com a arquitetura espacializando e tornando visíveis situações de desigualdade no globo aparecem no vídeo In Plain Sight, de Diller Scofidio + Renfro, Laura Kurgan e Robert Gerard Pietrusko com o Centro de Pesquisa Espacial de Columbia – e que se vale como importante meio de atuação política dos arquitetos. Ainda, a fronteira entre México e Estados Unidos é mostrada pelo Estudio Teddy Cruz + Fonna Forman por meio do levantamento de bacias hidrográficas, terras indígenas, corredores ecológicos e padrões migratórios de modo a enfatizar possibilidades de cooperação ao invés da divisão pregada por Donald Trump.

Exposição “Island”, curadoria de Caruso St. John Architects e Marcus Taylor, Pavilhão da Inglaterra
Foto Lívia Zanelli de Morais

Exposição “Island”, curadoria de Caruso St. John Architects e Marcus Taylor, Pavilhão da Inglaterra
Foto Lívia Zanelli de Morais

De outro modo, a proposta do pavilhão da Inglaterra permite múltiplas interpretações por parte do visitante. Seu espaço propositalmente vazio e o terraço panorâmico construído em cima do edifício na curadoria Island (Caruso St. John Architects e Marcus Taylor) acenam temas como isolamento e reconstrução no cenário pós-Brexit. Na fala dos curadores, “uma plataforma, neste caso também literalmente, para um começo novo e otimista... ele está olhando para frente enquanto reconhece o passado, seja bom ou ruim”. Mesmo com a programação de eventos para acontecer no pavilhão, talvez a proposta fosse mais precisa se direcionasse esse debate tão importante, o que parece ser o caso de Eurotopie, no pavilhão da Bélgica. A construção de uma ágora no tom azul da União Européia levanta a pauta clara sobre as políticas do continente em um momento de discussões sobre a volta das fronteiras nacionais e a livre circulação de pessoas. Com curadoria de Traumnovelle e Roxane Le Grelle, a instalação aborda também o papel de Bruxelas como a cidade capital da União Europeia frente a este contexto.

Exposição “Island”, curadoria de Caruso St. John Architects e Marcus Taylor, Pavilhão da Inglaterra
Foto Lívia Zanelli de Morais

O espaço livre para Luxemburgo, ou sua ausência, aparece na proposta The Architecture of the Common Ground (curadoria do Luxembourg Center for Architecture e Master in Architecture of the University of Luxembourg) ao revelar uma situação que acontece em Luxemburgo, Hong Kong e tantos outros lugares do mundo: a privatização da terra em um contexto onde 92% das áreas disponíveis para construção são propriedades privadas. Assim sendo, a curadoria do pavilhão propõe que, embora a questão seja um desafio político, arquitetos podem lidar com o problema também do ponto de vista do projeto elevando edifícios para permitir que as cidades permaneçam abertas, física e simbolicamente.

Exposição “Eurotopie”, curadoria de Traumnovelle e Roxane Le Grelle, Pavilhão da Bélgica
Foto Lívia Zanelli de Morais

A exposição israelense (In Statu Quo: Structures of Negotiation, curadoria de Ifat Finkelman, Deborah Pinto Fdeda, Oren Sagiv e Tania Coen-Uzzielli) mostra a competição por lugares sagrados para religiões e comunidades que se tornaram arenas de disputas e operam por meio de uma teia de negociações e acordos políticos em andamento entre Israel e Palestina, conhecidos como Status Quo. É um espaço que revela como esse fenômeno sócio-político transformou a paisagem local e sugere que a arquitetura, como agente político, tem capacidade de negociar entre diferentes identidades por meio de espaços e possibilidades programáticas contribuindo para que estes lugares históricos possam continuar existindo.

Já o pavilhão filipino, curado por Edson Cabalfin, é o único a refletir sobre condições específicas do sul global. The City Who Had Two Navels destaca dois aspectos em constante diálogo, não só nas Filipinas, mas de modo geral na Ásia, África e América Latina: as forças do colonialismo e do neoliberalismo. A exposição, crítica em relação à imagem de colônia exótica do país, discute como o colonialismo impacta na formação do ambiente construído e como o neoliberalismo altera a paisagem urbana das cidades filipinas. Contemplando a temática da bienal e as dinâmicas da condição pós-colonial, o pavilhão apresenta questões como: Podemos escapar do colonialismo? O neoliberalismo é uma nova forma de colonialismo? – um debate necessário para construção de um pensamento crítico para além do sul.

Como na Bienal de 2016, o Pavilhão do Brasil em 2018 não expõe de modo contundente as questões políticas que marcam o país desde junho de 2013 – e que tem reflexos diretos em nossa disciplina e nas cidades. Mesmo que o nome Muros de Ar carregue em si um tom político (e busca investigar os diferentes tipos de muros que construíram o país), a exposição traz, mais uma vez, projetos de escritórios renomados – a maioria de São Paulo, o que parece não aproveitar todas as possibilidades do primeiro chamamento aberto da história do pavilhão. Entendo a opção por expor a produção recente do país via projetos, mas talvez, pela escolha dos curadores em trabalhar diferentes escalas, os mapas, ponto mais relevante desta edição brasileira, poderiam aparecer em primeiro lugar – estas cartografias com informações demográficas destacam algumas consequências espaciais dos processos de urbanização, como a relação entre os preços das habitações e a propagação do pixo em São Paulo, a abertura do país para imigrantes e o fluxo de materiais e bens de consumo.

Exposição “Star Apatments”, curadoria de Michael Maltzan
Foto Lívia Zanelli de Morais

Sobre os trabalhos dos arquitetos convidados, os holandeses do Crimson Architectural Historians, que trabalham com pesquisa histórica, crítica e prática de arquitetura, manifestam esse viés mais político com o trabalho A city of comings and goings, que aborda as dinâmicas da migração e o impacto espacial destes movimentos nas cidades da Europa Ocidental. Partem do princípio de que migração e cidades são fundamentalmente conectadas, se afastam da ideia de arquitetura como intervenção temporária para repensar como as cidades podem atender as demandas das idas e vindas dos cidadãos ao longo do tempo. Do mesmo modo, no trabalho Star Apartments, de Michael Maltzan, um projeto de moradias de longo prazo para sem-tetos (Los Angeles, 2014), o componente Freespace aparece apresentando novas oportunidades de vida para os moradores e para a cidade em si, uma contribuição importante em tempos de discussões sobre ocupações e direito à moradia, especialmente no Brasil.

Exposição “Across Chinese Cities”, China
Foto Lívia Zanelli de Morais

A respeito das exposições correlatas espalhadas na cidade, estive em três delas. Vertical Fabric: density in landscape mostra a condição urbana de Hong Kong por meio de torres. Assim, 100 arquitetos foram convidados para explorar o conceito freespace na verticalidade. A exibição chama atenção por conta das 100 maquetes apresentadas, mas faz pensar “o que esta exposição faz aqui?”, pois parece mais um exercício de experimentação que tenta se encaixar na temática da bienal – há tantas situações mais relevantes sobre freespace que poderiam ser discutidas em Hong Kong, como a falta de espaços públicos que tornou conhecida a cena de centenas de trabalhadoras domésticas filipinas utilizando o térreo da sede do HSBC como espaço de lazer aos domingos. A mesma falta de conexão com a temática é vista em Young Architects in Latin America, sem tirar o mérito dos bons projetos, a maioria dos trabalhos expostos são casas unifamiliares. Situação semelhante se repete na terceira edição de Across Chinese Cities que em 2018 tem como foco as comunidades informais urbanas e rurais. A exposição é muito bem organizada e fornece grande quantidade de material para análise dos projetos apresentados, mas tem certa visão do norte global que precisa de cautela sob o risco de romantização da informalidade nestas comunidades tão singulares.

Exposição “Across Chinese Cities”, China
Foto Lívia Zanelli de Morais

É curioso que em uma cidade abarrotada de turistas como Veneza, a Bienal parece isolada das multidões. Sem o diálogo com o público externo (ainda mais com o freespace a 30 euros – preço do ingresso para dois dias, o mínimo necessário para ver as exposições do Arsenale e Giardini), a exposição, que sediada em uma cidade turística poderia impactar muita gente, continua como evento da elite da arquitetura. Sem o enfrentamento das questões políticas pela disciplina, não há freespace – o único modo de produzir e preservar espaços livres, já que no manifesto das curadoras, “a arquitetura deve servir a todos”.

Exposição “Across Chinese Cities”, China
Foto Lívia Zanelli de Morais

sobre a autora

Lívia Zanelli de Morais é doutoranda na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e esteve na 16ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza entre 1 e 4 de junho de 2018.

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