Na manhã de 03 de setembro de 2018, dia em que regressei de uma viagem de duas semanas entre Portugal e Itália, acordei com a notícia do incêndio no estimado Museu Nacional localizado na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro. Chorei pela perda imensurável do acervo, sem acreditar no que estava acontecendo e, durante o voo para o Brasil, refleti sobre tudo que vi naquela curta – e revigorante – viagem, principalmente acerca de como lidamos com nosso patrimônio, em especial museus e sítios históricos urbanos.
É comum encontrarmos entraves no que se refere a intervir no patrimônio histórico. Acredite, já fui questionada se “vale a pena mesmo descaracterizar o patrimônio” para torná-lo minimamente acessível. Temos legislação que garante o direito de ir e vir e conhecimento sobre como adaptar. Cabe destacar que o Brasil é um dos países com maior e melhor legislação sobre acessibilidade das américas. Então, o que está faltando?
Pude observar pessoalmente como algumas cidades da Europa têm tratado questões relativas à inclusão, através da fruição de dezenas de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida de todo tipo, como cegos, cadeirantes, mães e pais com carrinho de bebê, turistas com malas e estrangeiros. Sim, estrangeiros. Não basta ser acessível fisicamente, livre de barreiras arquitetônicas, é imprescindível que o espaço comunique e informe o necessário para que qualquer indivíduo compreenda onde está, como chegar à determinado destino e como utilizar os espaços, equipamentos e mobiliários, com segurança, conforto e autonomia.
Não vou dizer que lá está tudo perfeito e completamente acessível, mas é notável como está à frente da realidade dos sítios históricos e museus brasileiros. Embora o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan do Brasil tenha publicado um Caderno Técnico sobre Mobilidade e Acessibilidade Urbana, com diretrizes para adaptação de bens tombados, percebe-se que na prática pouco é aplicado. Encontrar soluções acessíveis, e viáveis de serem aplicadas, confirma que é possível promover inclusão e reforça a importância de nos adaptarmos.
sobre a autora
Larissa Scarano Pereira Matos da Silva, Arquiteta e Urbanista (2012) e Mestre em Arquitetura e Urbanismo (2014) pela UFPB, atualmente cursa Doutorado em Arquitetura e Urbanismo na UFBA, e é pesquisadora de Acessibilidade e Ergonomia no Ambiente Construído.