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architexts ISSN 1809-6298


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Paulo Afonso Rheingantz faz neste artigo uma leitura da enseada de Botafogo, na qual procura diferenciar hábitat “civilizado” de um ambiente construído cada vez mais despersonalizado e desconfortável


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RHEINGANTZ, Paulo Afonso. Observação incorporada da Enseada de Botafogo, Rio de Janeiro. Arquitextos, São Paulo, ano 07, n. 084.03, Vitruvius, maio 2007 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.084/246>.

“O desprezo pela natureza foi tão grande que nem as montanhas escaparam e a linha barroca e magnífica que as ligava ficou perdida entre os prédios próximos delas construídos. E os passeios, os pontos pitorescos, os panoramas esplêndidos que ofereciam, fracionaram-se entre os altos edifícios que o Carlos Lacerda, num dia de confraternização imobiliária, resolveu aprovar” Oscar Niemeyer, Rio (2)

Introdução e bases teóricas

Diferentemente da visão de mundo fundada na noção de um universo orgânico, vivo e espiritual, a “Revolução Científica” dos séculos XVI e XVII propõe uma nova visão, também conhecida como cosmovisão cartesiana, que considera a Terra matéria inerte a ser explorada e manipulada e o ambiente construído, um “mundo morto”, inanimado, fragmentado, que pode ser estudado e manipulado para os propósitos humanos.

Acreditando na crença de Bacon, de que poderia “forçar a natureza a revelar os seus segredos ao homem”, o homem desenvolve um poderoso método “reducionista” de investigação e a ciência passa a oferecer ao homem um mundo morto no qual “extinguem-se a visão, o som, o sabor, o tato e o olfato, e junto com eles vão-se também as sensibilidades estética e ética, os valores, a qualidade, a alma, a consciência, o espírito” (3).

O paradigma cartesiano, o capitalismo, a industrialização e a urbanização produzem profundas modificações na dimensão cultural do ambiente e o espaço passa a ter a função de distribuição ordenada dos indivíduos e dos serviços e a nova arquitetura se desenvolve fora dos padrões tradicionais, subvertendo o saber anterior. A qualidade do ambiente construído independe cada vez mais das relações entre cultura e geografia, e o homem entra em uma espécie de “transe” tecnológico e acaba produzindo violenta perda na dimensão cultural da cidade, produto do conhecimento acumulado por sucessivas depurações às diferentes condições climáticas, através da ação solidária e continuada dos seus habitantes.

Partindo desta problemática, neste trabalho procuro estabelecer as bases para uma abordagem capaz de contribuir para superar o equívoco que faz com que as pessoas confundam hábitat “civilizado” com um ambiente construído que se torna cada vez mais despersonalizado e desconfortável.

A cidade do Rio de Janeiro é um bom exemplo deste processo de degradação das tradições culturais da arquitetura e da paisagem natural. Situada em uma baía de beleza exuberante, e marcada pela luta para transformar em planície “as colinas e os vales, avançando sobre os brejos, os mangues e também sobre a montanha e fazendo recuar a linha do litoral” (4), sua história confirma o desejo de submeter a natureza aos caprichos do homem.

A “fúria urbanística” (5) testemunha “o trânsito perverso de um progresso que fomenta, em nome do moderno, a transformação grosseira e desnecessária da fisionomia da cidade” (6). A julgar pela opinião dos cariocas, que consideram as belezas naturais a maior qualidade da cidade e a praia como seu programa favorito (7), o Rio de Janeiro está diante de um novo dualismo: o reconhecimento da beleza natural como o maior patrimônio da cidade convive com um processo de verticalização que substitui a paisagem natural por uma paisagem construída “sem alma” e “sem encanto”.

Até onde a cidade e sua arquitetura continuarão a reproduzir a “lógica do excesso” da produção econômica que transforma a destruição em seu objetivo – destruir para controlar efetivamente o crescimento e administrar o excedente (8) – limitando a função do espaço à sua função distributiva e substituindo os limites naturais e culturais do hábitat pelos limites técnicos, econômicos e políticos – tornando seus lugares impessoais, desumanos e frios, mas “civilizados”?

Ao propor seu Paradigma Social – “uma constelação de concepções, de valores, de percepções e de práticas compartilhadas por uma comunidade, que dá forma a uma visão particular da realidade” (9) – Capra introduz a concepção de “comunidade” e “rede” ao pensamento sistêmico e, ao substituir o termo sistêmico por social, expande os horizontes do conceito de sociedade sustentável e de projeto participativo.

Crítico do conhecimento científico moderno – “um conhecimento desencantado e triste que transforma a natureza num autômato” (10) –, Boaventura Santos recoloca o pesquisador como sujeito da aventura do conhecimento, ao reconhecer o “caráter autobiográfico” e “auto-referenciável” da ciência, construído através da imaginação pessoal e dos critérios estabelecidos pelo próprio cientista e resgata a interação dialética sujeito/objeto ao reconhecer que o ato e o produto do conhecimento são inseparáveis.

Ilya Prigogine e Isabelle Stengers (11) sugerem uma “nova aliança” do homem com a natureza que ele descreve, que busque compartilhar uma visão da ciência, em lugar de uma visão de ciência e que, a exemplo da arte e da filosofia, se transforma em uma experimentação “criadora de questões e de significações”.

Humberto Maturana e Francisco Varela (12), por sua vez, consideram a cognição como “uma atividade contínua de criar um mundo por meio do processo de viver” (13): “viver é conhecer” e inclui a percepção, a emoção e o comportamento.

A seguir, procuro retratar a influência do olhar compreensivo do sujeito da criação científica – que é autobiográfica, auto-referencial e não é neutra –, que possibilita ao texto assumir uma postura mais contemplativa, socializadora e subjetiva.

Como procedimento de análise, utilizo a observação incorporada, designação adotada pelo grupo Projeto e Qualidade do Lugar do Programa de Pós-graduação em Arquitetura da FAU/UFRJ, derivada dos passeios à deriva que se baseia no entendimento de que a realidade é sempre um argumento explicativo, e que “as explicações científicas não fazem referência a realidades independentes do observador” (14) e procura incorporar os relatos de observadores que já possuam uma vivência do lugar impregnada de afetos e significados

Sobre a escolha do sítio

Diante da impossibilidade de evitar a interferência do observador-sujeito em sua relação com o ambiente construído, e entendendo ser necessário fornecer indícios da minha visão de mundo, procuro compartilhar uma leitura bem pessoal da enseada de Botafogo (Fig. 2), onde residi por dez anos. Para tanto, procuro integrar em um único texto as visões de morador, de cidadão, de arquiteto, de professor de projeto e de pesquisador.

A escolha do sítio deveu-se a diferentes fatores:

  • Como morador – da janela do antigo apartamento é possível contemplar toda a enseada (Fig. 1) – sou parte integrante de sua organização social. A vista e as caminhadas na avenida Beira-mar e na Praia de Botafogo contribuíram para uma experiência única (e topofílica), rica de questões e significações que desencadeou mudanças no modo como percebo e me relaciono com o sítio.
  • Sua paisagem natural contém os principais elementos característicos da cidade do Rio de Janeiro – presença do mar, da montanha, de baixios alagadiços hoje aterrados, e vegetação – resquícios da Mata Atlântica (Fig. 2).
  • A intervenção humana na paisagem contém diversas características do processo de urbanização da cidade – praia e ar poluídos, morro devastado/modificado por túneis, viadutos e cortes; aterro de áreas alagadiças e praia; engarrafamentos, alagamentos e proximidade do metrô; cenário marcado pela variedade de edifícios, que destoam entre si por suas cores, volumetria, gabarito, partido de implantação, aparência ou pelo uso. (Fig. 4).
  • A diversidade de usos que abriga: habitação de luxo, classe média e popular; shopping-center, edifícios de escritórios/corporativos, bancos, hospitais, cinemas, igreja, bares e restaurantes, escolas, universidades, parque e proximidade com favela (Morro Azul).
  • A diversidade de grupos humanos que habitam ou freqüentam o local (moradores, trabalhadores, usuários, passageiros e turistas): convívio do “luxo” com o “lixo” (moradores de rua e de alguns edifícios “pouco recomendáveis”); presença de idosos e crianças; ocorrência de assaltos e roubos de automóveis.
  • Seu poder de atração, evidenciado pela presença de alguns dos mais modernos edifícios de escritórios abrigando importantes organizações – FGV, Coca-Cola, Telemar, Telefônica, IBM, etc.

Os quatro primeiros fatores estão relacionados com o olhar profissional de um arquiteto interessado em compreender as conseqüências materiais da intervenção humana no ambiente. Os dois últimos fatores estão relacionados com a possibilidade de aproveitar a experiência acumulada em diversas observações na construção de um instrumento capaz de integrar e ponderar os valores e os significados para os diversos grupos envolvidos com a produção, o consumo e o uso do ambiente construído e a Praia de Botafogo.

O processo de ocupação da Enseada de Botafogo

O processo de ocupação da enseada de Botafogo e o acúmulo de objetos “ávidos por atenção”, produzidos para atender aos interesses de seus proprietários e projetistas, refletem o descaso histórico com a paisagem natural e evidencia o processo de destruição da beleza da paisagem e do meio ambiente. (Fig. 5)

Apesar de sua configuração ter condicionado seu traçado inicial, hoje é possível observar pelo menos dois princípios de ordenamento (15): (a) substituição dos limites naturais pelos limites técnicos, econômicos e políticos – função de passagem do bairro justifica os aterros de alagadiços e as obras viárias (corte de morro, abertura de túnel, construção de viadutos); perfuração da linha 1 do metrô e a construção em área pública de preservação ambiental (postos de gasolina, restaurantes, clubes e edifício de escritórios); e (b) a densidade histórica da cidade dissolve-se em benefício da banalização do urbano – verticalização e densificação imobiliária, mantendo o parcelamento do solo; liberação da taxa de ocupação e do gabarito; permissão para construir edifício praticamente desprovido de janelas. (Fig.6)

Para Sérgio Santos (16), a área evidencia que o “poder público não tem senão corroborado tendências ‘espontâneas’, implementando serviços e infra-estrutura urbana e mesmo regulamentando, onde a iniciativa privada já ‘criou o fato.” O autor explicita a lógica do processo de desenvolvimento da cidade: dependência das soluções técnicas em relação às condições e interesses políticos dos grupos que comandam a Administração Pública que dificulta e/ou impede sua implementação; e ação regulamentadora do Poder Público apenas corrobora a ação da iniciativa privada, principal elemento criador de tendências de transformação do espaço urbano. Neste sentido, Botafogo “mostra os efeitos dessa ação conjugada, ao refletir em seu espaço os efeitos transformadores impostos por sua recriada função de passagem” (17).

O processo de atração das grandes empresas a partir dos anos 70, por sua vez, está diretamente relacionado com a saturação e a valorização da área central da cidade. A velocidade da transformação de Botafogo em “centro especializado de serviços ... [revela a] forma predatória e imediatista com que se consolida e expande o espaço conquistado pela cidade” (18). As marcas desta urbanização fragmentada podem ser atribuídas à adequação do “saber técnico” aos interesses econômicos dos “donos da cidade” (19) e à lógica da “mão invisível” do mercado, sempre com o beneplácito do Estado.

A prevalência da concepção do edifício como obra isolada de seu contexto físico pode ser comparada com a existente entre o monolito do filme 2001 Uma Odisséia no Espaço e os macacos que o observam: sua melhor expressão, a metáfora dos “transatlânticos ancorados nas calçadas das metrópoles” (20), ilustra o processo de internacionalização característico da produção dos novos edifícios de escritórios.

O edifício da Fundação Getúlio Vargas (1955), exemplar único da proposta de Oscar Niemeyer para construção de “edifícios semelhantes paralelos, eqüidistantes e com a mesma altura, visando à preservação da silhueta das montanhas ao fundo e da paisagem natural circundante” (21), que apresenta os seguintes equívocos: embasamento e lâmina do edifício “opacos”, desprovidos de “olhos” (22) para a via, rompendo a tradicional relação edifício-pedestre; desobediência, pelo próprio autor, do limite de pavimentos recomendado por Niemeyer para os edifícios da orla – fixando para toda a cidade, exceto a Barra da Tijuca, o gabarito máximo de 4 pavimentos (23) – para preservar a paisagem natural circundante; desprezo ao clima, ao propor duas cortinas de vidro orientadas para leste e para oeste, condenando os usuários do edifício ao eterno desconforto provocado pelo efeito estufa. (Fig. 7)

A segunda concepção é representada pela transposição mimética do Internacional Style e seus edifícios-máquina de trabalhar, localizados, concebidos e ocupados segundo uma lógica de exploração predatória das condições locais e de exclusão das relações sociais que ocorrem em seu entorno: os “transatlânticos na calçada” escolhem o “porto” mais conveniente para que seu seleto grupo de “passageiros” possa usufruir, sem preocupar-se com o impacto ambiental. (Fig. 8)

A terceira concepção é representada pelo casuísmo com que as autoridades públicas tratam sua cidade e pelo tipo de interesses a que ela tem servido: ao privatizar áreas públicas e de preservação ambiental (24), confirma-se a função corroboradora do Estado em relação aos interesses da iniciativa privada apontada por Sérgio Santos (25).

Modificar esta visão e esta prática fragmentada não é uma tarefa simples, uma vez que não se trata de uma questão de natureza tecnológica ou de capacidade técnica, mas uma questão de natureza cultural que está cada vez mais sedimentada [com sutis variações] tanto no saber técnico, quanto no gosto de proprietários, ocupantes e cidadãos: na verdade, é uma clara manifestação do “desejo mimético” – termo utilizado por Celso Furtado para explicitar a ilusão de “uma modernidade que nos condena a um mimetismo cultural esterilizante ... [e a] ... obsessão de reproduzir o perfil daqueles que se auto-intitulam desenvolvidos” (26) – das sociedades capitalistas criado pelo próprio mercado, e que se torna ele próprio o “critério para desejos aceitáveis ou não” (27).

Passadas três décadas de explicitação dos equívocos – decorrência da defasagem cultural inerente a todos os períodos de ruptura de valores e paradigmas – ainda persistem as idéias que justificam estes monumentos da irracionalidade: basicamente os investidores escolhem os edifícios, por sua aparência, pela sua localização [e facilidade de acesso], pelo seu custo inicial e pela tecnologia embarcada [sistemas eletrônicos de supervisão e controle nem sempre operacionais]; os produtores não medem seus gastos com a singularidade da aparência e com a novidade tecnológica; pouca importância é dada, por ambos, aos custos operacionais, ao desperdício de energia, à operacionalidade e eficiência dos sistemas prediais; nenhuma importância é dada, por ambos, à adequação climática do envelope, cuja aparência “reflete” o “desejo mimético” que transforma seus proprietários e ocupantes em “personagens de um mundo fantasma ... uma espécie de terceiro mundo, entre o país real em que ... vivem e a comunidade internacional onde imaginam viver” (28).

A arquitetura da racionalidade afasta-se cada vez mais de sua razão ética – facilitar e tornar mais confortável a vida do homem sobre a terra – para servir aos interesses do capital imobiliário, ao ego de seus autores e ao “desejo mimético” de seus proprietários e ocupantes. A razão “técnica” que move sua prática passa a propor e a resolver “desafios” (29) cujas conseqüências são, em geral, repartidas entre poder público, contribuintes e ocupantes – condenando estes últimos à dependência de dispendiosos equipamentos para garantir seu conforto e bem-estar.

Outras condições que contribuem para a perpetuação dos equívocos, são: a quase inexistência de crítica de arquitetura associada à presença da “louvação” e da manipulação do marketing nas matérias que garantem a difícil sobrevivência da imprensa especializada nacional; a prática ingênua e “neutra” da maioria dos pesquisadores que, alheios às modernas estratégias de comunicação, distanciam-se das necessidades e expectativas dos profissionais de projeto, dos construtores e dos cidadãos. Suas descobertas são divulgadas em linguagem incompreensível para o público e, em geral, ficam restritas ao reconhecimento de uns poucos “iniciados”.

Estará a humanidade “civilizada” inexoravelmente condenada a viver em um hábitat despersonalizado, desconfortável, cujo cenário se aproxima da sombria Los Angeles do filme Blade Runner ou de “um mundo simulacional que aboliu a distinção entre o real e o imaginário: uma alucinação estetizada e superficial da realidade” (30), a exemplo do que ocorre na excludente “Barralândia”?

A aceitação do paradigma social e o questionamento sistemático da validade das conquistas da ciência e do avanço da tecnologia – que leva as pessoas a se afastarem de suas tradições culturais e a produzirem as manifestações mais degradadas da arquitetura e da cidade – pode livrar a humanidade desta dura pena, ilustrada por um exercício de observação inspirado na Visão Serial (31), cujas fotos comentadas sugerem um “passeio” bastante pessoal pela enseada de Botafogo.

Considerações finais

O resultado desta experiência vivenciada, associado ao conjunto de análises e comentários compõe uma visão topofílica – permeada de afetos e significados – da enseada de Botafogo, pode ser visto como uma evidência exemplar dos resultados da prevalência da concepção do edifício como obra isolada de arquitetura em detrimento de seu relacionamento com o contexto, bem como do casuísmo com que a cidade é tratada pelas autoridades públicas.

A estética destes edifícios e sua propaganda de venda evidenciam o “desejo mimético” do lugar onde seus idealizadores e compradores imaginam ou desejam viver. A metáfora dos “transatlânticos ancorados na calçada” ávidos por atenção pode ser considerada sua mais pura expressão. O resultado desta lógica que despreza o clima e a paisagem local é expresso através da produção de um ambiente construído que funciona como tapume da esplendorosa paisagem natural delineada pelo contorno dos morros circundantes.

O ambiente construído da enseada de Botafogo é um reflexo da esquizofrenia [ou aleatoriedade] da arquitetura da razão técnica e seus “desafios” e evidencia que, se não conseguirmos superar as limitações do paradigma racionalista em prol de um paradigma social complexo, estaremos inexoravelmente condenados a viver em um hábitat despersonalizado, desconfortável e desumano, além de pouco civilizado.

O descaso dos agentes promotores do ambiente construído – inclusive os arquitetos – com a paisagem natural é tanto (Fig. 9) que mesmo da janela do sétimo andar de um apartamento situado na Praia de Botafogo, se consegue vislumbrar menos de 30% do principal símbolo urbano da cidade, cotado inclusive para ser considerado uma das maravilhas da humanidade. E o pior é que esta prática tem associada a assinatura do arquiteto brasileiro com maior renome internacional (Edifício da FGV).

A continuar o atual andar da carruagem, e se de fato o perfil da orla for ocupado por espigões cada vez maiores, em breve poderemos estar condenados a ter de pagar para ver o Corcovado, o Morro Dois Irmãos, a Pedra da Gávea e outros marcos naturais deste sítio natural de beleza ímpar. Não é despropositado imaginar que a esta altura, alguns dos nossos “homens bons” já estejam maquinando coisas deste tipo e de como estender suas garras afiadas e insaciáveis com vistas a lucrar com nosso mais precioso bem: o patrimônio natural, que deveria ser eternamente público.

notas

1
Texto adaptado e atualizado de RHEINGANTZ, Paulo Afonso. Aplicação do modelo de análise hierárquica

Coppetec-Cosenza na avaliação do desempenho de edifícios de escritório. Tese de Doutorado em Engenharia de Produção. Rio de Janeiro, COPPE/UFRJ, 2000, p. 290-296.

2
Niemeyer, Oscar. Rio. Rio de Janeiro, Avenir Editora, 1980, p. 38-40.

3
LAING, Ronald. Apud CAPRA, Fritjof. Sabedoria Incomum. São Paulo, Cultrix, 1991, p. 34.

4
BERNARDES, Lysia. “Considerações sobre a região do Rio de Janeiro”. BERNARDES; SOARES. Rio de Janeiro: Cidade e Região. (3ed.) Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Dep. Geral de Doc. e Inf. Cultural, Divisão de Editoração, 1995, p. 82. Reproduzido de Revista Brasileira de Geografia , Rio de Janeiro, 1971.

5
BANDEIRA Manuel; ANDRADE, Carlos Drummond de. Rio de Janeiro em seus quatrocentos anos. Rio de Janeiro, José Olympio, 1965.

6
GOMES, Renato Cordeiro. Todas as cidades, a cidade. Rio de Janeiro, Rocco, 1994, p. 94.

7
Autran, Paula. “Uma relação de amor e medo”. O Globo, 15 nov. 1999.

8FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo, Studio Nebel, 1995.

9
CAPRA, Fritjof. A teia da vida. São Paulo, Cultrix, 1997, p. 25.

10
SANTOS, Boaventura S. Um discurso sobre as ciências. (7ª ed.) Lisboa, Afrontamento, 1995, p. 32 (1ª ed., 1987).

11
PRIGOGINE, Ilya; STENGERS, Isabelle. Entre o tempo e a eternidade. São Paulo, Companhia das Letras, 1992. Dos mesmos autores, ver A nova aliança: metamorfose da ciência. (4ed.) Brasília, Editora da UNB, 1997 (1ª ed., 1984).

12
MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A árvore do conhecimento. Campinas, Editorial Psy II, 1995.

13
CAPRA, Fritjof. A teia da vida (op. cit.), p. 211.

14
MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. Op. cit., p. 57.

15
BEGUIN, François. As maquinarias inglesas do conforto (1977). Espaço & Debates, n. 34, São Paulo, Cortez, 1991, p. 39-54.

16
SANTOS, Sergio R. L. dos. Análise da estruturação de bairros do Rio de Janeiro – O caso de Botafogo. Dissertação de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional. Rio de Janeiro, COPPE/UFRJ, 1981, p. 214.

17
SANTOS, Sérgio. Op. cit., p. 214.

18
Idem, ibidem, p. 216.

19
Niemeyer, Oscar. Op. cit., p. 36.

20
MUSA. Edison. Apud CAMARGO, Maria Inês. "Parâmetros da arquitetura nos edifícios inteligentes'. Projeto, n. 123. São Paulo, jul. 1989, p. 84.

21
XAVIER, Alberto; BRITTO, Alfredo; NOBRE, Ana Luiza. Arquitetura moderna no Rio de Janeiro. São Paulo, Pini, 1991, p. 97.

22
Referência à metáfora utilizada por Jane Jacobs em Morte e vida das grandes cidades, 1960.

23
Niemeyer, Oscar. Op. cit.

24
Os exemplos  mais evidentes são: Iate Clube, Piscina do Botafogo, Sede do Clube Guanabara, restaurante Sol e Mar e Centro Empresarial Mourisco, cuja concessão do direito de construção, em troca da preservação do Pavilhão Mourisco do Botafogo Futebol e Regatas – a exemplo do tombamento do edifício do Canecão – merece um capítulo à parte no livro negro da história recente da cidade.

25
ANTOS, Sérgio. Op. cit.

26
Celso Furtado. Apud SUNG Jung Mo. Desejo, mercado e religião. (3ª ed.) Petrópolis, Vozes, s/d, p. 52.

27
Idem, ibidem, p. 55.

28
COSTA, Jurandir F. “A ética democrática e seus inimigos”. In NASCIMENTO, Elimar P. (Org.) Ética. São Paulo, Garamond, 1997, p. 73.

29
Em Mais um moderninho: Rio Branco ganha novo prédio “inteligente” (in Veja Rio, 9/09/1992: 19), o autor do projeto do Edifício Manhattan Tower declara: “nunca fizeram um prédio tão alto num terreno tão pequeno, de apenas 726 metros quadrados.”

30
FEATHERSTONE, Mike. Op. cit.

31
CULLEN, Gordon. Paisagem urbana. Lisboa, Edições 70, 1983 (1ª ed., 1971).

32
Vista panorâmica da enseada de Botafogo a partir do Morro da Viúva: relação aleatória entre a massa edificada e o perfil natural dos morros, fruto da prevalência da concepção do edifício como obra isolada de arquitetura em detrimento de seu relacionamento com o contexto; arquitetura como protagonista do processo de degradação da paisagem natural.

33
Vista do edifício Caemi, de dois edifícios de moradia bloqueando a vista do Corcovado, campanário da Igreja da Conceição – marco vertical no início do Século XX e viaduto em meio à arborização; descompromisso com a paisagem natural.e desproporção da massa edificada.

bibliografia complementar

DEL RIO, Vicente (Org.) Arquitetura: pesquisa & projeto. São Paulo, ProEditores / Rio de Janeiro, FAU UFRJ, 1998.

TUAN, Yi-fu. Topofilia. São Paulo, Difel, 1980.

sobre o autor

Paulo Afonso Rheingantz, Doutor, Arquiteto, Professor da FAU/UFRJ.

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