É curioso o processo mental que dá início a uma ideia. As observações, indagações e imagens vão se concatenando aos poucos. Não nascem prontas, são processos mentais onde as conexões se estabelecem gradativamente e naturalmente um fio condutor se configura. Vão se juntando olhares, impressões, pesquisas, leituras, garimpando para encontrar o ouro, ou quem sabe, até um diamante. Foi assim com esse tema que agora, irei apresentar a vocês. Não é novo, já foi destacado por vários autores que como eu, perceberam sua presença curiosa em meio aos rígidos cânones do barroco e do rococó. As vezes surge com intensidade magnífica, como na Capela de Nossa Senhora do Ó (1), em Sabará MG, considerada por Germain Bazin como a “rosa mística do Brasil”, registrada magistralmente por Sylvio de Vasconcellos em obra homônima, ora, sutilmente em figuras zoomórficas e molduras da excepcional coleção de arte sacra, no museu do Convento de Santo Antônio, em Igarassu PE, no pórtico da Fortaleza de Anhatomirim, em Florianópolis SC, ou nos telhados de Diamantina MG.
Desde criança e já vai um bom tempo, me encanta o ambiente das velhas igrejas. Sua atmosfera de recolhimento e silêncio, as imagens, as alegorias, as metáforas que estão expressas desde o passar de seus umbrais, em paredes, altares, adornos, imagens. De início, tinha um encanto religioso que foi substituído pela arte, pelas formas, pela luz diáfana, pelas estórias que esses lugares de contemplação, recolhimento, exaltação e deslumbramento evocam. É como se fossem organismos vivos, onde os milhares ou milhões de orações, súplicas, confidências, pedidos, angústias, agradecimentos, impregnassem as paredes, tetos, estatuas e as pedras do chão. Com os passar dos anos e a procura de alento para a formação de um arquiteto, conheci muitas igrejas, por esse Brasil e mundo afora, o que me ajudou a perceber a relevância artística e mística de nossa arquitetura religiosa e seu papel na superestrutura da sociedade colonial. Em seu livro Barroco e Rococó, Germain Bazin, renomado estudioso do barroco no mundo ibérico, afirma que os melhores exemplos da arte portuguesa no século 18, se encontram no Brasil. Bazin é também autor de A Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil, obra escrita no final dos anos 1950 do século passado, mas, ainda hoje, referência obrigatória para o estudo do barroco entre nós. Ao seu olhar atento não passou desapercebida a influência oriental (2).
Não é nosso propósito escrever um artigo ou ensaio em moldes estritamente acadêmicos. Muito menos abarcar tema tão vasto, a não ser superficialmente em poucas páginas. Trata-se na verdade de resgatar, entre outras, uma presença aparentemente exótica em nossa arquitetura religiosa, que precisa ser melhor conhecida e inventariada. A mesma, pode passar por um certo modismo de época sem maiores consequências, mas que permite leituras mais lúdicas e audaciosas, sobre a influência chinesa na ornamentação de igrejas em diversos pontos do território brasileiro, na imaginária, arquitetura e morfologia urbana, onde comentaremos entre outros, o caso de Diamantina MG. É forçoso, de início, registrar a relevância do livro A China no Brasil, de José Roberto Teixeira Leite, publicado pela Editora da Unicamp em 1999. Nele obtive respostas, indicações e farta bibliografia para arrematar observações que fiz aqui e acolá ao longo dos anos. Uma obra de rara expressão e muito difícil de encontrar, esgotada que está na editora. Foram meses de contínuas consultas ao site Estante Virtual até que um desavisado de sua importância resolvesse vende-la.
Identificados em afrescos e desenhos, mobiliário, cerâmica, quadros, porcelanas, objetos de uso cotidiano, estatuária religiosa, telhados e detalhes arquitetônicos, os chinesismos ou chinesices, estão presentes em templos e edifícios religiosos, e até na arquitetura civil, em vários estados brasileiros, como São Paulo, Santa Catarina, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Pará e com maior frequência em Minas Gerais (3). Contudo, a influência chinesa ultrapassa essas singularidades e veremos que sua abrangência é considerável dado, principalmente, a circulação de pessoas, mercadorias, ideias e costumes pelo vasto Império Marítimo Português que uniu os portos brasileiros aos africanos, indianos, malaios e chineses, por mais de três séculos. Logo na introdução de seu livro A China no Brasil, José Roberto Teixeira Leite nos adverte:
“E note-se que não estamos tratando aqui de chinoiseries ou chinesices, China de fantasia ou de mentira, invenção de europeus que também tivemos em dado momento, porém de influência chinesa sobre o Brasil Colonial ou já de tempos do Império: sob tal aspecto quer-nos parecer que o Brasil constitui caso único no mundo ocidental” (4).
Para contextualizar o trabalho e situa-lo teoricamente, é importante assinalar que trataremos tanto da influência chinesa, na acepção mais ampla de Teixeira Leite citada no parágrafo anterior, como do chinesismo ou chinesice que dela fazem parte. Para tanto, vamos recorrer a definições constantes de obras de referência com larga aceitação, embora a nosso ver limitadas, por não terem considerado a contextualização do comércio ultramarino já apontada, bem como o universo das manifestações. Segundo o Glossário de Arquitetura e Ornamentação do Barroco Mineiro, de autoria de Affonso Ávila, João Marcos Machado Gontijo e Reinaldo Guedes Machado, “chinesice” significa: “trabalho ornamental, geralmente pintado de vermelho, azul e ouro, à imitação oriental. Pode-se também falar de chinesices com relação aos painéis ou portas pintadas com motivos da China, existentes em algumas igrejas mineiras, a exemplo da Capela do Ó, em Sabará, e da Matriz da mesma cidade (N. Sr. ª da Conceição). Pintura de charão, verniz da China e do Japão, feito de laca e outros materiais” (5). Embora a obra citada seja de amplo reconhecimento, pois teve em sua coordenação Afonso Ávila, um dos maiores especialistas em barroco no Brasil, dado o tempo percorrido entre sua terceira edição (1996) e a atualidade, iremos nos valer também, de outra definição mais recente, consignada na dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, por Andrea Piazzaroli Longobardi, intitulado Fragmentos de visualidades chinesas no Setecentos mineiro (1720-1770), em 2011.
“Chinesices (como são chamadas em territórios brasileiro), ou chinoiseries (termo francês utilizado desde, pelo menos, o século 17) são gêneros artísticos ornamentais europeus que fazem referência ao repertório visual das artes extremo-orientais. Esse gênero de ornamentação foi difundido em território luso-brasileiro entre os séculos 17 e 19, como um desdobramento direto de sua intensa utilização na Europa Moderna”.
As mesmas segundo a autora,
“Incluem louças fabricadas na Europa, América do Norte ou na própria China, e quaisquer gêneros arquitetônicos ou ornamentais que incorporem referências diretas ou adaptadas a signos de origem extremo-oriental (Japão, Vietnã, China, Índia e Malásia)” (6).
Império Marítimo Português
Transcorreu-se pouco mais de um século para que Portugal se tornasse a maior potência marítima do século 16. Desde a tomada de Ceuta no Marrocos em 1415, até a descoberta do caminho marítimo para as Índias em 1498, foram-se realizando sucessivas viagens que, enfim, permitiram o contorno do continente africano, a “descoberta” do Brasil em 1500, e o estabelecimento de dezenas de assentamentos e feitorias nas costas brasileiras, na África Ocidental e Oriental, em Ormuz no Golfo Pérsico e em toda a região das monções. A partir principalmente de Goa, na Índia, a expansão asiática foi mais rápida. Cerca de vinte anos depois os portugueses já transitavam nas costas do sul da China. Em 1543 chegavam ao Japão.
Em O império marítimo português Charles Boxer trata de forma abrangente e ao mesmo tempo precisa tal empreitada que inaugurou o que chamamos hoje de globalização. Um país pequeno, com aproximadamente 1,25 milhões de habitantes, escassos recursos naturais e economia feudal, com cerca de 300 naus, foi capaz de estender sua rede de comércio que envolvia especiarias, tecidos, minerais preciosos e o tráfico de escravos por todos os continentes, a exceção dos polos. Pela primeira vez se estabeleceu uma rede de comércio que envolvia todo o planeta que, desde então, drenou recursos e riquezas, inicialmente para a Europa, depois para os Estados Unidos, atualmente confrontado pela China, país que foi dos mais espoliados por esse processo ainda em marcha, embora com outra dinâmica. Até então a América era desconhecida das demais civilizações, e o extremo oriente e a Europa mantinham relações esparsas e intermitentes via navegação mediterrânea e pela estrada da seda, como as relatadas por Marco Polo em seu livro de viagens. Tais narrativas eram cercadas por lendas, mitos e mistérios, como o do reino do Preste João. De localização incerta, variando da atual Etiópia e África Oriental até uma Índia indefinida e ambígua, Preste João seria um reino cristão repleto de ouro e riquezas, combatente permanente do islamismo.
Nos habituamos desde as primeiras lições de História, a ver a expansão marítima portuguesa como uma epopeia, imortalizada pelos versos de Luís de Camões em Os Lusíadas. Contudo, obras como Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto, contemporâneo de Camões, situada entre a literatura e o relato de viagens, tenha retratado inúmeros atos de crueldade e pirataria, dissimulados pelo propósito de conversão dos infiéis. Os mercadores, soldados e padres andavam sempre juntos, como nos lembra Padre Antônio Vieira em sua profética obra História do Futuro.
“Se não houvessem mercadores que fossem procurar os tesouros da terra no Oriente e nas Índias Ocidentais, quem transportaria para lá os pregadores que levam os tesouros celestes? Os pregadores levam o Evangelho e os mercadores levam os pregadores” (7).
As maiores características desse monumental império eram a dispersão geográfica e a fragmentação territorial, política, étnica, religiosa e cultural. Tal qual seus vizinhos peninsulares, os espanhóis – em relação aos impérios inca e asteca – em pouco tempo, se valendo das circunstâncias favoráveis, de alianças oportunistas e da violência de seus exércitos, mesmo dispondo de recursos reduzidos, lograram êxito em uma aventura jamais vista na história humana.
A Carreira da Índia
A Carreira da Índia, ou viagem de ida e volta de Portugal a Índia, foi inaugurada por Vasco da Gama em 1498, quando de sua chegada a Calicute, iniciando um intercâmbio de mercadorias e ideias que iriam alterar a face do planeta para sempre, impondo o imperialismo colonial europeu aos países da América, África e Ásia. Durou por cerca de trezentos anos, até o advento do navio a vapor em meados do século 19. Dois enclaves sobreviveram até o século passado, quando retornaram a soberania de seus países originais. Goa em 1961 e Macau em 1999. Seu ápice nos séculos 16 e 17, alçaram Portugal a condição de potência marítima mundial e deflagraram uma corrida mercantilista, que envolveria outras nações europeias como Espanha, Holanda, Inglaterra e França. Esse processo, marcado pela violência e competição acirrada, iria determinar a geopolítica mundial com consequências e conflitos que perduram até a atualidade. País de menores recursos humanos e materiais, quando confrontados com seus oponentes, e arraigado a um fundamentalismo religioso e preconceitos étnicos, especialmente a judeus e cristãos novos, limitaram sobremaneira o financiamento e estruturação comercial da empreitada colonial. Portugal, já no século 17, viu sua participação declinar substancialmente. A descoberta de ouro e diamantes no Brasil dos setecentos, embora tenha carreado grande riqueza para a nação lusa, estimada em mais de mil toneladas do precioso metal, já a encontrou em uma posição subsidiária no mercado internacional, dominado pela Inglaterra, Holanda e França. Especialmente a primeira acabou por ser a grande beneficiária do comércio marítimo instalado pelas descobertas portuguesas. Comércio esse que além de mercadorias, envolvia a desumana e lucrativa prática do aprisionamento e tráfico de pessoas, submetidas a mais vil escravidão. Apenas o tráfico transatlântico atingiu a cifra de 12 milhões de almas. Os números são muito superiores se incluirmos o escravismo no oceano Índico. O acumulo de capitais daí decorrente gerou as bases para a revolução industrial na segunda metade do 18, instalando uma nova ordem capitalista na economia mundial. O tratado de Meuthen, assinado entre as coroas portuguesa e inglesa em 1703, assegurando a Portugal a isenção das tarifas alfandegárias ao vinho e a Inglaterra a de tecidos, não só inibiram a industrialização, inclusive das colônias, entre elas o Brasil, como também determinaram sua subordinação aos interesses britânicos. A demanda e o valor agregado da fabricação de tecidos eram muito superior ao da indústria do vinho, pendendo a balança para a Inglaterra e solapando a frágil atividade manufatureira de Portugal.
Reconhecida por ser a mais longa e árdua viagem de navio do mundo, a Carreira da Índia tinha a duração de um ano e meio, em condições climáticas favoráveis. Os ventos, correntes marítimas e as monções eram determinantes nas condições e tempo das viagens. A adversidade de alguma dessas variáveis, poderiam aumentar o prazo em vários meses, seja para aguardar a melhoria das condições meteorológicas, abastecimento de víveres e água, bem como reparos nas embarcações sujeitas a avarias por tempestades e outros acontecimentos. A pirataria e as doenças a bordo com altas taxas de letalidade, muito comuns, eram outros incidentes que ocorriam com frequência e provocavam consideráveis transtornos e atrasos. Importante destacar que cerca de 20% das embarcações naufragavam com grandes perdas humanas e materiais.
Nas primeiras décadas do comércio ultramarino as naus recebiam ordens expressas da coroa de não aportar em pontos intermediários entre a rota Lisboa-Goa-Lisboa, a não ser em casos de extrema necessidade. Tal medida tinha por objetivo combater o contrabando e assegurar o monopólio português sobre as especiarias e outras mercadorias importadas. No caso do Brasil, a partir da segunda metade do século 16, após a fundação da cidade de Salvador em 1549, a instalação de uma infraestrutura portuária e de atrativos comerciais, determinaram as primeiras escalas de naus vinculadas a Carreira da Índia, seja por motivos técnicos, seja para o embarque de bens como o açúcar e o tabaco, de grande aceitação nos mercados europeus, africanos e asiáticos. No entanto, o controle estatal para debelar o contrabando, permaneceu severo até o ano de 1672, quando houve permissão para que os produtos brasileiros pudessem ser embarcados para outros mercados diretamente. A essa altura outros dois portos importantes haviam se incorporado ao comércio internacional, os do Rio de Janeiro e de Recife.
Em sua obra A Bahia e a Carreira da Índia (8), José Roberto do Amaral Lapa, traça um minucioso painel da inserção brasileira no âmbito da navegação transoceânica. Demonstra que tanto por intermédio do comércio legal, quanto do contrabando, bem como de isenções alfandegárias a oficiais e tripulantes de navios, uma quantidade e diversidade considerável de bens, adentravam no país. Explicita também que, muito além do senso comum, orientais de várias etnias e culturas, tripulantes de navios portugueses e de outras nacionalidades tinham contato com os portos e a população do Brasil, carregando consigo hábitos e demais signos identitários como a língua, vestimenta, culinária, religião. Além das clássicas especiarias: pimenta, canela, noz-moscada, cravo, gengibre, almíscar, sândalo, haviam as pérolas, rubis, âmbar, porcelanas, tecidos dos mais diversos padrões e qualidades, sedas, objetos de vidro e louça, mobiliários, artigos de cozinha e ornamentação, bem como luxuosas “cadeirinhas” e “palanquins”. Do Brasil levavam para a África e o Oriente, principalmente açúcar e tabaco, muito apreciado na China. Nossos produtos acompanhavam cargas de prata, chumbo e cobre, além de miudezas e objetos que Portugal exportava para suas feitorias e colônias.
A administração desses vastos domínios era confiada a altos funcionários do império ultramarino, civis e militares, vários deles pertencendo a nobreza, que se revezavam entre as diferentes colônias. Muitos deles trabalharam no Brasil e em outras paragens, como Goa, Macau e Malaca e vice-versa (9). Membros das diversas ordens religiosas, especialmente os jesuítas, também se incorporavam ao xadrez colonialista, na aliança "entre a cruz e a espada", para salvaguardar os interesses da coroa. Era comum que as frotas recrutassem naturais da terra, para preencherem os “claros”, decorrentes do alto índice de letalidade das viagens. Há registros de artificies e arquitetos que passaram vários anos no Oriente e depois se estabeleceram no país. Dois deles merecem especial destaque: o jesuíta francês Charles de Belleville que viveu na China por dez anos e adotou o nome de Wei Chia-Lu, com atribuição de importantes realizações na Bahia, onde morou desde 1708 por 22 anos, como a Igreja do Seminário Jesuíta de Belém da Cachoeira e da Igreja do Colégio dos Jesuítas em Salvador BA; e Jacinto Ribeiro, a quem Rodrigo Mello Franco de Andrade, fundador e Presidente por trinta anos do atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, atribui a pintura do retábulo e demais elementos da Capela de Nossa Senhora do Ó em Sabará MG, considerada a obra prima do chinesismo no Brasil.
O Oriente no Brasil
Em seu livro Sobrados e Mocambos de 1936, parte da trilogia iniciada em 1933 por Casa-Grande e Senzala e concluída com Ordem e Progresso em 1945, Gilberto Freire escreve um capítulo, denominado “O Oriente e o Ocidente” para analisar e descrever hábitos e costumes presentes no Brasil, na região Nordeste, de origens orientais, especialmente das colônias portuguesas na Índia e China. Freire dedica-se especialmente a narrar as transformações nos modos de ser, estar e produzir, no período compreendido entre o final do século 18 e início do 19, quando as mudanças determinadas pela Revolução Industrial, intensificadas sobremaneira após a Abertura dos Portos decretada por Dom João VI em 1808, passam a produzir efeitos nas ordens econômica, social, política e cultural. Há, por um lado, um declínio do paternalismo senhorial, representado pelo senhor de engenho, e por outro, a ascensão de comerciantes, burocratas, médicos, advogados, técnicos e artífices, necessários as novas formas de organização da economia e da sociedade. Em sua visão conciliatória e conservadora, de acomodação dos antagonismos irreconciliáveis presentes na escravidão, porém arguta e detalhista, aponta as gradativas alterações que então aconteciam, insuficientes, contudo, para alterar o status quo e imprimir uma nova dinâmica distributiva nas relações sociais e econômicas. Como na famosa frase de Tomasi di Lampedusa, em seu livro O Leopardo, “algo deve mudar para que tudo continue como está”.
São muitas as presenças e influências orientais anotadas e comentadas. De várias naturezas abarcam desde aspectos fulcrais da ordem social – como a severa submissão feminina, que nas famílias senhoriais saíam de casa três vezes: no batismo, casamento e enterro – a brincadeiras e folguedos, passando pelo vestuário, mobiliário, artes e ornamentação, arquitetura, culinária, utensílios e até a flora representada pelas mangueiras, jaqueiras, coqueiros, tamarindos e gameleiras tão presentes entre nós, que já se tornaram filhas da terra. Mais adiante iremos tratar especificamente de algumas delas, especialmente nas artes e na arquitetura, aquelas que são denominadas chinesismos, na acepção deste artigo.
Na página 738 de Sobrados e Mocambos, Freire assim sintetiza a abrangência da influência oriental:
“Pois o que parece é que, ao findar o século 18 e ao principiar 19, em nenhuma outra área americana o palanquim, a esteira, a quitanda, o chafariz, o fogo de vista, a telha côncava, o banguê, a rótula ou gelosia de madeira, o xale e o turbante de mulher, a casa caiada de branco ou pintada de cor viva e em forma de pagode, as pontas de beiral de telhado arrebitadas em cornos de lua, o azulejo, o coqueiro e a mangueira da Índia, a elefantíase dos árabes, o cuscuz, o alfeolo, o alfenim, o arroz doce com canela, o cravo das Molucas, a canela de Ceilão, a pimenta de Cochim, o chá da China, a cânfora de Bornéu, a moscadeira de Bandu, a fazenda e a louça da China e da Índia, os perfumes do Oriente, haviam se com o mesmo à-vontade que no Brasil; e formado com valores indígenas, europeus e de outras procedências o mesmo conjunto simbiótico de natureza e cultura que chegou a formar no nosso país”.
Ele opina no sentido de que nossos laços com o Oriente, fossem então mais fortes do que com o Ocidente, graças ao espírito conciliador dos portugueses entre as duas influências as quais estiveram historicamente submetidos.
Importante assinalar que, além do comércio via Carreira da Índia e da administração do império ultramarino até o período analisado por Freire, a escravidão de origem oriental, pouco conhecida e estudada entre nós, teve algum significado e possivelmente influenciou nossa cultura, como relata José Roberto Teixeira Leite, referindo-se a uma passagem de Charles Boxer, em A Idade de Ouro do Brasil.
“Ideias e costumes da China podem ter-nos chegado também através de escravos chineses, de uns poucos dos quais sabe-se da presença no Brasil, de começo dos Setecentos. Mas não deve ter sido através desses raros infelizes que a influência nos atingiu, mesmo porque escravos chineses (e também japoneses) já existiam aos montes em Lisboa por volta de 1758, quando Filippo Sassetti visitou a cidade, apenas suplantados em número pelos africanos. Parece aliás que aos últimos cabia o trabalho pesado, ficando reservado aos chins tarefas e funções mais amenas, inclusive a de em certos casos secretariar autoridades civis, religiosas e militares” (10).
Embora não na condição de escravos, mas de “trabalhadores livres” – sujeitos a condições desumanas de trabalho – alguns milhares de chineses mediante ardis e falsas promessas, foram aliciados em Macau, para dar início a cultura do chá entre nós. Tal iniciativa protagonizada por D. João VI, teve seu locus no recém-criado Jardim Botânico do Rio de Janeiro de onde se espalhou para outros locais. Durante o século 19, com o objetivo de substituir a mão de obra escrava, várias tentativas foram realizadas para ampliar a imigração dos “chins”. Cercadas de grande polémica no parlamento e na imprensa, não lograram êxito em seu propósito. A imigração europeia atendia melhor aos anseios de branqueamento, de um país cuja população era predominantemente de origem indígena e africana.
A porcelana chinesa, mesmo aquela depois fabricada na Inglaterra e em Portugal, foi, durante muito tempo sinal de status e símbolo de uma China fantasiosa. Era tal a sua reputação que o 6º Conde dos Arcos, Vice-Rei do Brasil, Marcos Noronha, escreveu em meados do século 18 que a porcelana era “a droga que mais facilmente se vendia no Brasil”. Em muitos casos eram bens de herança e chegavam até os mais distantes rincões do país, em lombo de burros depois de uma longa viagem transoceânica. Eram, a exceção das casas dos muito ricos, destinadas aos dias de gala e grandes celebrações. Presente entre nós desde o século 18, caracterizava-se via de regra pelas cores branco e azul e apresentava arranjos vegetais estilizados, nuvens, trechos de lagos e terras, pontes, barcos e pombos e uma ou duas representações de pagodes. Ficou conhecida mundialmente pelo seu nome em inglês willow (11). Quase sempre com variadas composições dos elementos acima citados, contava uma estória de amor: a paixão da filha de um mandarim por seu secretário, considerado indigno. O enamorado foi banido e a filha confinada à casa paterna. Disfarçado de soldado, ele conseguiu fugir com a mulher amada, já prometida a outro pretendente. Furioso, o pai persegui-os e encontrou-os em uma choupana a beira de um rio. O mandarim ateou fogo à choupana e os dois amantes pereceram como deuses e transformaram-se em um casal de pombos. Possivelmente daí tenha se originado a expressão “como dois pombinhos”, referência comum a um casal apaixonado.
A escritora goiana Cora Coralina, celebrizou a porcelana chinesa na poesia brasileira, com seu encantador poema "O prato azul pombinho" (12), que recentemente foi transformado em filme. Ela nos fala de um aparelho antigo de 92 peças, que pertencera a sua bisavó e do qual remanescera apenas uma peça, que infelizmente se quebrou. Como recomendo firmemente sua leitura, reproduzirei aqui apenas uma estrofe:
"Era, na verdade um enlevo.
Tinha seus desenhos
Em miniaturas delicadas:
Todo azul forte,
Em fundo claro
Num meio relevo.
Galhadas de árvores e flores,
Estilizadas.
Um templo enfeitado de lanternas.
Uma ilha. Um quiosque rendilhado.
Um braço de mar.
Um pagode e um palácio chinês.
Uma ponte. Um barco com sua coberta de seda.
Pombos sobrevoando".
Como já comentado por Teixeira Leite citado na página 2, o Brasil ocupou uma posição única no mundo no que diz respeito a influência chinesa. O fato de Salvador e o Rio de Janeiro, situarem-se como um portos estratégicos e seguros, intermediários na Carreira da Índia que unia o Ocidente ao Oriente, a produção de açúcar e fumo do Recôncavo e a descoberta de ouro e diamantes ao final do 17, colocou o Brasil em uma situação privilegiada no comércio ultramarino. A tal ponto, segundo Russel-Wood, que o diplomata português D. Luís da Cunha, propôs ao Rei D. João V, em 1736, que assumisse o título de imperador e passasse a residir no Rio de Janeiro, com vistas a melhor integrar o império composto por territórios europeus, americanos, africanos e asiáticos. Poderíamos falar de dois momentos: no primeiro que se estende até o final do século 18, a influência asiática seria direta pois o comércio se dava, na maioria das vezes, sem intermediação de outras nações. Em um segundo, após o declínio da Carreira da Índia e a abertura dos portos no Brasil, tal vínculo se esvanece, substituído pelo comércio dominado pelos ingleses, como nos descreveu Gilberto Freyre, em Sobrados e Mocambos. Como decorrência novos hábitos e influências culturais se estabelecem, e há um declínio da influência oriental, restrita a objetos, mobiliários e a porcelana “azul pombinho” já mencionada. Embora em nossa pesquisa tenhamos identificado manifestações da influência chinesa, em vários pontos do território nacional, iremos nos concentrar em três exemplos que nos parecem representativos dessas ocorrências: a igreja de Nossa Senhora da Expectação do Parto – N.S. do Ó, em Sabará MG; a igreja de Belém de Cachoeira e a coleção de Cristos Chineses da Ordem Terceira do Carmo, ambos em Cachoeira BA; e a morfologia arquitetônica e urbana e toponímia de Diamantina MG.
A Rosa Mística do Brasil
O Estado de Minas Gerais é, sem dúvida, o que detém o maior acervo de chinesismos no Brasil. Em muitas igrejas e capelas, desde pequenos afrescos imersos na profusão barroca, até retábulos e painéis inteiros, cadeirais e órgãos como na Sé de Mariana, bem como a famosa “Porta de Macau” (13) na Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Sabará, eles estão presentes em uma referência algo profana, desgarrada dos cânones eclesiásticos. Ao lista-los incorremos no risco de cometer omissões, pela ausência de um inventário minucioso de suas ocorrências e origens. Ouro Preto, Sabará, Mariana, Santa Bárbara, Caetés, Diamantina, Catas Altas, Barão de Cocais, Conceição do Mato Dentro, Ouro Branco, Nova Era, são algumas das cidades onde podemos encontra-los.
A Capela de Nossa Senhora da Expectação do Parto, ou Nossa Senhora do Ó em Sabará MG, ocupa um lugar de destaque no contexto dessas manifestações em Minas Gerais e no Brasil. Sua singular configuração arquitetônica nos remete, de imediato, a identificar elementos plásticos de um pagode chinês. Pequena, despojada, frontispício chanfrado, torre sineira única central, com telhado pontiagudo e pontas arrebitadas em formato de folhas de acanto. Sua aparência externa nem de longe insinua, o que nos aguarda ao transpormos seus umbrais. Uma verdadeira explosão de talha dourada, no melhor estilo nacional português: arquivoltas, colunas torsas, grutescos, forro em caixotões com pinturas alusivas ao culto da Virgem Maria, púlpito e coro. As paredes laterais são revestidas de painéis em madeira com cenas bíblicas e o retábulo com sete painéis que evocam paisagens e personagens de uma China mítica e distante.
Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, desde o ano de sua fundação em 1938, a capela sempre atraiu a atenção de estudiosos da arquitetura religiosa, especialmente aqueles dedicados ao estudo do barroco. Rodrigo Melo Franco de Andrade, German Bazin e Sylvio Vasconcellos são alguns dos muitos que se dedicaram a pesquisar sua história e se debruçar sobre sua relevância e peculiaridades. Embora não seja única em seu gênero – existem outras semelhantes em Catas Altas, Diamantina, Caetés, Santa Barbará, Conceição do Mato Dentro, São Gonçalo do Rio Abaixo, Inhaí, Serro e Milho Verde – a capela assume especial relevância pela riqueza de sua talha interior e pela presença em seu retábulo de painéis em madeira com motivos chineses como já destacado. Essa peculiaridade tem sido objeto de vários estudos, sobre suas origens e diferentes especulações sobre quem, com que propósito e sob quais influências as elaborou. Em seu ensaio “A Pintura Colonial em Minas Gerais”, publicado post-mortem em 1978, Rodrigo Melo Franco de Andrade, assinala a ancestralidade (1720) da obra, o apuro de suas pinturas, seu esplendor e singularidade. Atribuí a pintura do forro, paredes laterais e retábulo, onde figuram os painéis com chinesismos, à Jacinto Ribeiro, artista natural da Índia, morador na comarca de Camargos, que trabalhou na região entre 1711 e 1740. Rodrigo assevera que quando da realização das pinturas (1720-22), não haviam antecedentes identificados no Brasil de chinecises em igrejas ou capelas, resguardando-se de eventuais questionamentos, pois a voz corrente entre os estudiosos do tema, é de que tais representações eram originárias de imagens existentes na denominada “porcelana de Macau”, devidamente europeizadas. Sylvio de Vasconcellos, arquiteto e professor, colega de Rodrigo no Iphan, defende essa posição em sua obra NSÓ – iniciais de Nossa Senhora do Ó – em que estuda as origens, peculiaridades e transformações do templo ao longo do tempo. Já José Roberto Teixeira Leite, questiona a atribuição de Rodrigo com vários argumentos. O primeiro deles é com respeito a nacionalidade do artista. Para ele, seria inadequado classificar sob o rótulo de oriental, culturas díspares como a indiana e a chinesa. O segundo é quanto a datação. Tanto Rodrigo quanto Sylvio, defendem que as pinturas foram executadas entre 1720 e 1722. José Roberto questiona alegando que nessa data, ainda não teriam chegado a Portugal e consequentemente ao Brasil, as chinesices gestadas na França em meados do 18 e que, portanto, não seria crível sua aparição em data anterior. Importante assinalar, que elementos pictóricos de origem chinesa, seja na Igreja do Colégio Jesuítico da Bahia, em Salvador, seja na Igreja e Convento de Bonfim da Cachoeira, em Cachoeira, Bahia, já se faziam presentes em data análoga a de Sabará.
Trata-se de uma polêmica que envolve três grandes estudiosos da arte e da arquitetura barroca. O cotejamento entre as obras dos citados e de outras, como a de Andrea Longobardi, permiti-nos inferir que é necessário o aprofundamento das pesquisas documentais e laboratoriais, para estabelecer a cronologia correta. Em minha singela opinião, em parte corroborada pela autora citada e pelo próprio José Roberto em outras passagens de seu livro A China no Brasil, nada impede que tenha ocorrido um vínculo entre as chinesices de N. S. do Ó e pessoas ou objetos relacionados diretamente a China. Vale lembrar que o comércio com a Índia e a China já era significativo em 1720, graças a instrução que autorizava o embarque de produtos brasileiros na carreira da Índia em 1672, já mencionada. Em sua dissertação, Fragmentos de Virtualidades Chinesas no Setecentos Mineiro, na página 150, Andrea faz a seguinte afirmação:
“O fato é que, somente na Comarca de Sabará, foram encontrados modelos semelhantes de talha (MG). Além da Igreja de Nossa Senhora da Expectação do Parto, o mesmo modelo foi repetido em outros dois templos: Matriz de Nossa Senhora da Conceição e a Capela de Santo Antônio do Pompéu”.
Importante destacarmos as modificações que Capela sofreu ao longo do tempo, especialmente a que lhe atribuiu a configuração atual. Mediante escritura pública datada de 8 de janeiro de 1719, o Capitão-mor, Lucas Ribeiro de Almeida, ajusta com o Ajudante Manuel da Mota Torres, os serviços necessários à construção da Capela. Por esse documento ficamos sabendo que o tamanho da nave era de 60 palmos de comprimento por 32 de largura, equivalentes a 10,80m x 5,76m, e que o valor das obras foi de 800 oitavas de ouro, equivalentes a 2,86 kg, quantia considerável para a época. Na sequência foram executados o recobrimento interno com seus painéis e pintura, bem como o acréscimo do átrio e a ampliação do coro e da dependência lateral. Segundo Sylvio Vasconcellos, o frontispício chanfrado e a torre sineira central foram acrescentados em 1782, data gravada no sino, quando a Capela assume sua configuração atual – de inspiração “palladiana”- segundo Bazin, bem diversa da concepção original, originando uma tipologia de capelas que estão presentes em várias outras cidades de Minas Gerais anteriormente citadas. Após seu tombamento em 1938, a capela é objeto de obras de restauro pelo Iphan, em 1944, com objetivo de eliminar acréscimos e alterações levadas a efeito ao longo dos anos e recuperar e conservar as pinturas e a talha dourada, danificadas e sujeitas a intervenções desastrosas.
Os cristos chineses de Cachoeira
A cidade de Cachoeira situada no recôncavo baiano as margens do Rio Paraguaçu, é uma das joias do barroco no Brasil. Sua região é ocupada desde o século 16 por engenhos de açúcar e a povoação teve início na segunda metade do 17. A riqueza da cana e do fumo determinaram a ocupação do território e a construção de vários conventos e igrejas, especialmente os ligados as ordens religiosas. São exemplos desse esplendor os conventos e igrejas franciscanos de Santo Antônio, nas cidades de São Francisco do Paraguaçu – infelizmente em processo de arruinamento – o de Cairú e o de São Francisco do Conde. Os jesuítas em Belém de Cachoeira, onde infelizmente apenas a igreja sobreviveu e o Convento e igreja de Nossa Senhora do Carmo em Cachoeira. A ordem terceira carmelita abriga uma das mais belas e sugestivas relíquias do chinesismo no Brasil: os sete Cristos Chineses de Cachoeira.
Os portos de Salvador e do Rio de Janeiro foram, durante muito tempo os grandes responsáveis pela inserção do país no comércio ultramarino português e na Carreira da Índia. O fumo produzido no recôncavo e, especialmente na região de Cachoeira, possuía larga aceitação no Oriente, especialmente nos portos de Goa e Macau. Até os dias de hoje, o tabaco cachoeirense é de reconhecida qualidade, abrigando a cidade várias fábricas de charutos. José Roberto do Amaral Lapa, em seu já citado livro A Bahia e a Carreira da Índia, menciona sua especial aceitação principalmente na China, onde era consumido em pó na forma de rapé. Na página 293, ele faz a seguinte observação: “Em todo caso no que diz respeito à China, segundo um memorialista do século 18, ela representava em potencial um mercado consumidor de grandes possibilidades, particularmente para o tabaco em pó”. Menciona ainda o autor que o fumo além de aspirado, era utilizado como remédio para doenças nos olhos com excelentes resultados.
Vemos, pois que, diferente de Minas Gerais, especialmente em Sabará e adjacências, onde o contato era indireto e difuso, na Bahia a relação se fazia de forma direta. Recebiam-se mercadorias, viajantes, religiosos – principalmente jesuítas – marinheiros de vários pontos do oriente. Havia uma interação comercial, mas também cultural (14). Se no caso das chinesices de Minas Gerais, pode-se aventar que as manifestações seriam meras cópias de originais já europeizados, o que em nada diminui sua singularidade, tal possibilidade não se aplica a Bahia. Seja pela demonstração da existência de um contato permanente, seja pela qualidade dos trabalhos e peças que iremos nos referir.
O conjunto do Carmo de Cachoeira foi tombado pelo Iphan em 1938, fazendo parte dos primeiros bens do patrimônio cultural brasileiro, protegidos pela instituição. Na década passada foi restaurado pelo Programa Monumenta do Ministério da Cultura e Iphan.
O livro O Conjunto do Carmo de Cachoeira, publicado pelo Iphan e organizado por Maria Helena Flexor, nos traz com detalhes o histórico e informações de Cachoeira, das igrejas e convento que compõem o conjunto, bem como registra as relevantes obras de restauro empreendidas ao longo do tempo pelo Iphan, para a conservação das edificações. Embora de excelente qualidade, o livro se limita a nos informar sobre caráter singular dos “cristos chineses”, as ações de restauro e conservação aos quais foram submetidos e a documenta-los fotograficamente. Nada diz sobre suas origens e autoria, ou se aprofunda sobre seu significado no contexto do barroco. Uma única menção é feita a influência chinesa, por intermédio da seguinte citação do livro de Germain Bazin, A Arquitetura Religiosa Barroca no Brasil, à página 174:
“Com a igreja do convento dos carmelitas em Cachoeira, temos um templo datado. Sua fachada traz inscrita a data de 1773. A torre, recuada, atrás da fachada, é arrematada por um bulbo com ressaltos, apoiado sobre um zimbório. O frontão, cristado de chamas, reflete a influência chinesa, tão perceptível no rococó português”.
No âmbito desse trabalho constituído de pesquisa secundária, não foi possível obter maiores informações sobre as origens e procedência da coleção. Muitos a atribuem ao padre jesuíta francês, Charles Belville, que residiu por dez anos na China e aportou na Bahia em 1708, vindo a falecer na cidade de Salvador em 1730. Tal atribuição reputa-se ao Padre Serafim Leite, jesuíta, autor da monumental História da Companhia de Jesus no Brasil. A consulta a obra não permite confirmar essa hipótese, embora registre sua presença em Cachoeira durante as primeiras décadas do século 18. Bom lembrar que embora a igreja do Carmo tenha sido concluída em 1773, suas obras tiveram início em décadas anteriores. A professora do Departamento de Teoria Literária da Unicamp, Adma Muhana, autora do artigo “Brasil: Índia Ocidental”, publicado na Revista da USP n. 57, em março de 2003, aventa a hipótese de que algumas das imagens teriam origem na Índia portuguesa, e que as demais seriam cópias. Todavia, submete tal arbítrio, a pesquisa em arquivos onde também poderia ser identificada, a origem do belo armário existente no consistório da igreja ornado com motivos orientais (14). Pelo visto, o mistério da autoria dos “cristos chineses”, ainda perdurará pelos anos vindouros.
Belém de Cachoeira
Próximo a Cachoeira está localizado o distrito de Belém de Cachoeira onde se situa a igreja do mesmo nome. Originalmente, além da igreja, existia também um convento e seminário jesuíta, fundados pelo padre Alexandre de Gusmão, renomado educador religioso, autor de várias obras literárias, que erigiu a igreja e o convento com esmolas e rendas das propriedades da Companhia de Jesus. O seminário se notabilizou por abrigar alunos pobres e realizou intensa atividade educacional até a expulsão dos jesuítas em 1759. Alexandre de Gusmão faleceu em 1724, aos 95 anos e não deve ser confundido com seu homônimo, eminente diplomata nascido no Brasil em 1695, que teve papel fundamental na negociação do Tratado de Madri, assinado entre Portugal e Espanha, que definiu os limites entre as duas coroas na América do Sul. Foi o responsável pela elaboração da doutrina uti possidetis, que estabelecia que cada pactuante devia reter para si, os territórios que efetivamente ocupassem. Sua adoção permitiu que o território brasileiro, fosse muito além do estabelecido no Tratado de Tordesilhas, configurando em grande parte, a nossa atual delimitação geográfica.
As obras do conjunto foram iniciadas em 1686 e concluídas em 1725. Ao jesuíta Charles Belville é atribuída por Serafim Leite, participação na feitura da torre da igreja – revestida de pratos de porcelana de Macau – púlpitos e no teto da sacristia (16). Ele se utiliza de um artigo do poeta Godofredo Filho, publicado no n. 1 da Revista do Iphan, em 1937, para descrever o trabalho de Belville:
“Em nenhum exemplar de arte portuguesa no Brasil, vemos como ali a influência exata, nítida, inconfundível, da beleza oriental. Parece que os pintores estavam possuídos do segredo de todas as chinesices e queriam transmitir-nos, não a floração movimentada e ciclópica, que nos é peculiar, mas o apaziguante de uma iluminura quase irreal, tocada do sentimento de miragem universal das coisas”.
A presença do artista francês também é mencionada em outras intervenções, como na Catedral Basílica de Salvador, antiga igreja do Colégio dos Jesuítas.
A imagem acima exibe um apuro formal e motivos bem diversos dos encontrados em Minas Gerais. No lugar de pagodes, pombos, pontes e árvores estilizadas, motivos florais circuncêntricos, multicores, de delicada feitura, enquadrados em caprichosa marchetaria dourada. Tais diferenças podem ser atribuídas tanto a artistas como Belville, que tiveram contato direto com a cultura chinesa, como ao fato de que Salvador à época era um porto vinculado a Carreira da Índia, recebendo mercadorias e influências do oriente. Importante lembrar que na Bahia ao final do século 17, se desenvolvia intensa atividade de produção de arte e arquitetura religiosas nas ordens jesuítica, carmelita e franciscana. A Catedral Basílica de Salvador teve suas obras concluídas em datas próximas as de Belém da Cachoeira.
Diamantina
A cidade de Diamantina, antigo Arraial do Tijuco, distingue-se das demais cidades e vilas do denominado Ciclo do Ouro em Minas Gerais, por sua singular arquitetura religiosa, mais despojada e de proporções mais singelas. Contempla soluções diferenciadas, mas que não lhes tira a graça e a originalidade. Sua estruturação territorial e urbana, embora também composta pela junção de arraiais e ocupações esparsas, adota uma configuração mais adensada e ortogonal. Sylvio de Vasconcellos em seu artigo “Formação Urbana do Arraial do Tejuco”, publicado na Revista do Iphan, n. 14, 1959, assim se refere a gênese do núcleo:
“O Arraial do Tijuco, ao contrário, adotou solução quadrangular, concentrada e reticular, semelhante à observada pelos povoados litorâneos brasileiros, mas de acordo com os princípios urbanísticos recomendados pela administração portuguesa. Deles difere apenas pela ausência de praças, que se pode atribuir à inexistência, no lugar, de Casa de Câmara e Cadeia, com seu competente pelourinho, construções que, por sua dignidade, no geral determinavam as aludidas praças”.
Segundo José Felício dos Santos em Memórias do Distrito Diamantino, publicado em 1868, a formação do arraial iniciou-se ao final do século 17, início do 18, quando da descoberta de ouro no córrego do Tijuco, próxima a confluência dos rios Grande e Piruruca (17). O achado foi de tal abundância que logo afluíram para o local muitos outros mineiros, estabelecendo-se inicialmente em um local o qual denominaram de Burgalhau, nome até hoje de uma rua da cidade. Burgalhau é sinônimo de seixos e pedras miúdas soltas, próprias das grupiaras. Situado em uma posição que integra o maciço divisor de três bacias hidrográficas, a do São Francisco; do Doce e do Jequitinhonha, o Tijuco esteve desde o início subordinado a Serro do Frio, cuja fundação deu-se apenas alguns anos antes e que foi elevada a comarca em 1720 e sua denominação alterada para Vila do Príncipe. Tal situação só foi superada em 1831, quando de sua emancipação. Este fato entre outras consequências, é determinante na configuração urbana, o que explica a ausência de praças onde normalmente se instalavam os poderes secular e religioso e a construção de algumas igrejas em locais de reduzida dominância espacial e visual.
Conforme nos relata Sylvio Vasconcellos, os caminhos de penetração na região aurífera ocorriam sempre nos divisores de bacias, uma estratégia para evitar o desconforto de constantes subidas e decidas, os cursos d’água e permitir uma visão panorâmica. A cidade localizada em uma encruzilhada, estruturou-se a partir de quatro pequenos arraiais: o Arraial de Baixo no caminho para o Serro; o do Rio Grande no caminho para Minas Novas; o de cima para a Barra do Guaicuí (Pirapora) e o de Macau ou dos Forros no caminho para Montes Claros, configurando uma área quadrangular. A conurbação desses povoamentos foi facilitada pelas condições topográficas e a localização em seu centro da antiga Matriz de Santo Antônio e da Casa do Contrato, sede da administração do Distrito Diamantino. Foi determinante para uma malha urbana mais compacta, apesar da espontaneidade inicial semelhante a outras cidades mineiras, as rígidas e autoritárias medidas adotadas pela coroa portuguesa, para evitar a evasão fiscal e o contrabando de diamantes. Tais normas taxavam os produtos e pessoas que ingressavam no distrito, regulavam o número e localização de estabelecimentos comerciais e suas atividades, chegando até a impor restrições ao trabalho dos denominados escravos de ganho. No último quartel do século 18, o atual núcleo histórico tombado já estava definido, conforme planta urbana da época, constante dos livros de Aires da Mata Machado Filho (18) e José Felício dos Santos.
O anúncio da descoberta de diamantes em 1729, alterou substancialmente a vida dos habitantes e da administração, embora existam notícias de que sua exploração já ocorria em datas anteriores. Em 1734, foram suspensas todas as licenças de lavra, até então livres, a exceção daquelas exclusivamente auríferas e demarcado o denominado Distrito Diamantino, – região onde o controle das atividades mineradoras era subordinado a comarca de Serro do Frio. Em 1739, sob nova modalidade de administração, a contratação, a mineração diamantina é retomada. A cada quatro anos os direitos de exploração eram arrematados pela maior quantia. Ao mesmo tempo que se controlavam os preços no mercado internacional, a coroa recebia antecipadamente. Em 1771, no âmbito das denominadas Reformas Pombalinas (19), a extração se tornou privativa da Real Fazenda, situação que perdurou até o ano de 1853, quando finalmente foi extinta. Contratadores e intendentes entraram para a história, como Felisberto Caldeira Brant, destituído e aprisionado em Lisboa, João Fernandes de Oliveira, pai e filho, cuja união com a ex-escrava conhecida como Chica da Silva, a tornou célebre no imaginário popular e Manuel Ferreira da Câmara Bittencourt Aguiar e Sá, conhecido como Intendente Câmara, um dos precursores da metalurgia no Brasil e senador do império.
A quantidade de diamantes exportada para a Europa era tal, que foi necessária a suspensão das lavras em 1734, pois o preço caiu consideravelmente, a ponto de deixar de ser um artigo de luxo, restrito a nobreza e a alta burguesia. O verbete “diamante”, do Dicionário Histórico das Minas Gerais, estima baseado em diversas fontes, que a produção de diamantes ao longo do século 18, na região de Serro do Frio, foi da ordem de 3 milhões de quilates, ou 600 quilos (20).
Macau é aqui
Em minhas viagens a Diamantina na última década, chamou-me a atenção além da peculiar arquitetura religiosa, o bucolismo e a riqueza da paisagem, emoldurada pela Serra dos Cristais. Ao longe, a sudeste, vê-se o pico do Itambé, principal acidente geográfico da região, que durante as explorações à cata de ouro e pedras preciosas, orientou os aventureiros e viajantes. O centro histórico tombado pelo Iphan e reconhecido pela Unesco como patrimônio da Humanidade, conserva grande parte de suas características originais. São poucos os edifícios institucionais: o Fórum, o Museu do Diamante, a Santa Casa e a antiga Intendência. Os telhados das igrejas e das casas definem a linha de cumeada, sempre com as torres das primeiras em destaque, graças a sua altura e ao formato de pagode chinês de suas coberturas, adornadas nas extremidades por telhas de bico, algumas em forma de folha de acanto. As grimpas das igrejas são encimadas por esferas armilares, a exceção da igreja de Nossa Senhora do Rosário, onde está presente uma águia bicéfala, símbolo ao mesmo tempo do milenarismo jesuítico e da casa real dos Habsburgos, da qual nossos imperadores eram descendentes. Uma curiosidade na medida em que a igreja foi construída por uma ordem terceira de cativos e libertos. Muitas casas, especialmente as de maior porte, possuem telhados de quatro águas, também com telhas de bico nas quinas de encontro das águas. A solução adotada se utiliza de galbos do contrafeito (21), que permitem a mudança de ângulo, proporcionando a curvatura das extremidades. Os mesmos criam um arremate, para que os cachorros sustentem o beiral, completados pela cimalha que faz o arremate com a parede.
Essa atmosfera configura uma ambiência evocativa de signos ligados ao imaginário de uma China mítica, como já vimos anteriormente. Somos remetidos a algo que não se encontra naquele lugar, mas que estabelece vínculos emocionais e imagéticos. Essa sensação não se resume a esfera dos sentidos. O viajante, poliglota, diplomata, escritor e espião britânico, Richard Francis Burton, esteve em Diamantina em 1867 e relata o aspecto de prosperidade encontrado, bem como ao colorido das casas e seus jardins verdejantes, e a confusão de igrejas de duas torres ou uma só, que testemunham a religiosidade do lugar. Em seguida refere-se a uma rua chamada Macau do Meio e afirma que ninguém sabe o porquê (22). Homem viajado e culto, a nominação da rua deve-lhe ter chamado a atenção.
Em minhas pesquisas e na consulta à bibliografia, também não encontrei explicações para a origem do nome Macau em três importantes ruas de Diamantina: Macau de Baixo, do Meio e de Cima. O que se infere é que as ruas faziam a ligação entre a arraial do Macau com a área central da cidade, conforme indica o artigo de Sylvio Vasconcellos já citado. Tal nome pode ter sido designado por um soldado ou funcionário da coroa, que ocasionalmente tenha residido em Macau ou no Oriente, por alguma razão simbólica ou identitária, como por exemplo a presença dos diamantes, que até então eram exclusivamente de origem indiana. Em páginas anteriores vimos que a influência oriental, especialmente a chinesa, é muito maior do que o senso comum atribuí. Em Diamantina ela não está presente apenas nos detalhes, como vimos em outros casos relatados, embora isto também ocorra, por exemplo, na igreja Nossa Senhora do Carmo, na pintura ilusionista do forro da nave, de autoria do português nascido em Braga, José Soares de Araújo (23). São desenhos muito semelhantes aos que encontramos em Sabará e em outras cidades mineiras.
Sentimentos, símbolos e universalidades se unem para a construção de significados. A ocorrência de uma mesma simbologia repetidas vezes, em um espaço delimitado e em várias perspectivas e visadas acaba por determinar que uma percepção que não seja própria do local, ou de certa forma estranha a cultura, possa nele ocorrer e ser reproduzida (24). Como não encontramos em outras cidades de gênese semelhante a Diamantina, a tipologia religiosa local é muito semelhante e foi multiplicada. Vemos que a igreja mais antiga, a do Rosário, datada de 1731, já traz consigo a torre sineira com telhado pontiagudo, a semelhança de um pagode, fato que se reproduz na sucessão de telhados acachapados e torres de igrejas, que nos remetem e acabam por consolidar uma impressão, que embora exógena, é agradável e serena pela mensagem universal que transmite. A arquitetura, propositalmente ou não, sempre foi utilizada como veículo de transmissão de ideias, de princípios, de ideologia, com o objetivo de conferir um caráter universal, aquilo que nem sempre é. Não é por acaso que a linguagem arquitetônica é associada a usos e funções e estratificada espacialmente. Sabemos identificar um palácio, um museu, uma igreja, uma casa, uma escola, um bar, a partir dos elementos arquitetônicos que os compõem. Se transmite um sentido de autoridade, formalidade, recolhimento ou de informalidade, encontro e fruição coletivos. Se estão localizados no centro ou em posições hierarquicamente secundárias na malha urbana.
As considerações aqui relatadas, baseiam-se em impressões do autor, subsidiadas pelas análises elaboradas ao longo do artigo, calcadas em fontes de reconhecida procedência e qualidade. Não se procura imputar intencionalidade aqueles que foram responsáveis pela construção da cidade ao longo do tempo. O que se pode afirmar, é que a ocorrência sistemática em um espaço limitado, de elementos capazes de permitir uma certa leitura simbólica e espacial, não são meramente aleatórios. A iconografia brasileira do início do século 19, de artistas como Debret e Rugendas, bem como os registros fotográficos do final do século 19 e início do 20, exibem em muitas cidades brasileiras e no meio rural, elementos que são evocativos de uma estética oriental. O desenho de autoria do grande desenhista Percy Lau, que retratou como ninguém paisagens e personagens brasileiros, fala por si só.
Conclusão
O objetivo desse trabalho foi o de apontar e comentar algumas ocorrências de chinesismos no Brasil para, em primeiro lugar, alertar de muitas outras já sabidas e de outras que possam ser descobertas. Em segundo lugar, provocar um debate sobre seu conceito atual, aplicável em algumas circunstâncias, mas em outras não, dado ao seu caráter restrito. Vimos que houve uma influência cultural significativa, inclusive sobre hábitos e costumes, na arte e a arquitetura, bem como a importação de uma enorme variedade de mercadorias, entre elas porcelanas, objetos decorativos, imaginária, tecidos. Muito além de meras pinturas e afrescos a moda oriental. Durante trezentos anos Portugal, comandou um império ultramarino que envolvia o Brasil e as colônias africanas e orientais, na denominada Carreira da Índia, com intenso intercâmbio de mercadorias e ideias. E por fim, recomendar as instituições de preservação do patrimônio cultural, como o Iphan, e seus congêneres estaduais, municipais e universidades, de que é urgente um inventário nacional que as registre, estude, pesquise suas origens e as conserve, como elementos importantes da arte e da arquitetura no Brasil. A bibliografia aqui indicada poderá contribuir para tal trabalho.
Quando já estava concluindo a pesquisa e elaboração desse artigo, chegou-me as mãos o excelente trabalho realizado por Júlio Bandeira, denominado O Brasil na Rota da China – 1500-1808, editado em 2018. Trata-se de uma bela e bem cuidada publicação, feita sob patrocínio da empresa Concremat, ligada ao grupo chinês China Communications Construction, com prefácio da historiadora Mary Del Priore. A qualidade dos textos e da vasta iconografia é impressionante. Fiquei feliz de apesar dos recursos materiais limitados, guardadas as devidas proporções, ter chegado a resultados e juízos convergentes.
notas
1
O culto de Nossa Senhora da Expectação do Parto, foi instituído na Espanha no século 5, difundindo-se em seguida para Portugal. A Virgem é celebrada anualmente dos dias 17 a 23 de dezembro. São recitadas sete antífonas todas começando com o invocativo Ó, o que alterou sua designação, conforme o gosto popular para Nossa Senhora do Ó.
2
Germain Bazin refere-se à capela de Nossa Senhora do Ó, como uma das mais requintadas criações da arte barroca. Destaca que a influência chinesa se manifesta de forma “inequívoca”. BAZIN, Germain. Arquitetura religiosa barroca no Brasil. Rio de Janeiro, Record, 1983, p. 340.
3
ROMEIRO, Adriana; BOTELHO, Angela. Dicionário Histórico das Minas Gerais. Belo Horizonte, Autêntica, 2003, p. 78. As autoras, no verbete “chinesice”, estabelecem quatro hipóteses para explicar a ocorrência dos chinesismos.
4
LEITE, José Roberto Teixeira. A China no Brasil. Influências, marcas, ecos e sobrevivências chinesas na Sociedade e na Arte brasileiras. Campinas, Unicamp, 1999, p. 11.
5
ÁVILA, Affonso; GONTIJO, João Marcos Machado; MACHADO, Reinaldo Guedes. Barroco Mineiro. Glossário de Arquitetura e Ornamentação. Belo Horizonte, Fundação João Pinheiro,1996, p. 135.
6
LONGOBARDI, Andrea Piazzaroli. Fragmentos de visualidades chinesas no Setecentos mineiro 1720-1770. Dissertação de mestrado. Belo Horizonte, PPGH-UFMG, 2011, p. 9.
7
VIEIRA, Padre Antônio. História do Futuro. Apud BOXER, Charles. O império marítimo português. 1415-1825. São Paulo, Companhia das Letras, 2002, p. 87.
8
A obra de José Roberto do Amaral Lapa, é fundamental para entender a inserção do Brasil, especialmente a cidade de Salvador, no contexto do comércio ultramarino com o Oriente nos séculos 17 e 18.
9
LEITE, José Roberto Teixeira. Op. cit., p. 15-16.
10
BOXER, Charles. A Idade de Ouro do Brasil – 1695/1750. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1969, p. 196.
11
LONGOBARDI, Andrea Piazzaroli. Op. cit., p. 99-100.
12
CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e estórias mais. São Paulo, Global, 2006, p. 66-74.
13
A denominada “Porta de Macau” encontra-se na igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Sabará MG. É das igrejas mais antigas de Minas. Desde 1714, temos notícias do atual templo, que substituiu a capela original de 1701. A porta em duas folhas, que dá acesso à sacristia é esplendidamente ornada com chinesismos. É considerada o exemplo mais antigo em Minas Gerais. Embora alguns autores aventem à hipótese de ter sido importada de Macau, até o momento não existem documentos comprovatórios. Ver LONGOBARDI, Andrea Piazzaroli. Op. cit., p. 87 e seguintes.
14
LAPA, José Roberto do Amaral. A Bahia e a Carreira da Índia. Ed. Facsimiliada. São Paulo, Hucitec/ Unicamp, 2000, p. 300-304.
15
MUHAMA, Adma. Brasil: Índia Ocidental. Revista USP, n. 57, São Paulo, USP, 2003.
16
LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1945, p.196-196.
17
SANTOS, Joaquim Felício. Memórias do Districto Diamantino. Rio de Janeiro, Typographia Americana, 1868. Disponível in < https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/7098>. Inicialmente o ouro foi encontrado as margens do arroio Tijuco, tributário do rio Grande. Tijuco em língua nativa quer dizer lama.
18
FILHO, Aires da Mata Machado. Arraial do Tijuco Cidade Diamantina. Belo Horizonte, Itatiaia, 1980.
19
ROMEIRO, Adriana; BOTELHO, Angela. Op. cit., p. 112. A criação do Regimento Diamantino de inspiração pombalina, ou como era conhecido, o “Livro da Capa Verde” em alusão a cor da capa do qual era encadernado, instituiu o monopólio real. Sua fama decorre da rigidez e autoritarismo de suas disposições normativas e do absolutismo dos Superintendentes.
20
ROMEIRO, Adriana; BOTELHO, Angela. Op. cit., p.105.
21
RODRIGUES, José Wasth. Documentário Arquitetônico. Belo Horizonte, Itatiaia, 1979, p.158-159 e ÁVILA, Affonso; GONTIJO, João Marcos Machado; MACHADO, Reinaldo Guedes. Op. cit., p. 33-49.
22
BURTON, Richard. Viagem de Canoa de Sabará ao Atlântico. São Paulo, Itatiaia,1977, p. 88.
23
MAGNANI, Maria Claudia Orlando. José Soares de Araújo: um Artista Completo (Diamantina, século 18). Revista de História, n. 28, UFPB, 2013, p. 100.
24
KOHLSDORF, Maria Elaine. Ensaio sobre o desempenho morfológico dos lugares. Brasília, FRBH, 2017, p. 78-79; 201-202.
sobre o autor
Luiz Philippe Torelly é arquiteto e urbanista formado na Universidade de Brasília em 1979. Especialista em Planejamento Urbano e Patrimônio Cultural.