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architexts ISSN 1809-6298


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NASCIMENTO SAINT CLAIR DOS SANTOS, Roberta. Novas tecnologias versus desenvolvimento urbano. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 039.06, Vitruvius, ago. 2003 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/04.039/662>.

“A cidade e a telemática são hoje amálgamas que interagem. A cidade é a concentração física que ajuda a superar as restrições de tempo minimizando as limitações de espaço. As telecomunicações, por sua vez, superam as restrições de espaço pela minimização do tempo, interligando pontos distantes à velocidade da luz” (1).

O grande desenvolvimento das tecnologias, principalmente na área das telecomunicações vem causando sucessivas modificações não só nas formas de comunicação, mas também nas relações de trabalho, comércio e no convívio social. É através da abordagem do espaço virtual que estão surgindo às novas formas de relações sociais. É certo, que os nossos relacionamentos primários – com os filhos, empregados e agregados – continuarão intensos e baseados no cara a cara doméstico. Mas todos os demais tipos de relacionamento – em especial aqueles ligados à vida profissional – deverão passar por mudanças afetadas de alguma forma pelas novas tecnologias. Sendo a cidade o abrigo de nossas vidas, de nossas relações sociais, é inevitável que as absorva e acabe também, sofrendo modificações.

Assim, uma das primeiras perguntas que podemos fazer ao pensar a relação das novas tecnologias com a formação dos espaços urbanos, é até que ponto elas interferem ou podem vir a interferir nessa formação. Há quem acredite que o avanço das tecnologias pode transformar as cidades em ‘cidades fantasmas’. Mas até que ponto bastaria apenas o avanço das tecnologias para que uma cidade, cheia de vida e movimento, venha a se transformar em uma cidade fantasma, substituindo os deslocamentos físicos pelos virtuais?

É fato que como seres humanos temos a necessidade do contato físico. Não há ainda nada que substitua o prazer e o enriquecimento que podemos obter com a convivência em espaços urbanos acolhedores (2). Com isso, podemos dizer que, embora não seja imperativo, o lugar continuará existindo e tendo o seu poder, sua atratividade e mesmo a sua necessidade.

Talvez então, a transformação lenta das cidades atuais em cidades fantasmas que alguns estão prevendo nem venha a acontecer, mas o fato é que o simples questionamento de sua possibilidade já serve para nos responder a uma questão: hoje as novas tecnologias são, sem sombra de dúvida, um agente urbano importante ao se pensar na formação e transformação dos espaços urbanos, que sofrem também com a influência direta de outros agentes, como é o caso da violência.

Ao observar o passado, podemos encontrar nele a causa para a maioria dos problemas urbanos encontrados no Brasil hoje. A história da evolução do urbanismo e da arquitetura no Brasil culmina na vontade atual de superar o Modernismo, vontade essa que ainda esbarra e gera problemas que não foram resolvidos pelo próprio modernismo.

É possível dizer, que o início da desorganização urbana no Brasil, se dá com as capitanias hereditárias, que não foram nada mais do que uma forma rápida, mas irresponsável, de resolver o problema de ocupação territorial do Brasil. Quase o que acontece hoje com a telefonia, as comunicações e outras. O que Portugal não viu e que continuou sem importância foi que sem a presença do Estado não há controle. Hoje nos encontramos em meio a um caos urbano. A violência assola a maioria das grandes cidades, que ainda tem que enfrentar problemas de infra-estrutura e população.

Os problemas urbanos no Brasil “[...] não foram equacionados corretamente: um poder público despreparado para enfrentar a nova situação regia-se sobretudo pelos interesses imediatos dos agentes economicamente dependentes do processo de produção da cidade – como promotores imobiliários, loteadores, empresários de ônibus, indústria automobilística e empreiteiros de obras públicas - ,mesmo quando uma burocracia estatal emergente ligada ao planejamento urbano propunha, no nível da retórica ou mesmo de planos natimortos, diretrizes que buscavam equacionar a longo prazo os problemas das cidades” (3).

Já é possível observar hoje um movimento de saída dos grandes centros em busca de cidades menores que ofereçam uma melhor qualidade de vida. Essa migração esta ocorrendo principalmente por parte de uma população mais abastada, com melhores condições e por tanto com um maior mobilidade, que de posse das ‘novas tecnologias’, abre mão de morar em um grande centro e se muda para uma cidade que na hierarquia das cidades é mais baixa que a sua de origem.

Mas porque se acredita que as novas tecnologias são um fator importante? A resposta é simples, com as novas tecnologias é possível encurtar distâncias, é possível ter acesso a tudo que se deixou para trás na cidade grande sem grandes dificuldades. Com a nova realidade, o lugar já não importa mais, não traz nenhuma imposição, basta que o local esteja eletronicamente interconectado. O lugar de trabalho, por exemplo, pode ser a residência. Isto é, pode voltar a ser a casa, como já aconteceu no passado, antes da Revolução Industrial. E essa transformação simples já está acontecendo em muitos lares (4).

Um exemplo dessas migrações pode ser observado na cidade do Rio de Janeiro, que atualmente vem sofrendo bastante com a ação pesada dos agentes urbanos, principalmente a violência, o que leva a cidade a passar exatamente por esse processo de esvaziamento, para não dizer fuga, da população para cidades menores perto do Rio, como é o caso das cidades da região serrana do estado do Rio.

A contra urbanização e a cidade Imperial de Petrópolis

Nos últimos anos, muita atenção se tem dado à questão do desenvolvimento urbano, principalmente nos grandes centros que a cada dia sofrem mais com os problemas gerados pelo descaso com que a prática do urbanismo tinha sido tratada até agora. Colocando as discussões sobre os diferentes pontos de vista que envolvem o assunto à parte, é inevitável a seguinte pergunta: Que tipo de desenvolvimento urbano vem sendo realizado no Brasil?

De certa forma, podemos dizer que um novo modo de desenvolvimento já vem sendo posto em prática. Pouco a pouco, os chamados movimentos pendulares, deslocamento da população para ir trabalhar ou ter lazer em um local diferente de onde tem a sua residência, começam a diminuir. É cada vez mais comum ver pessoas optando por trabalhar próximas ao seu local de trabalho ou vice-versa, fugindo assim dos congestionamentos e ganhando tempo para praticar exercícios e outras atividades. Procurando uma melhor qualidade de vida.

É justamente essa busca pela qualidade de vida que movimenta esse modo novo e ao mesmo tempo gera também indícios de um movimento para a criação de um outro modo de desenvolvimento paralelo a este novo. Desiludidas com a cidade grande, que mesmo com mudanças não atende mais a todas as suas expectativas, uma parte da população começa lentamente a buscar sua qualidade de vida fora dos grandes centros urbanos.

Essas migrações podem ser chamadas de contra-urbanização, que segundo Alberto Jakob, seria um êxodo em grande escala dos cidadãos, com melhores condições financeiras, da cidade para povoados menores e regiões rurais, em parte devido aos impactos negativos de crescimento da cidade; o que estaria levando a uma polarização sócio-espacial e a um enfraquecimento do capital humano das cidades. Este autor coloca também que as famílias que possuem crianças em idade escolar formam a força primária na contra-urbanização, em sua busca por casas maiores e mais espaço (5).

Esse é o caso da cidade de Petrópolis, cuja proximidade com a cidade do Rio de janeiro e sua localização privilegiada - é ligada, através da rodovia federal BR-040, às principais estradas de escoamento de produção do Brasil e além do acesso à região Metropolitana do Rio de Janeiro e à Juiz de Fora e Belo Horizonte, em Minas Gerais, conta ainda com o entroncamento da BR-393 no município vizinho de Três Rios, possibilitando o acesso a São Paulo e também ao Nordeste do Brasil – a torna um dos alvos das migrações.

Com uma breve pesquisa nos distritos de Petrópolis é possível observar, principalmente em Itaipava, que eles apresentam um crescimento cada vez mais significativo de moradores residentes e não só veranistas. Essa observação traz junto com ela algumas perguntas fundamentais para os questionamentos aqui expostos: serão essas pessoas realmente oriundas da cidade do Rio de Janeiro? Se sim, por que elas resolveram se mudar?

É um fato, que a vocação econômica natural de Petrópolis em abrigar setores de tecnologia de ponta, o interesse dos administradores públicos em levar essas potencialidades à frente e a proximidade com a cidade do Rio de Janeiro, atraem cada vez mais pessoas para cidade e muitas delas são sim do Rio de Janeiro, porque encontram na cidade imperial o lugar ideal para obter a qualidade de vida que procuram, sem com isso abandonar de vez o Rio de Janeiro.

No entanto é necessário ainda, um estudo mais profundo para avaliar até que ponto a contra urbanização Rio-Petrópolis já existe e que influências ela pode trazer para a cidade Imperial, já que essas migrações podem gerar um novo tipo de organização urbana. Um novo modelo diferente do que temos no Rio, já que essas pessoas se mudam justamente por rejeitarem o modelo implantado atualmente no Rio (6).

notas

 1
GRAHAM, Stephen & MARVIN, Simon. Telecommunications and the City. Londres, Routledge, 1996.

2
WILHEIM, Jorge. Tênue esperança no vasto caos. São Paulo, Paz e Terra, 2001. p. 35

3
NABIL, Bonduki. Habitar São Paulo: reflexões sobre a gestão urbana. São Paulo, Estação Liberdade, 2000. p. 20

4
MORENO, Júlio. O futuro das cidades. Editora Senac São Paulo. São Paulo, 2002. p. 103

5
JAKOB, Alberto Augusto Eichman, Urban Sprawl: custos, benefícios e o futuro de um modelo de desenvolvimento do uso da terra. Campinas, Anais do Abep 2002, Unicamp.

6
Os seguintes livros são também referências para este artigo: a) LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Belo Horizonte, UFMG, 1999; b) MAZZEO, L. Evolução da Internet no Brasil e no Mundo. Ministério da Ciência e Tecnologia – Secretaria de Política de Informática e Automação, abril 2000; c) PINHEIRO, Mauro. O impacto social das novas tecnologias no Brasil e no Mundo (trabalho apresentado durante o congresso Miscelânea Virtual). PUC, março 1999.


sobre o autor

Roberta Nascimento Saint Clair dos Santos é arquiteta e urbanista, pesquisadora do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ.

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