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architexts ISSN 1809-6298


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Um sólido branco pousado no cume de uma colina, uma sugestão platônica para um ambiente doméstico, eis a entrada da crítica de Ricardo Carvalho para esta recente obra dos irmãos Aires Mateus


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CARVALHO, Ricardo. A casa elementar. Casa na costa alentejana de Manuel e Francisco Aires Mateus Arquitetos. Arquitextos, São Paulo, ano 05, n. 052.02, Vitruvius, set. 2004 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/05.052/546>.

Nesta parte da Costa Alentejana existem várias casas abandonadas dispersas pela paisagem. Os vestígios de cal ainda resistem em muitas delas, envolvendo as espessas paredes, apoiadas por contrafortes, desproporcionados em relação à modesta dimensão das construções. São volumes elementares com poucas aberturas e que estabeleceram com a paisagem, eventualmente como as pessoas que neles habitaram, uma relação de total reciprocidade. Dir-se-ia que estão, no seu abandono lacônico, o mais distante possível da contemporaneidade, esta última muitas vezes associada a construções diáfanas em vidro, tecnologicamente sofisticadas. A casa concebida pelos arquitetos Manuel e Francisco Aires Mateus, sendo inequivocamente contemporânea, nas suas qualidades e limitações, é o resultado de um olhar atento, e nada nostálgico, sobre essa forma secular de habitar a paisagem.

Quando se avista ao longe, surge como um sólido branco pousado na linha de festo de uma colina. Não existem quaisquer aberturas. A sugestão platônica – um sólido branco com uma escala doméstica – não impede que se adivinhe que se trata de uma casa. Habitar significa neste caso, e em geral no percurso recente destes arquitetos, uma procura serena pela elementaridade, pela redução ao mínimo dos elementos que compõem a casa. Para que se construa apenas o essencial e se relativize, tanto quanto possível, a impressão digital do passageiro e do sazonal. Nesta casa a “idéia” sobre um modo de habitar ganhou materialização, fato pouco habitual na arquitetura portuguesa, pelos pressupostos de radicalidade que esta passagem habitualmente implica.

Adivinha-se um sentido de “espaço escavado” no interior; paredes espessas e recurso a poucos materiais. Mas não é só isso. As duas portas de madeira (na verdade dois pesados painéis que correm elegantemente), uma orientada a nascente, a outra a poente, quando abertas, permitem uma nova complexidade. A casa pode estar totalmente aberta ao exterior, e em simultâneo ser um organismo de espaços escavados na massa “branca”. E nesta dualidade, entre máxima permeabilidade com a paisagem e máxima introspecção, reside a sua riqueza conceptual e espacial.

No interior os arquitetos introduziram um elemento imponderável: um pátio ao centro da casa, em relação ao qual todos os espaços de disponibilizam. Não é o pátio habitualmente visto nas arquiteturas mais recentes, aberto à casa. Aqui este elemento vai impedir que a casa seja atravessada com olhar, funciona novamente com o sentido de muro e de espessura. Trata-se de um pátio próximo da arquitetura arcaica, do mundo mediterrâneo; está fechado sobre si próprio, abrindo-se apenas à face sul, revelando uma árvore no exterior. A luz, manipulada serenamente, invade o interior completamente branco. Esta estratégia vai repetir-se numa trama de pequenos pátios que iluminam todos os espaços domésticos – quartos, casas de banho e cozinha – e permitem relações voyerísticas entre si.

A luz é definitivamente o tema eleito neste projeto. No exterior é um sólido idealizado sob o Sol. No interior, mais do que a óbvia tentativa de flexibilidade funcional dos espaços, através das proporções dos espaços e de uma luz onipresente e difusa, trata-se de uma relação simbiótica entre essa luz e um sentido de escavação: novamente de um tema arcaico. O arquiteto espanhol Alberto Campo Baeza escreveu, num pequeno texto intitulado “Em torno da Luz”, “Podemos dizer que a chave reside na compreensão profunda da luz como matéria, como material, um material moderno”.

notas

1
Publicação original: CARVALHO, Ricardo. "Vista para a planície". Lisboa, Linha, encarte do Jornal Expresso, 29 nov. 2003, p. 46-52.

Ficha técnica

Projeto
Casa Barreira Antunes, Alentejo, Portugal

Localização
Grândola

Data
2000

Arquitetos
Manuel Aires Mateus e Francisco Aires Mateus

Colaboradores
Patrícia Marques e Maria Rebelo Pinto

Mobiliário
"A linha da vizinha"

Cadeira
"MU – concepção e comercialização de manufacturas e utilidades" – cadeira "Bakara"  Pedro Silva Dias

Fotografia
Fernando Guerra

Produção fotográfica
Sérgio Guerra

sobre o autor

Ricardo Carvalho é arquiteto.

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