Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

architexts ISSN 1809-6298


abstracts

português
O arquiteto mineiro João Diniz fala do amigo Éolo Maia e dos tempos indefinidos de pós-tudo, quando a arquitetura brasileira adotou uma postura irreverente e colorida, mas também profissional e comprometida

english
The architect João Diniz speaks of his friend Éolo Maia and of the times indefinite post-everything, when the Brazilian architecture has taken a colorful and irreverent, but also professional and committed


how to quote

DINIZ, João. Encontros com Éolo Maia. Arquitextos, São Paulo, ano 03, n. 030.07, Vitruvius, nov. 2002 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/03.030/734>.

– Eu peguei um ônibus em Ouro Preto... Éolo sempre dizia quando exaltado,como se os cento e poucos quilômetros que separam aquela cidade de Belo Horizonte, significassem uma longa travessia: A passagem da herança barroca a uma vislumbrada contemporaneidade, a ponte entre o passado e o novo tempo, a estrada entre o jovem e o homem eterno.

E ele queria ir além e foi. Quando o conheci às 11 da manhã chegando apressado ao mercado do Cruzeiro, cabelo molhado saído do banho que amanhece a longa noite, estava animado em poder mostrar sua obra aos estudantes. Naqueles tempos indefinidos de pós-tudo vi que a arquitetura e o arquiteto podem ser alegres livres, irreverentes, coloridos e brasileiros, mas também técnicos, profissionais, comprometidos e profundos.

Aprendi com ele o hábito da amizade entre colegas. A crença no presente, na fraternidade, na capacidade brasileira, na força de nossa mão, de nossa palavra, e de nosso lápis. Entendi que o cenário para a celebração da vida pode estar na prancheta, no bar, nas festas, nas ruas, nos desenhos, nos poemas, na musica, nas viagens, nos livros, nas construções, mas deve estar antes dentro da própria pessoa.

Momentos intensos permanecem ainda vivos como: quando me questionava, instigava, criticava, ou incentivava; quando me apresentou a primeira escultura do Aleijadinho; quando me homenageou desenhando obras minhas; quando tomávamos uísque e falávamos horas ao telefone; quando uivamos para a cordilheira em Santiago; quando buscávamos as crianças no colégio; quando planejamos o livro O arquiteto feliz; quando tocou bateria num bar em São Paulo,

E também, quando abandonou os maestros em Buenos Aires para comer um macarrão barato com os jovens;  quando desenhávamos nos bares de Düsseldorf, de Colônia, de Rotterdam, de Delft e de Recife; quando choramos juntos minutos antes de nossa palestra na Alemanha ao ouvir a música “...ê Minas, ê Minas...”; quando respeitosamente conversávamos sobre a vida com as prostitutas na avenida Afonso Pena; quando reunia em sua casa pessoas queridas suas para se conhecerem, conspirarem e gargalharem...

Somos um bando forte, formamos um polígono afetuoso. Jô colega namorada e alma gêmea, Marisa, Veveco, Gustavo, Graça, Chumbinho, Isabel, Altino, Lelena, Eurípdes, Telma, Carmen, Alexandre, Robin, Jorge, Eugênia, Sylvio, Gaby, Adriana, Bruno, Amilcar, Thomas, Terezinha, Juarez, Flávia, Toninho, Marcílio, Beth, Flávio, Lúcia e muitos outros... E os meninos e meninas que vêm junto, e os novos amigos que surgirão e confiam que, antes da arquitetura vem a vida, antes das obras estão os homens, antes dos desenhos nascem as idéias, antes da certeza está a busca.

De repente a vida passa e ficam lembranças. Nosso amigo se foi e estamos aqui lutando por ele. E lutando por nós e nos divertindo com a existência. Fica pulsante a idéia forte de sua luz polêmica, de seu discurso provocante, de sua opinião contundente. Muito se fala sobre ele agora, revistas, sites, jornais reconhecem sua figura, seu rigor, seu ciclo concluído. O mundo ao mesmo tempo é um aliado e um adversário. Nunca entenderão sua voz os vendidos, os fracos, os sonolentos, os falsos, os fáceis, os baratos, que infelizmente detêm um poder fugaz, lesgilam a fraqueza e vendem a descrença.

Esse é o nosso tempo, nele viveu Éolo. Apesar do conflito indicou o otimismo; apesar da incompreensão deixou lições; apesar das dificuldades mostrou caminhos; apesar das patrulhas foi gentil; apesar das badalações foi humilde. Fica conosco sua aura, não adianta seguir seu caminho porque sua lição é que cada um siga o próprio rumo, seja si mesmo, autêntico, único, original, radical.

– Não morro, nem morto!, costumava dizer nos últimos tempos, e é verdade. Uma pessoa se vai, mas ficam os afetos, as idéias, os sonhos, as lembranças, as inspirações, as imagens sutis. As obras, os edifícios, a matéria são fortes sinais, lindos sinais.

sobre o autor

João Diniz é arquiteto em Belo Horizonte.

comments

030.07
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

030

030.00

Depoimentos de uma geração migrante (editorial)

Abilio Guerra

030.01

Kenzo Tange e uma peniche no rio Sena

Geração Migrante – Depoimento 1

Francisco Spadoni

030.02

Em Paris, chez Christian de Portzamparc

Geração Migrante – Depoimento 2

Otavio Leonidio

030.03

Arquitetura e criatividade: uma experiência com Massimiliano Fuksas

Geração Migrante: depoimento 3

Assunta Viola

030.04

Expo.02 - ImagiNation ou nação imagética

Inês Moreira

030.05

Arquiteto Miguel Forte, 1915-2002

Mônica Junqueira de Camargo

030.06

Éolo Maia, Quixote tropical

Álvaro (Veveco) Hardy

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided