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architexts ISSN 1809-6298


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Alessandro Filla Rosaneli analisa algumas intervenções e soluções urbanas que vêm sendo discutidas pelos moradores de Seattle nos últimos anos e que ganharam expressão nacional nos Estados Unidos, afim de, quem sabe, retirar deles alguma lição


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ROSANELI, Alessandro Filla. Learning from Seattle? Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 100.06, Vitruvius, set. 2008 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.100/113>.

O meu primeiro contato consciente com Seattle foi musical. Lembro-me saudosamente das festas universitárias embaladas ao som de Pearl Jam, Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden, entre tantas (e sem ser injusto com as outras), do ápice do som grunge. Mais adiante, acompanhava curioso algumas obras publicadas, sobretudo nas revistas internacionais disponíveis, como a capela de Saint Ignatius de Steven Holl e a biblioteca pública de Rem Koolhaas. Recentemente, através da televisão, divertia-me com as hilárias e angustiantes situações vivenciadas pelo psicanalista Dr. Crane, na sitcom Frasier. Com efeito, ao abrir o Internet Explorer, comprar pelo site amazon.com e receber uma encomenda enviada por um Boeing através da UPS ou suas filiais qualquer pessoa no mundo pode se “relacionar” com empresas criadas ou sediadas em Seattle. Enfim, participar de seu cotidiano inspirou-me a refletir sobre a questão exposta no título. Definitivamente, não se trata de uma crítica sobre a produção cultural “na” ou “da” cidade, mas sim de uma tentativa de analisar algumas intervenções e soluções urbanas que vêm sendo discutidas pelos seus moradores nos últimos anos e que ganharam expressão nacional nos Estados Unidos. De modo audacioso, quem sabe retirar alguma lição, pelo bem ou pelo mal.

Em Seattle, por vezes, um certo ar de pertencimento ao agitado e competitivo mundo globalizado mistura-se à calma atmosfera de uma cidade média norte-americana. De fato, a paciente e amistosa recepção do(a)s motoristas de um excelente sistema de transporte público (para o padrão deles) funde-se à miríade de línguas ouvidas nas ruas (a maioria orientais); a substancial preocupação ambiental com as fauna e flora nativas, destacadamente o salmão, confronta-se com as demandas de uma cidade que recebe hordas anuais de turistas e investimentos exteriores; a celebração do passado indígena (pedigree indígena, como se orgulham), em totens, no calçamento, nomeando rios, parques e ruas mistura-se aos marcos arquitetônicos, muitas vezes assinados por arquitetos de renome internacional, como Minoru Yamasaki, Robert Venturi, Frank Gehry [na imagem 2], Cesar Pelli, etc. Com um olho no local e antenada com o global, resume certas contradições que afligem algumas cidades em todo o mundo. Nas últimas décadas, entretanto, experimenta também um renovado interesse no planejamento urbano em seus limites, destacando-se por algumas iniciativas concretizadas. Para brevemente relatar esse movimento, objetivo das presentes linhas, primeiro se apresenta sucinta contextualização histórica da cidade e de seu planejamento, como forma de se conectar aos exemplos contemporâneos.

De Skid Road à Central Puget Sound

Seattle está histórica, geográfica e economicamente integrada ao estuário de Puget (Puget Sound), extenso e estreito braço do Oceano Pacífico, que abriga vários municípios (county), cidades e subúrbios. Com mais de 563.000 habitantes, também é a principal cidade da região metropolitana Seattle-Tacoma-Bellevue, com mais de 3.263.000 residentes e décima-quinta em tamanho de população nos EUA (todas estimativas para Julho de 2007 do censo norte-americano). Por vezes, em razão dessa ligação e do padrão de crescimento revelado nas últimas décadas, é potencialmente tida como uma das próximas shock city do século XXI, nomeada como Central Puget Sound. Se pensada mais amplamente, faria parte da Cascadia, uma aglomeração urbana que se estende pelo norte da Costa Oeste, entre Oceano Pacífico e Cadeia Montanhosa Cascade, de Vancouver, Canadá, à Eugene, Estado de Oregon (1). Sua história, seguindo a trilha de alguns autores, poderia ser caracterizada por momentos de “euforia e recessão”. O que se pretende aqui, entretanto, distante de uma síntese temporal dos acontecimentos, é salientar alguns desses pontos críticos e relacioná-los com específicas questões espaciais.

A região do estuário de Puget desde muito era o palco escolhido para vários assentamentos de inverno das tribos indígenas Duwamish e Suquamish, cercado por uma densa floresta. Nenhum dos dois sobreviveram incólumes à pressão da fronteira. A revisão historiográfica sobre o Oeste norte-americano, impulsionada desde os anos 90 pelos “Novos Historiadores do Oeste”, recentemente produziu duas publicações que brilhantemente enfocam esse drama sócio-ambiental pela perspectiva da história urbana: Native Seattle (2007), de Coll Thrush e Emerald City (2007), de Matthew Klingle.

O primeiro ponto requerido pelo grupo pioneiro, liderado por Arthur Denny em 1851, foi considerado demasiadamente hostil para abrigar embarcações; ventava demais. O Alki Point seria assim trocado pela área protegida da Baía de Elliot, dando origem ao atual downtown. Por anos, a economia da cidade girou em torno da extração: madeira, castor e peixe. Ladeira abaixo, as toras rolavam pela atual Rua Yesler, a Skid Road, ou também Skid Row – sim, nome de outra banda de rock. Posteriormente, em um dos importantes momentos para o crescimento da cidade, em razão da descoberta de ouro no extremo norte do Canadá (1896), para além de declarado ponto de embarque e de provisão de mercadorias, essa área faria de Seattle nacionalmente famosa. Entretanto, o termo Skid Road assumiria outra conotação, como sinônimo de bairro reconhecido pela atratividade que exercia entre os desempregados, os recém-chegados imigrantes e os freqüentadores dos vários salões e bordéis, por vezes recaindo em consumo de ópio, bebida alcoólica e violência.

Seattle, como muitas cidades da fronteira, também sofreu um incêndio de enormes proporções. O acelerado crescimento não permitia imposições normativas e a madeira – farta naqueles tempos – era o material empregado nas construções. Em 1889, quase todo o centro da cidade foi destruído. As edificações originais deram lugar, paulatinamente, a edificações de pedra, tijolo e terracota, seguindo revivals ditados por arquitetos das cidades maiores, como Chicago e H. H. Richardson, cujas imagens circulavam em folhetins e revistas pelo país. Parte dos edifícios desta época conforma o atual centro histórico do Pioneer Square – Skid Road, tombado nacionalmente em 1970, momento em que se iniciam as primeiras ações para seu restabelecimento. Ao mesmo tempo servindo de base para ações religiosas e assistenciais e de palco para manifestações políticas, sem dúvida, é um lugar de extrema complexidade histórico-espacial; ainda hoje é o ponto eleito pelos sem-teto e mendigos da região central, confrontando com o caráter de atração turística que resvala nas propostas de revitalização.

No século XX, especialmente, Seattle experimentaria constantes flutuações econômicas, muito sensível à realidade nacional. Mas seriam as conseqüências da Segunda Guerra Mundial, particularmente sentidas em toda a costa Oeste norte-americana, que atingiriam profundamente a cidade. Historiadores, em geral, apontam esse momento como fundamental para o atual patamar de desenvolvimento socioeconômico da costa, sobretudo em razão do maciço investimento governamental em defesa, no clima da Guerra Fria. Em paralelo, o padrão suburbano tomaria definitivamente o seu atual rumo e novos padrões de ocupação territorial seriam criados no Oeste, como os parques temáticos e tecnológicos (2). A região metropolitana de Seattle receberia um intenso fluxo migratório e a indústria naval e a aeronáutica tomariam grande impulso; uma gigantesca infra-estrutura foi construída para suportar a suburbanização, sobretudo apostando no transporte individual, através das freeways. Durante os anos seguintes à Guerra, a economia local, altamente dependente dessas indústrias, expandiu-se solidamente. A aposta no futuro confirmava-se pela abertura da exposição da Feira Mundial de 1962, nomeada como “Exposição Século XXI” e direcionada para apresentar o desenvolvimento da ciência norte-americana. De certa forma, para muitos, era uma forma de demonstrar que os EUA não estavam atrás da ex-União Soviética. Símbolo máximo, a Space Needle [na imagem 2], ainda hoje é a referência predominante no skyline da cidade.

Contudo, o corte de investimentos governamentais na área da defesa levou a indústria local à abrupta perda de centenas de postos de trabalho, especialmente na empresa aeroespacial Boeing, acarretando uma crescente onda de desemprego. A empresa que tinha “colocado Seattle no mapa” décadas atrás, agora liderava uma agonizante retração. A desvalorização imobiliária atingiu de cheio Seattle e com a saída de moradores espalhou-se o comentário de que “o último a sair teria que apagar a luz”. Apesar desse espasmo de perturbação econômica, durante a década de 1970, as próximas décadas experimentariam uma alteração do padrão econômico, quando o setor terciário – sobretudo pelo comércio internacional – tornar-se-ia dominante. A partir da vinda da Microsoft para a região metropolitana, o destino tecnológico seria acalentado, pela abertura de várias empresas no setor. Sediando ou criando empresas de renome mundial, Seattle procura fazer parte de um ambiente internacional em que a atração de capitais, comum às ditas “cidades globais”, torna-se imperativo. Para tanto, o planejamento urbano vem sendo eleito como instrumento fundamental, em dois âmbitos: tanto como forma de defesa/combate da comunidade local das tendências ligadas ao desejo de crescimento como também para sustentá-lo. Antes de aprofundar essas questões, sumarizam-se os principais momentos da história de seu planejamento urbano.

Rumo ao discurso da sustentabilidade

Seattle vem sendo motivo de escrutínio de estudiosos no campo do planejamento urbano e regional nos últimos anos e, em geral, os resultados obtidos (produtos e processos) são tidos como inspiradores. De acordo com Kaiser e Godschalk (3), o Plano Diretor de 1994 poderia ser classificado como um bom exemplo de “plano contemporâneo de tendência híbrida”, dentro da história do planejamento urbano norte-americano; Stephen Wheeler (4), urgindo pela abordagem de um planejamento urbano e regional mais sustentável, já apontava a cidade como um dos bons exemplos em nível internacional no final da década de 1990; por fim, mas não menos importante, cabe destacar que essa mesma iniciativa local está consagrada em uma das apostilas de planejamento do uso do solo mais adotada nas escolas de planejamento urbano e regional dos Estados Unidos (5) como exemplo de abordagem integradora de várias tradições conceituais de planejamento. Mas como se consolidou esse processo de planejamento em Seattle?

Pode-se afirmar que o primeiro breve suspiro de planejamento foi o desenho da “grelha aberta” – padrão extensivo às cidades de fronteira norte-americana; nas palavras do historiador J. W. Reps: especulativa, fácil de desenhar e de implantar (6). Em 1869, quando da criação do Estado de Washington, seus fundadores apressaram-se em dar forma física clara para garantir a autonomia da cidade. O incêndio de 1889 promoveria uma oportunidade para se instalar regras: pelo Código 4454 se proibia a instalação de edifícios de madeira, assim como se estabelecia padrões construtivos mais rígidos. Mas ambas as situações se conciliavam como formas de enfrentar problemas do presente.

A primeira tentativa de olhar adiante e de modo extensivo se deu com a proposta de John C. Olmsted (sobrinho e filho adotivo de Frederick Law Olmsted e seu sucessor nos projetos). Contratado pela cidade, após alguns meses do ano de 1903 estudando a cidade e seu entorno imediato, finalizaria um plano geral para um sistema de espaços públicos livres inspirado nos ideais do City Beautiful Movement, que seria detalhado através de relatórios até 1910 (7). Parcialmente adotadas, entretanto, suas recomendações possibilitaram a estruturação de um sistema de praças, parques e bulevares que hoje, também em decorrência da singular topografia, distingue nacionalmente o seu mais que centenário planejamento de áreas públicas (8). Desde então, pode-se afirmar que uma “cultura urbanística” instalou-se na cidade, cuja manifestação dar-se-ia em decisivos momentos (9).

Um importante aspecto na história recente do planejamento urbano em Seattle é conseqüência direta das exigências da legislação estadual. Desde meados dos anos de 1980, Seattle já adotava medidas de planejamento urbano inovadoras para o ambiente nacional (10). Porém, a partir do inicio dos 1990, toda a experiência acumulada pela cidade seria intensificada em razão de medidas requeridas por lei (11). Considerando a necessidade de coordenação de planejamento entre as esferas regional e local, instituiu a obrigatoriedade de delimitação do perímetro urbano, a execução de Planos Diretores (Comprehensive Planning) em todas as esferas administrativas e a participação popular, dentre outras medidas. Em resultado, com a adoção do Plano Diretor Toward a Sustainable Seattle, 1994 – 2014 (12), uma nova fase se descortina para a cidade. Resumidamente, os elementos fundamentais do plano eram a afirmação pela sustentabilidade e a defesa da participação pública, através do agrupamento em bairros (neighborhood planning). O aspecto chave concentra-se no aumento da densidade através da estratégia da urban village (13).

Outro fato a ser ressaltado é a relação entre as esferas local e regional. Duas instâncias de planejamento regional estão umbilicalmente relacionadas com a cidade de Seattle: o Conselho Regional do Estuário de Puget (criado em 1956), que congrega vários municípios e as 82 cidades da região e é responsável pela elaboração do Plano Vision 2020 (14); nesse patamar de decisão, as questões discutidas são de ordem econômica, ambiental e de transporte. A segunda, o Conselho de Planejamento do Crescimento Urbano do Município de King, é responsável pelo Plano Diretor Municipal e pelas Políticas Públicas Municipais de Planejamento Urbano (15); este plano, mais abrangente, apresenta a delimitação do perímetro urbano e a macro-classificação de usos permitidos e, desse modo, define as áreas onde preferencialmente ocorrerá o crescimento urbano e um maior adensamento, nos selecionados “centros urbanos”. Ambas as esferas arquitetam uma estrutura na qual as cidades devem apoiar sua legislação urbanística. Em nível local, salienta-se a existência de uma miríade de organizações – de agências oficiais a não-governamentais – que efetivamente contribuem para a formação de um intrincado circuito de planejamento que ao longo dos anos estrutura-se na cidade.

Desse pequeno resumo da experiência histórica de planejamento urbano de Seattle, certamente não se evidenciou as inúmeras dificuldades e retrocessos que se acumularam ao longo dos anos. O aspecto que deve ser ressaltado, entretanto, atém-se ao esforço ímpar, dentro do cenário norte-americano, da tentativa de maior controle do uso pelo adensamento do espaço urbano e do envolvimento comunitário na tomada de decisões sobre os destinos da cidade. Nesse âmbito, algumas experiências contemporâneas podem ser ressaltadas para melhor evidenciar essas questões.

Entre o global e o local

Três exemplos serão enfocados para entender recentes movimentos na cidade: um mais abrangente, acerca da questão do planejamento participativo, reconhecidamente exemplar no contexto nacional; outros dois mais específicos: um primeiro envolvendo as propostas de remodelação das margens da baía e outro a revitalização em curso do bairro South Lake Union. Todas, entretanto, trazem perspectivas que alimentam o debate sobre as possibilidades e limites do planejamento urbano na atualidade.

“Central Waterfront” de Seattle

Um dos mais delicados e maiores desafios para a cidade é a remodelação de sua orla marítima voltado para o estuário. A essência do projeto dá-se em razão do destino do viaduto Alaskan Way - uma cicatriz exposta em razão do boom automobilístico do após-Guerra mas ao mesmo tempo fundamental para interconexão regional no sentido norte-sul (16) [na imagem 3]. Desde sua construção (1953), as adjacências abaixo de sua estrutura vêm sofrendo um profundo processo de decadência, fato que apartou as margens da baía da vizinha região central [na imagem 4]. Por tempos, sua presença vem despertando acirrado debate e inúmeras alternativas despontam: total demolição para a construção de um túnel ou reurbanização da via em nível; reconstrução do viaduto; reaproveitamento da estrutura para um “parque suspenso”, dentre outras mais de 70 soluções aventadas. Mas o astronômico orçamento para a construção de um túnel, assim como para a reconstrução do viaduto, foram ambos rejeitados pelos moradores em plebiscito realizado em 2007. O fato é que a cidade de Seattle, reconhecida pelas indecisões quando se trata do tema transporte, o município de King e o Estado de Washington travam uma batalha política que culminará na avaliação pública final prevista para Dezembro de 2008.

Os defensores de sua demolição apostam na grande oportunidade de integração visual do estuário com a cidade, aspecto evidenciado na design charrette internacional em 2004; os defensores da passagem subterrânea sustentam que o recente avanço das técnicas reduziu drasticamente os custos da construção de túneis, ressaltando a relação do custo-benefício, circunstâncias discutidas em simpósio internacional no início deste ano. A última versão elaborada pelo Departamento de Planejamento Urbano da cidade de Seattle (17) apóia-se nessas perspectivas e pode ser resumida na delimitação de “nós” centrados em espaços públicos e usos privados de apoio; na manutenção da conexão norte-sul, através de um “passeio público” que promova o equilíbrio entre os usuários, valorize o transporte intermodal e a experiência do pedestre e do ciclista [nas imagens 5 e 6]. Outro ponto importante centra-se na questão ambiental, através da recuperação do ecossistema original na área costeira e pela adoção de medidas de design que favoreçam o reuso da águas pluviais e a eficiência energética. Por fim, o plano salienta a conexão dos principais bairros históricos – Pioneer Square e Pike Place Market – com as margens do estuário a fim de impulsionar os atuais 11 milhões de visitantes anuais. Os conceitos que estruturam a proposta seriam “imaginação, memória e movimento”.

No extremo norte desse eixo encontra-se o recentemente inaugurado Parque Olympic Sculpture, projeto resultado de um concurso internacional para uma nova filial do Museu de Arte de Seattle (18) [na imagem 7]. O terreno original, no qual funcionava uma refinadora de petróleo, impunha específica dificuldade ao projeto, dada a presença da linha de trem e de uma movimentada rua, que o divide em três partes; ademais, a contaminação da local era fato que deveria ser enfrentado. O recurso sugerido para resolver essas questões ocorreu através de um enorme aterro com especial sistema de drenagem, criando elevações que se conectam através de pontes. Dessa forma, a baía pode ser contemplada de modo privilegiado, ao mesmo tempo em que se criam nichos especiais para a exposição das esculturas. Um importante aspecto refere-se à extensa lista de soluções utilizadas para promover a recuperação ambiental do local, sobretudo através de medidas em favor do restabelecimento da fauna e flora nativa. De fato, o parque funciona adequadamente como gran finale para a proposta da nova orla.

Por esse exemplo de Seattle também ilustra um dos desafios que inúmeras cidades norte-americanas experimentam em razão das decisões tomadas no período pós-Guerra, em que a dispersão de freeways por todo o país foi tido como fundamental (declaradamente por razões de segurança), mas irrompendo, na maioria das vezes irresponsavelmente, em áreas já estabelecidas; a discussão que segue por anos, culminaria, nacionalmente, no recente exemplo do “Grande Cavouco” de Boston (19). Além disso, também reflete a dispersa tendência internacional de revalorização das áreas portuárias centrais em razão de suas variadas potencialidades.

“South Lake Union Biotechnology Hub”

O bairro que desperta grande parte das atenções atualmente em Seattle é o South Lake Union, localizado ao norte do downtown, uma vez repleto de lavanderias e antigos edifícios industriais abandonados, que usavam o lago como meio de ligação com o Oceano Pacífico [na imagem 8]. Em pleno processo de revitalização, trata-se de um empreendimento imobiliário gigantesco impulsionado pelo co-fundador da Microsoft, Paul Allen, e por uma de suas empresas, a Vulcan Real State Inc. O desejo é torná-lo local de moradia “cinco-estrelas” e, mais importante, “o” centro mundial de referência em biotecnologia, suportado pela excelência na área da Universidade de Washington (baseada em Seattle), mesmo em competição com tantas outras cidades norte-americanas que sustentam a mesma idéia.

Através da promoção do bilionário e múltiplo investidor (o maior proprietário individual do bairro), a região transformou-se num acelerado canteiro de obras. Inicialmente, a idéia de P. Allen era transformar o bairro num grande parque envolvido por uma área residencial elitizada (world-class community), chamado de Seattle Commons, em 1992. Contudo, sua proposta foi rejeitada duas vezes em plebiscito (1995 e 1996), com alguns críticos invocando Eugène Haussmann como modelo inspirador. Não por menos, os planos foram alterados significantemente e, a partir do início dos anos 2000, uma nova estratégia foi montada para ocupar os seus mais de 250 mil metros quadrados de terrenos (cerca de 30% da área total do bairro e localizados nas principais artérias), paciente e silenciosamente adquiridos.

Dessa forma, seria a força do mercado que impulsionaria por transformações. De fato, participação oficial do poder público local logo se tornou efetiva, tanto por parte do executivo como do legislativo (20). Com o objetivo de “juntar as partes” impelidas pela iniciativa privada, um “escritório especial” dentro do poder executivo foi formado (21). Atualmente em processo, a revisão do plano de bairro (1998) já incorpora a idéia de centro biotecnológico e área passível de adensamento residencial (22). Interessante aspecto a ser ressaltado é o envolvimento comunitário para proteger a identidade do bairro: tanto por meio de centenas de encontros públicos como através das design charrette com a participação de alunos do curso de Urban Design da Universidade de Washington; ambos oferecendo visões sobre o futuro desejável para a área, revelador do espírito participativo encontrado em Seattle. Por outro lado, a iniciativa privada, investe pesada e criativamente em marketing para atrair investidores e consolidar uma visão para o conjunto, que de certa forma não escapa da gentrificação (23).

As ações previstas foram a alteração do zoneamento da área, a construção de um sistema de transporte local por bonde (recentemente concluído) [na imagem 9], a revitalização dos antigos parques e praças da vizinhança além da ampliação da área pública margeando o lago e a reurbanização de algumas ruas principais. Alguns edifícios finalizados já ilustram o cenário imaginado para a região, pois refletem a tendência de seguir padrões de excelência de design, através dos certificados LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) [nas imagens 10 e 11]. Embora ainda não se veja tantas pessoas nas ruas, com exceção das principais avenidas, a paisagem é dominada pelas gruas para onde quer que se olhe; um grande canteiro de obras, num claro sinal de que a concepção imobiliária do bilionário tem surtido efeito dessa vez.

As críticas à proposta apontam para seu enorme custo e para a concentração de recursos públicos numa única área, em detrimentos dos cortes já efetuados em outras, como uma das fragilidades da idéia. Além disso, também se referem ao descuido para com o patrimônio edificado em detrimento das novas (e luxuosas) edificações, cuja elitização é tida como o inevitável resultado final – o tamanho das unidades residenciais, segundo alguns, não permite a acomodação de famílias, mas de pessoas solteiras, os novos yuppies. Alguns até mesmo salientam a nebulosa relação entre os interesses públicos e privados, por exemplo, dada a contratação de ex-funcionários públicos pela empresa imobiliária. Entretanto, mesmo com tais reticências, tal iniciativa vem sendo celebrada por muitos na cidade como outra oportunidade de distinguir Seattle num competitivo cenário mundial, ao mesmo tempo em que é tida como uma das maiores revitalizações urbanas atualmente em curso nos Estados Unidos.

“People’s Republic of Seattle”

Por fim, a experiência de Seattle reflete uma tendência nacional cada vez mais presente de descentralização do processo de planejamento urbano. De certa forma, o engajamento público na tomada de decisões coletivas em Seattle constitui-se em prática de longa data, fato por vezes celebrado localmente como traço distintivo, mas ao mesmo tempo desdenhado pelas dificuldades que impõe à agilidade nas decisões, apelidado pejorativamente como o “processo de Seattle”. Através de votações sobre gastos públicos e de várias comissões, inúmeras medidas foram decididas por seus moradores. Porém, a partir dos anos 1970, um novo patamar envolvimento comunitário seria alcançado, muito em razão das conseqüências da renovação urbana na antiga área central. A consolidação oficial viria anos adiante, dentro dos objetivos gravados pelo Plano Diretor, de 1994: a participação pública seria indicada como instrumento decisivo para a sua efetivação.

Através da divisão em 38 bairros em seis grandes setores, um longo processo foi concluído em 2000, em que cada bairro foi responsável pela gestão de seu próprio Plano Diretor, com possibilidade de suporte financeiro. As principais características eram a flexibilidade de abordagem (não havia nenhum formato, método ou processo geral a ser seguido), assim como a liberdade de contratação de consultoria pelo comitê do bairro. Uma das críticas a esse extenso e relativamente descentralizado processo orienta-se à enorme disparidade e quantidade das recomendações propostas (em torno de 4.200!) e a sua desconexão com o Plano Diretor geral, como se cada plano de bairro fosse um componente isolado da cidade. Por outro lado, as críticas da comunidade direcionaram-se à ausência de discerníveis pressupostos básicos iniciais, estabelecidos pelo staff público, que procurou controlar o disperso processo ao final, exigindo priorização. Outra insatisfação manifestou-se na fase de implementação dos planos, quando a desarticulação entre os técnicos do poder público e a comunidade aumentou. Em oposição, uma das evidências discernidas como válidas foi a percepção do impacto positivo desse processo na comunidade, tanto físico como social. Ademais, a adoção de inúmeros aspectos manifestados nos planos pelos poderes executivos e legislativos locais aponta para a riqueza advinda dessa escala de decisão. A oposição local versus global expressou-se em alguns planos, sobretudo em torno do debate referente ao adensamento, defendido pelos incorporadores imobiliários e, muitas vezes, banido pelas comunidades locais.

Deve ser salientado que a dificuldade geralmente imposta pela linguagem técnica no processo participativo encontra outro patamar de complexidade em Seattle, em resultado da presença de vários grupos imigrantes de diferentes nações. Por isso, o principal objetivo da atual fase revisora dos Planos Diretores, anunciada em meados de 2007, é a “inclusão total”. Por outro lado, uma nova abordagem está em discussão, menos descentralizada que a primeira experiência, dada pelo suporte técnico da equipe do próprio poder público local aos moradores, a fim de atingir uma maior consistência entre os tópicos abordados. Finalmente, ressalva a ser considerada é que dentro do cenário norte-americano, alguns autores consideram essa iniciativa de Seattle como ambiciosa e ao mesmo tempo bem sucedida, realmente um modelo a ser considerado (24).

Verdadeiramente inspiradora, entretanto, é a outra face da participação pública no processo de planejamento da cidade, estabelecida pela existência de várias comissões e conselhos: no total, 14 com 108 membros envolvidos (25). De modo geral, o papel desses agrupamentos é parte de um intricado procedimento decisório público, por vezes conflitante, mas que garante uma visibilidade das atividades relacionadas ao desenvolvimento da cidade pelos cidadãos. O fato relevante é a clara separação de responsabilidades estabelecida entre essas instâncias: de um lado, voltam-se à revisão de todos os projetos arquitetônicos e urbanos que afetam o domínio público (pela Comissão de Design) e dos mais impactantes nas propriedades privadas (pelo Conselho de Revisão do Design); de outro, dá-se a revisão dos planos e políticas públicas (pela Comissão de Planejamento Urbano). Pela dinâmica corrente, essa distinção pode ser considerada como uma conquista positiva, em razão da maior agilidade, da concentração nas questões fundamentais de cada matéria em análise e da seriedade do processo, em razão do grande respaldo dos profissionais da cidade.

As presentes linhas intencionaram apresentar três aspectos pontuais de uma experiência norte-americana de planejamento urbano. Como se pode apreender, por um lado, os projetos apresentados refletem umas das essenciais características das intervenções urbanísticas contemporâneas, quer seja, a fundamentação econômica, na qual os espaços públicos são concebidos como “elementos ganchos” para a maximização dos investimentos da iniciativa privada, destacadamente a indústria turística e a incorporação imobiliária. Por outro, a participação pública apresenta-se como recurso viável e desejável de decisão sobre o destino das cidades por seus cidadãos; nem sempre fácil de atingir, mas elemento fundamental da fricção entre as esferas local e global. Metaforicamente, em Seattle, even flow, thoughts arrive like butterflies (26).

notas

1
MOUDON, A. V. e L. HECKMAN. Central Puget Sound. In: SIMMONDS, R. e HACK, G. (eds.). Global City – Regions. Londres, Routledge, 2000.

2
FINDLAY, J. M. Magic lands: western cityscapes and American culture after 1940. Berkeley: University of California Press, 1992.

3
KAISER, E.; GODSCHALK, D. (1995). Urban Land Use Planning. University of Illinois Press, 2007, p. 381.

4
WHEELER, Stephen. Planning Sustainable and Livable Cities (1998). In: LE GATES, R. e STOUT, F. The City Reader. Routledge, 2007, p. 507.

5
BERKE et. alii. Urban Land Use Planning. University of Illinois Press, 2006. Ver sobretudo as p. 52-54.

6
REPS, J. W. Cities of the American West. A History of Frontier Urban Planning. Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1979.

7
O plano de J. C. Olmsted – Parks, Playgrounds and Boulevards for Seattle – seria complementado por relatórios posteriores, em 1906, 1908 e 1910.

8
WILSON, W. H. The Seattle Park System and the Ideal of the City Beautiful. In: SCHAFFER, D. (ed.). Two Centuries of American Planning. Baltimore: John Hopkins University Press, 1988, p. 113-137.

9
DOOLING, S., SIMON, G. e YOCOM, K. Place-based urban ecology: A century of park planning in Seattle. In: Urban Ecosyst 9, 2006, p. 299-321.

10
MILLER, D. e LEE, S. Aiming for Sustainable Development – Experiences with Growth Management Planning in the Seattle Metropolitan Area. In: Asia Pacific Planning Review 1, 2002, p. 11-30.

11
Através do Growth Management Act (1991) o Estado de Washington seria um dos primeiros Estados norte-americanos a exigir a delimitação de um perímetro urbano para suas cidades e municípios. Um dos objetivos centrais era controlar o intenso processo de suburbanização. Institui, também, um processo de revisão técnica anual e de revisão geral a cada quatro anos.

12
Toward a Sustainable Seattle, 1994-2014, 1994. Em 2004, este Plano foi revisado e aprovado, mantendo-se as mesmas linhas mestras anteriores.

13
O conceito de urban village é emprestado do “New Urbanism” e é definido como uma área capaz de absorver maior densidade demográfica aliada a uma diversidade de uso do solo, cuja questão da mobilidade é enfrentada pela valorização do pedestre e pela conexão por uma eficiente rede de transporte público, ou seja, são as áreas eleitas para, no futuro, concentrar preferencialmente a maior parte do crescimento populacional. Fonte: CITY OF SEATTLE. Comprehensive Plan: Toward a Sustainable Seattle, 2004-2024, 2005.

14
Plano Vision 2020, 1995. O Plano foi recentemente renovado para Vision 2040, em 2008, centrado em três variáveis gerais: pessoas, prosperidade e planeta. Fonte: PSRC. Vision 2040: The Growth Management, Environmental, Economic and Transportation Strategy for the Central Puget Sound Region, 2008.

15
O primeiro Plano Diretor Municipal data de 1964 e seus princípios ainda são sentidos na atual legislação. Em 1985 passaria por uma revisão onde seria adotado, de modo inovador para dentro dos EUA, um perímetro urbano. Atualmente, o Plano Diretor se encontra novamente em processo de revisão. Porém, em razão das exigências legais do Estado de Washington, desde a versão de 1994, o Plano foi renovado outras duas vezes (2000 e 2004). As Políticas Públicas de Planejamento Urbano, primeiramente adotadas em 1992 e seguidamente atualizadas, fornecem a estrutura geral para os Planos Diretores locais.

16
Por esse maciço viaduto de dois pavimentos, de mais de três quilômetros de extensão e atingindo 15 metros de altura em alguns pontos, transitam uma média de 110.000 veículos por dia. Após um severo terremoto em 2001, sua estrutura (já datada como grande parte dessas construções de sua geração) foi severamente avariada e, conforme alguns engenheiros, não resistiria a um segundo de igual intensidade. Fonte: Departamento de Transporte do Estado de Washington, 2008.

17
Idealização da atual administração (eleita em 2001), o projeto Center City Seattle (2004) é o grande guarda-chuva que amálgama diferentes projetos; trata-se de uma estratégia para fortalecer o centro e os bairros adjacentes, cujo projeto da orla marítima central, um dos principais, foi finalizado em 2006. Ressalta-se, contudo, o processo participativo para a construção das atuais recomendações.

18
Realizado em 2001, concorreram 52 projetos. O vencedor foi o escritório WEISS/MANFREDI Architects de Nova Iorque, sendo o parque concluído em janeiro de 2007.

19
O Federal Highway Act de 1956 ditou as bases legais para a maciça construção de rodovias no país. O mais que celebrado livro de Jane Jacobs (1961) despontou como um dos baluartes contra as conseqüências desse movimento em favor do deslocamento. Boston, aproveitando-se dos últimos recursos federais, demoliu um dos viadutos que cortava a cidade substituindo-o por um túnel – jocosamente chamado de Big Dig por se demonstrar uma solução caríssima.

20
O novo direcionamento temático para o bairro foi prontamente acolhido pelo poder legislativo local, que em 2003 e 2005 revisou os códigos urbanísticos para permitir a aprovação das especificidades construtivas de laboratórios de biotecnologia na área, além de permitir usos mistos e maior densidade residencial.

21
O South Lake Union também foi selecionado como uma das prioridades do projeto Center City Seattle (ver nota 15).

22
O Plano Diretor atual (2004) elegeu o bairro como um dos urban centers, sendo assim passível de receber maiores densidades e elegível para disputar recursos de diversos fundos municipais.

23
Tanto através de websites, como por um enorme centro de informações, essa visão vem sendo vendida para os interessados. O vídeo disponível em http://youtube.com/watch?v=a7c7paNe8go é revelador nesse sentido.

24
SIRIANNI, C. Neighborhood Planning as Collaborative Democratic Design: The case of Seattle. In: JAPA 73 (4), 2007 e CITY OF SEATTLE, Office of City Auditor. Report on Seattle’s Neighborhood Planning Implementation, 2004, disponível em www.seattle.gov/audit/docs/PublishedNPI.pdf.

25
Existem duas comissões: Comissão de Design (desde 1968), responsável pela revisão de projetos no domínio público e a Comissão de Planejamento Urbano (desde 1911), responsável pela revisão de planos e políticas públicas. Ambas são de abrangência geral e de caráter recomendatório. Em relação aos conselhos, são divididos pela orientação patrimonial (5) e de revisão de projetos particulares acima de certo limite (Conselho de revisão do Design), todos de abrangência ao nível do bairro, com exceção do Conselho Geral de Preservação Patrimonial, de escala citadina. A escolha dos membros é variada, mas em sua maioria é um ato de iniciativa individual com posterior aprovação pelo prefeito e pela Câmara de Vereadores da cidade.

26
Even Flow
, música do grupo Pearl Jam do álbum Ten (1991). Além das fontes citadas, foram também consultados os seguintes websites: www.discoverslu.com; www.vulcanrealestate.com; www.seattle.gov/dpd; www.seattle.gov/transportation; www.seattle.gov/neighborhoods; www.wsdot.wa.gov/projects/viaduct; www.seattlestreetcar.org

sobre o autor

Alessandro Filla Rosaneli é doutorando pela FAU-USP. Atualmente é “visiting scholar” com bolsa da Fulbright Commission/FUNADESP no College of Architecture and Urban Planning da University of Washington, em Seattle.

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