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architectourism ISSN 1982-9930

Parque Villa Lobos, São Paulo. Foto Michel Gorski

abstracts

português
Este artigo demonstra a experiência da visitante com os transportes públicos de Barcelona, sua perspectiva em relação às áreas públicas da cidade e a troca que o ambiente urbano proporciona aos seus usuários.

english
This article demonstrates the visitor's experience with Barcelona's public transport, its perspective on the public areas of the city and the exchange that the urban environment provides to its users.

español
Este artículo demuestra la experiencia de la visitante con el transporte público de Barcelona, su perspectiva en relación a las áreas públicas de la ciudad y el cambio que el ambiente urbano proporciona a sus usuarios.


how to quote

CORRÊA, Francis Krausburg. Mobilidade em Barcelona. Arquiteturismo, São Paulo, ano 12, n. 138.02, Vitruvius, set. 2018 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquiteturismo/12.138/7116>.


Tive o privilégio de ganhar uma bolsa de estudos para cursar um semestre da faculdade de Arquitetura e Urbanismo em Barcelona no início do ano de 2013. Foi uma experiência única e fantástica, pois pude aproveitar o tempo para explorar cada canto da cidade. Esse é o tipo de experiência que infelizmente não podemos ter quando viajamos à Europa em férias, já que normalmente passamos poucos (e corridos) dias nas cidades, nos limitando a conhecer apenas os pontos turísticos mais famosos.

Eu nunca viajara em um avião antes, então todas as experiências eram novidade para mim. Saí de Porto Alegre, fiz escala em São Paulo e em Lisboa, para só então desembarcar no aeroporto de El Prat, em Barcelona. Diga-se de passagem, é uma chegada arrebatadora de tirar o fôlego, em que o avião sobrevoa o mar e faz o retorno sobre a água, provendo uma vista panorâmica lindíssima da cidade.

Barcelona, jun. 2013. Vista do aeroporto de El Prat
Foto Francis Krausburg Corrêa

Em um primeiro momento, senti-me completamente perdida e solitária. Pensava “meu Deus, o que eu vim fazer aqui tão longe de casa e sozinha?” Penso que até esse instante não havia caído a ficha da minha escolha. Percebi que não havia feito todas as pesquisas necessárias para iniciar com tranquilidade e segurança a minha aventura pela cidade. Na época eu não possuía um smartphone, muito menos internet no celular, então a alternativa foi o bom e velho método de sair perguntando!

Barcelona, fev. 2013. Foto da Plaza Catalunya
Foto Francis Krausburg Corrêa

Consegui coletar informações para deixar o aeroporto e ganhei o mapa das linhas do metrô da cidade no balcão de atendimento. Do aeroporto à praça central da cidade fui em um ônibus, em um trajeto que durou cerca de meia hora, pois o aeroporto fica em uma região mais afastada do centro urbano. Ao chegar na Plaza Catalunya, pude ter o primeiro contato com a cidade. Percebi se tratar de um importante ponto de conexões, havia diversas paradas de ônibus no seu entorno, de linhas distintas. Mais tarde também observei que se tratava de um marco referencial, principalmente para turistas, que combinavam ali na área central da praça seca o seu ponto de encontro. No piso há o desenho de um grande círculo com uma estrela que lembra uma bússola.

Não foi difícil localizar a estação de metrô, sinalizada com um grande “M”. Apesar da mala grande que eu carregava, foi extremamente simples pegar o metrô. No saguão da estação havia máquinas muito fáceis de utilizar, onde se compravam os bilhetes. Continha modalidades de passes para escolher, variando de uma passagem simples para apenas uma viagem até os bilhetes com passagens para três meses, para uso ilimitado. Isso me surpreendeu muito, uso ilimitado de passagens! Comprei um cartão que custava em torno de 50 euros e eu podia usar o serviço de metrô, ônibus, trem e até o funicular (um carrinho utilizado para subir aclives íngremes, puxado por cabos de aço sobre trilhos de ferro) dentro da cidade, quantas vezes quisesse, todos os dias da semana, durante um mês.

Barcelona, fev. 2013. Foto interior do metrô, painel indicador de estações
Foto Francis Krausburg Corrêa

Na minha opinião, o sistema de transportes integrados de Barcelona (TMB) é incrível, o melhor que já conheci. As estações de metrô são todas diferenciadas umas das outras e cada uma tem suas características particulares, revestimentos e cores para auxiliar aos usuários a identificar a sua localização. Os veículos são muito limpos, possuem em seu interior painéis indicadores das estações, sinalizando com uma luz vermelha as que já passaram e uma luz vermelha piscante a próxima estação, além de ser anunciada também pelo alto falante. Não demorou nada para eu compreender e conseguir utilizar o mapa do metrô com facilidade e precisão. Eu carregava o mapa junto comigo para todos os lugares e era só o que eu precisava. As linhas do metrô são identificadas por cores, sendo onze no total, que cobrem a área de quase toda a cidade. Aquele era o meu mapa da cidade.

Para ir à faculdade eu pegava o ônibus da linha H6. Me admirei muito das paradas de ônibus, algumas eram grandes, com o abrigo, um painel indicativo das linhas que passavam por ali e o tempo restante para a chegada dos próximos ônibus. Outras eram sinalizadas apenas por um totem muito simples, mas que continha um pequeno painel que também mostrava o tempo estimado de chegada do próximo ônibus. Em ambas as situações, os painéis eram alimentados por energia de placas solares instaladas sobre o abrigo ou sobre o totem. No interior dos ônibus e trens (exceto o metrô, que possui o sistema de acesso por catracas), havia uma máquina para validação da passagem. As pessoas deveriam inserir ali o cartão, se não quisessem pagar uma multa de cem euros. Como não há a figura do cobrador, diversas vezes entravam nos veículos os fiscais que pediam às pessoas os bilhetes e verificavam na sua máquina portátil se as passagens eram válidas.

Barcelona, fev. 2013. Equipamento para validação de passagem no ônibus
Foto Francis Krausburg Corrêa

Confesso que eu não conhecia muito sobre Barcelona e seus pontos turísticos antes dessa viagem. Eu sabia que nessa cidade estava localizado o pavilhão de Mies Van der Rohe, muito conhecido entre os arquitetos. Sabia que Antoni Gaudí, arquiteto catalão renomado do século 19, foi autor de importantes obras, sendo que a mais famosa, o templo da Sagrada Família, permanece em construção até hoje. Também havia estudado nas aulas de arquitetura sobre a malha urbana proposta pelo Plano Cerdà, com a configuração reticulada e o formato geométrico bem alinhado dos seus quarteirões, cortados por grandes avenidas que direcionam os fluxos na cidade. Estando lá, pude vivenciar exatamente isso, a organização da cidade, onde seus fluxos são bem definidos e o sistema de transporte público funciona perfeitamente (jamais senti falta de utilizar carro) e cada cantinho da cidade, cada parque e praça é bem cuidado e possui uma identidade.

Barcelona, abr. 2013. Funicular de Tibidabo
Foto Francis Krausburg Corrêa

Através dos passeios de ônibus e a pé que eu fiz, pude identificar diversas características dessa cidade. A iluminação pública foi algo que me chamou muita atenção. Não há postes com transmissão de energia e fiação, tudo é subterrâneo. Apenas os postes de iluminação se sobressaem, deixando a paisagem de ruas e avenidas incrivelmente limpa. Com exceção de alguns pontos e avenidas turísticas, como Passeig de Gràcia por exemplo, os passeios públicos possuem a pavimentação padronizada em formato quadriculado, e na minha permanência lá pude entender o porquê: quando eram realizadas manutenções nas redes enterradas, o pavimento era recortado exatamente nas linhas das retículas, para que depois pudesse ser recolocado o piso na mesma posição em que fora recortado, a fim de manter o padrão original. Também não se via carros estacionados nas ruas, o sistema de estacionamento em Barcelona é predominantemente subterrâneo, dividido em várias praças de estacionamentos, o que nos proporciona uma visão ainda mais limpa e ampla dos espaços públicos. São estes pequenos detalhes que provêm diferenciais grandiosos às cidades, aliados, é claro, à limpeza impecável dos ambientes públicos.

Ao final da minha estadia, senti a necessidade de desenhar um mapa mental de Barcelona, para que me ajudasse a recordar dos lugares que eu não queria esquecer. Nele coloquei as linhas de metrô, separadas por suas respectivas cores e descrevi o nome das estações que mais utilizei, juntamente com os locais aos quais elas dão acesso, lugares muito especiais e que marcaram profundamente a minha memória, em especial os parques (contarei mais sobre eles em outra oportunidade). Meu sentimento de pertencimento àquela cidade permanece até hoje, um lugar que dá vontade de manter, cuidar e preservar.

Barcelona, jun. 2013. Mapa mental da cidade elaborado à mão
Foto Francis Krausburg Corrêa

sobre a autora Francis Krausburg Corrêa é ormada em Arquitetura e Urbanismo pela Unisinos de São Leopoldo, com intercâmbio acadêmico pela Universitat Ramon Llull de Barcelona e especialização em Construção Civil pela Unisinos.

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138.02 transporte público
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