O Porto de Santa Catarina era o melhor porto natural entre o Rio de Janeiro e o Rio da Prata. A grande Baía formada entre a Ilha de Santa Catarina e o continente oferecia águas calmas e enseadas protegidas dos ventos predominantes, com um acesso franco. Rios e florestas ofereciam água pura e madeiras de lei em abundância. Muitos navegadores na rota do Atlântico Sul vislumbraram ali um futuro grandioso: com a organização adequada esse viria a ser o principal porto da América do Sul.
Essa generosa Baía recebeu a visita de navegadores de várias nações, nem sempre amistosos, o que tornava difícil o crescimento da Vila de Desterro, que, densa de histórias terríveis, vivia em clima de insegurança. Por esses motivos, a partir de 1739, o Império português passa a organizar a proteção da Ilha de Santa Catarina. A Fortaleza de Santa Cruz do Anhatomirim foi planejada pelo Brigadeiro José da Silva Paes como centro de comando do sistema defensivo da Ilha, e foi também a primeira sede de governo da Capitania, recém desmembrada de São Vicente.
Mais do que uma edificação, tratou-se de planejamento em escala territorial, que deu conta de toda Ilha de Anhatomirim. O acesso é feito por um conjunto de clara intenção plástica, formado pelas muralhas, a grande escadaria de Pedra Lioz portuguesa, e o inusitado Portão Oriental. O núcleo central é composto por um pequeno Largo, demarcado pela Casa de Governo e pela antiga Capela (demolida), associando o poder político e religioso num dos pontos mais altos da ilha. O edifício do Quartel da Tropa, voltado para o Mar, é o mais imponente de todo o conjunto, com 70 metros de largura, foi construído sobre um pé direito duplo sustentado por arcadas, que suportam um vão de quase 8 metros. Quartel de soldados com feição de palácio, ficava de frente para o Porto e era visível ao longe pelos navios que se aproximavam.
A visão de uma pequena cidade junto ao mar.
A história contradisse os cronistas, e outros portos ganharam mais relevo do que o da Ilha de Santa Catarina. Assim a Fortaleza da Ilha de Anhatomirim manteve a feição que lhe foi imposta por Silva Paes, em 1739: a de uma cidadela colonial congelada no tempo, no instante de seu nascimento.
sobre os autores
Ronaldo Azambuja é fotógrafo e mora em Florianópolis, Estado de Santa Catarina.
João Serraglio é arquiteto, sócio da Loto Arquitetos, e coautor de Hans Broos: memória de uma arquitetura (Edição do Autor, 2018).