Este artigo contribui ao entendimento da cartografia e seus produtos — mapas, cartas, plantas urbanas e iconografia — como diagramas (1), noção para a qual o mapa é um signo eminentemente não verbal, que reúne um complexo de informações e significados, representados pelo diálogo com outros signos, verbais e não verbais.
O diagrama, para Charles S. Peirce (2) permite inferir tendências e proposições; não apenas registra ou descreve o espaço, mas serve para sua criação, projeto ou planejamento. Na condição de um plano (hipotética), não se confunde com esquema, embora esquema e diagrama se apresentem, por vezes, como sinônimos. Uma elaboração diagramática é processual (semiose, ou produção de linguagem), construindo um resultado sincrônico, num mesmo signo, que articula um conjunto de outros signos, num complexo documental. Nele podem se integrar quantidade e qualidade — num diagrama comparecem números, palavras e textos e signos não verbais — desenhos, gráficos, quadros e outros mapas.
O mapa não é o território, uma perfeita identidade com o mundo, mas é uma hipótese icônica, um recorte espacial entre outros, a partir de meios gráficos que representam o espaço. É um signo resultante da elaboração de informações e significados, não sendo a imagem especular de seu recorte; “é materialmente distinto da coisa de que é signo” (3), e. o “signo é algo que está para algo mais em sua ausência” (4).
A cartografia (nome atribuído à confecção de mapas no século 19) estuda, analisa e produz plantas, mapas, cartogramas e todos os tipos de representações gráficas do espaço territorial e urbano. A iconografia contempla imagens, significados e simbolismos — representações artísticas, que contribuem para a produção de ícones, um tipo de signo, ou o que está, segundo Peirce (5), no lugar de alguma coisa, possibilitando seu significado. Ambas podem ser compreendidas como elaborações diagramáticas, pois representam a relação do espaço com a cultura e a sociedade, sendo destas uma forma de relato histórico e, ao mesmo tempo, de produção de conhecimento. Por meio delas, é possível compreender interesses, processos políticos, éticos, valorativos e socioeconômicos, que se encontram nos fundamentos dos mapas.
Como diagramas, mapas são signos complexos e não estáticos, favorecendo a interação com o mundo natural, geográfico e histórico-social (fluxos espaço-temporais). Um mapa é uma linguagem do contínuo espacial (6), uma configuração do espaço ininterrupto, fluido e conectável, ao qual se pode recortar. Enquanto diagrama, estabelece um pensamento hipotético (um plano, ou projeto de ação), propõe interconexões entre dados e processos, análises e diagnóstico (presente) e indicações de ações futuras. Peirce chamou esse movimento hipotético de abdução, diferindo da indução, como da dedução.
Mesmo resultando de diagramas para atingirem a dimensão empírica (fluxo temporal e espacial), os mapas comportam esquemas, estruturas fundamentais e abstratas, de passagem da percepção do mundo ao signo. São exemplos de esquemas as divisões geométricas, as relações numéricas (métricas), trigonométricas, leituras angulares, longitude e latitude ou linhas mestras, sem as quais sua construção sequer seria possível. Essa estrutura torna os próprios mapas esquemáticos, mas não os esgota, pois por meio deles, incluem-se temas e conteúdos diversos que se deseja representar.
Se há uma intuição primária, ela é absolutamente simples” (7), diz Umberto Eco comentando Kant; no entanto, a complexidade é uma cadeia entre o que está chamando de “simples”: do primeiro branco, vem a brancura, do primeiro duro, a dureza, mas o conhecimento é relacional, precisa de linguagem que organize informações, dados, percepções e conhecimentos prévios, e que por meio delas se possa formular hipóteses, criar o novo, próprio ao diagrama: “Todo conhecimento é determinado por conhecimentos anteriores”, e “não temos poder de pensar sem sinais” e “não temos nenhuma concepção do absolutamente desconhecido” (8). Assim, algo é vermelho em relação a outras coisas dessa cor, e o significado de “vermelho” não é a imagem desse pigmento, mas se torna inteligível nas relações de vários signos que explicitam um complexo de significados.
Esquema e diagrama se complementam na feitura dos mapas; cartografia e iconografia se articulam produzindo linguagens que expressam vizinhança e localização, métricas, coordenadas geométricas e expressões artísticas. Enquanto que não se pode entender um mapa sem registros verbais, a ausência de elementos não verbais ou visuais o tornaria um acúmulo de nomes de lugares.
Para Peirce (9), as palavras em um diagrama significam mais que seu sentido literal, têm valor de posição; pois qualquer cidade inserida num mapa não se define só por seu nome, mas pela localização, em relação às outras. Para grafar informações não verbais, o mapa faz uso de métodos científicos e artísticos; ao longo de sua evolução, é possível identificar a busca de rigor em sua representação, evoluindo no uso da geometria, da perspectiva, de processos rigorosos de medição planimétrica e altimétrica (10).
Conceitual e operativamente distintas, cartografia e iconografia convergem com a noção de diagrama, pois seu encontro significa precisão às representações: os elementos iconográficos presentes nos mapas (desenhos, pinturas, fotografias, palavras grafadas à guisa de informação ou legenda) são também ícones, contribuindo para a trama de significados, que faz do mapa uma síntese de vários ícones, e uma linguagem para recortar o espaço contínuo.
Peirce atribuiu de início a proximidade do ícone ao objeto, por exemplo, a impressão primeira da cor vermelha. Classificou-os como puros ou hipoícones, e aos últimos subdividiu em imagem, diagrama e metáfora. Aos “ícones degenerados” (próximos das coisas e não de uma primeiridade essencial), denominou hipoícones — desenhos, pinturas etc. Enquanto um ícone puro é signo de algo que pode não existir (uma possibilidade ou ideia de), hipoícones expressam relações que desvelam um objeto, ou evento. A cartografia e a iconografia seriam hipoícones, construções diagramáticas em que a relação do espaço com significados, sociais, econômicos e culturais pode ser representada e interpretada.
Ao se afastar do ícone “puro”, da primeiridade (11), e do signo imediato (o primeiro) da cor vermelha, Peirce o definiu não como a imagem dessa cor, num plano ou objeto vermelho — mas resultado de uma coordenação, de uma roda dos signos — um diagrama é um mapa do conjunto de outros mapas, um ícone formado de outros, uma construção de linguagem — que desvela atributos, qualidades e infere resultados nesse movimento (12).
O pensamento diagramático é expressão da roda dos signos, como máquina de produção de linguagem. A cartografia e a iconografia, ao se utilizarem de representações que não reproduzem coisas, mas uma visão da cultura e da sociedade, são meios para a interação com o contexto e o momento, fazendo do mapa um documento gráfico que conecta signos, a base da roda de signos.
Há diferença entre um esquema a reproduzir, ou modelo abstrato, e um diagrama, um ícone conformado por outros, pressupondo um sistema aberto à possibilidade. Diagramas são ícones em constante amplificação de significados, continuadamente (re) formulados. Mapas e representações do espaço, sob essa visão, integram um movimento ininterrupto de formulação de hipóteses, e representam fluxos espaço-temporais ao se abrirem a novas conexões (13), como parte de um raciocínio gerador do novo.
Peirce (14) amplificou a definição de esquema, originada no pensamento kantiano, fazendo-a transitar de um juízo (uma proposição) ao signo complexo, em movimento e relação, superando com a semiose a exclusividade do signo verbal, e enfatizando o papel do conhecimento dos signos não-verbais, presentes no ícone.
Comenta Umberto Eco, citando Peirce: “Diz sem hesitação que o esquema kantiano é um diagrama” (15), embora frisemos que esquema e diagrama apresentam cruciais distinções semânticas. Diagramas são relacionais ao incorporar novos signos, ao elaborar pragmaticamente o sistema de representações — um texto de várias linguagens — que evolui ao ser instado pelo mundo, e pela intenção de conhecimento.
O esquema kantiano alude ao conhecimento realizado por duas faculdades diferentes e complementares, o entendimento, em que se opera o conceito, e a sensibilidade (16). O diagrama permite um sistema icônico de conexões para compreender e (re) criar o objeto, enquanto Kant questiona “Como será, pois, possível subsunção aos conceitos, portanto a aplicação da categoria aos fenômenos” (17) e ele mesmo responde à pergunta, definindo o esquema como a “representação de um procedimento geral da imaginação que serve para dar sua imagem a um conceito” (18), fundamentando-se no juízo, ligado ao idealismo transcendental. Peirce (19) amplifica o esquema kantiano, definindo-o como algo em construção, verbal e não-verbal: “Peirce não é kantiano pois não se preocupa de fato em descobrir uma multiplicidade na intuição” (20).
O esquema recebeu nova roupagem como diagrama (21), por ser uma relação viva que articula esquemas prévios, proposições e textos, raciocínios hipotéticos qualitativos e quantitativos, — fazendo o conhecimento evoluir. Ao recortar a “realidade” com a “roda dos signos”, o diagrama é um processo inconcluso e pragmático, pois como uma assíntota, tangencia o objeto sem jamais encontrá-lo, produzindo-o continuamente na elaboração da (s) linguagem (ns). Peirce sustentou que esquemas e diagramas evoluem, à medida que a “realidade” que representam se torna mais ampla; e assim se pode dizer que também a cartografia evolui, transformando-se, para incluir novas demandas, visões, valores e abordagem dos territórios.
Mapas territoriais, regionais ou urbanos antecedem a existência de cidades e outras extensões, como na cidade planejada (idealizada a partir de um projeto ou plano urbano), ou simplesmente as registram a posteriori, situando-se entre criar e grafar o estado da arte do espaço. O debate da interdependência de espaço e produção cartográfica vem pontuando como os mapas e plantas urbanas situam-se na confluência do criar e documentar o espaço, urbano ou em outras escalas (22) como instrumentos para planejá-lo. Mapas que projetam ou planejam incluem como sua fundamentação outros que registram informações coletadas para finalidades várias, incluindo cadastros de diversas ordens, assim como aqueles destinados ao controle do território e à sua tributação, ou à definição de rotas, estradas e caminhos, uma infraestrutura que serve a finalidades diretamente vinculadas aos contextos e aos interesses sociais, políticos e econômicos, e à estrutura de poder vigente (23).
Uma periodização para discutir as relações entre o artefato urbano e seu desenho, sua carta ou mapa e os processos de elaboração destes foi escolhida — o plano e o projeto da cidade e do território, e suas conexões com a cartografia: a cidade renascentista, o espaço ideal e o mapa; a cartografia setecentista e a cidade como máquina de guerra; a cidade dos fisiocratas e da economia; e por fim, cidade moderna e contemporânea — da urbe extensiva às cidades-região e suas fronteiras — novos instrumentos de planejamento integrado, e sua relação com registros cartográficos.
Os processos de produção da cartografia — a construção dos mapas como diagramas
O mapa não é neutro, sequer puramente espacial, pois representa eventos e processos, visões de mundo e valores (24), de significativa importância para o desenvolvimento científico. Em sua condição de linguagem (e significado), são ícones nos quais juízos de valor estão presentes.
Enquanto que a Astronomia possibilitou observar o movimento do Sol e das estrelas e estimar o tamanho e a forma da Terra, processos valorativos exerceram (e ainda o fazem) forte influência sobre os mapas. Embora se possa usar imagens de satélites, permitindo que se veja a Terra do espaço, essa foto não é um mapa, e sua representação está sujeita a convenções e escolhas, condicionando a realidade que intenta mostrar.
A objetividade dos mapas é passível de revisão crítica, pois registram o espaço físico e terrestre de maneiras diferentes. Sua expressão, condicionada à representação do planeta ou do território a que faz referência, depende dos sistemas de poder e autoridade, enfatizando (ou não) uma ideia ou questão, que “ao mesmo tempo motivou sua criação e captou a compreensão do mundo de seus contemporâneos, da ciência, política, religião e império ao nacionalismo, comércio internacional e globalização” (25).
O astrônomo Eratóstenes calculou a extensão da Terra e seu procedimento sintetizou vários conhecimentos. Ao acreditar na forma redonda do planeta, esta hipótese é uma metáfora icônica, pois ninguém, na Antiguidade, havia visto o planeta do espaço para validar sua forma. O aspecto redondo da Terra é um esquema, pois não coincide com seu real formato; tratava-se também de um conceito, se racionarmos ao modo de Kant, evidenciando que um ícone é um conceito — “Assim possui homogeneidade, assim como o conceito geométrico puro de um círculo, o conceito empírico de um prato, na medida em que o redondo, que no primeiro é pensado, se pode intuir neste último” (26).
Umberto Eco (27), ao explicar o que é um esquema, refere-se à estrutura formal presente na geometria; assim, o círculo é o esquema do hipoícone de um prato, ou de qualquer outra experiência empírica e perceptiva coerente com ele.
O relógio subdividido em horas é uma convenção; não corresponde fielmente à passagem do tempo, mas é uma metáfora de seu transcurso, ao convencionar o zênite solar, quando marca 12h — ponto em que o sol se encontra no ápice. O relógio é um hipoícone e um esquema — um signo qualitativo, porque mimetiza o passar do tempo, e quantitativo, ao mensurar o espaço contínuo e conectável, subdividindo-o em horas, minutos e segundos, estrutura relacional que explica esse tempo-espaço.
Ao raciocinar como Peirce, o ícone não termina em sua esquematização ou expressão unitária, mas engendra hipóteses, sendo a representação com signos não verbais tão científica quanto uma proposição, ou um conceito. Uma cartografia diagramática, é experimental — como um projeto, porque visa o novo, numa ação abdutiva (28). Inclui, entre seus ícones, uma produção indutiva, pois o projeto de algo novo departe de leituras e diagnósticos prévios, e também dedutiva, a partir das pré-condições conceituais que a acompanham, mas é capaz de criar hipóteses e sinalizar intervenções concretas. Tais interfaces estão presentes nos instrumentos de ordenamento espacial e de leitura do território, no passado e hoje, em cartografias que não se definem apenas como uma técnica a ser reproduzida, mas forma de produção de conhecimento e de uma visão e concepção do espaço.
Eratóstenes sabia que o sol das doze horas, em determinado período do ano, não fazia sombra na atual Assuã (Egito), a 800 km aproximadamente de Alexandria. Ao medir a sombra nesta cidade e em Assuã, no mesmo período do ano, constatou com a relação desses dois esquemas métricos, que a sombra em Alexandria definia sete graus de inclinação em relação a uma vara, fincada no solo, concluindo que se a Terra fosse plana, as sombras teriam a mesma inclinação, no mesmo horário e mesma longitude.
Em 200 a.C., sabia-se que o círculo podia ser subdividido em 360 graus, outra hipótese icônica, e convenção. Ao dividir 360 por sete, o resultado, cinquenta, foi multiplicado pela distância entre Alexandria e Assuã, resultando em 40.000 km, pois seu cálculo se apoiou na hipótese de a Terra ser redonda. Já que a Terra não é de fato redonda (sendo achatada nos polos, o que Newton descobriu por volta de 1680), a circunferência da Terra no Equador é de 40, 075 Km (medida atual) e a circunferência entre os polos norte e sul, de 40.008 km.
Eratóstenes sintetizou o conhecimento anterior, expresso no percurso do sol e das sombras. Inúmeros procedimentos arquitetônicos se utilizam da relação entre insolação e sombras, assim como os antigos templos egípcios buscavam a incidência solar precisa em seu interior, e também em Stonehange (a estrutura de dolmens céltica, para um centro cerimonial, na Inglaterra), ou no Círculo de Goseck, na Alemanha (4.900 a.C.). O conhecimento prévio foi sintetizado num novo esquema, no círculo de 360 graus, fazendo a passagem do empírico ao signo, e ao seu caráter evolutivo e dinâmico, já que a relação do sol com sua sombra e o planeta viria a ser utilizada por outros astrônomos. Eratóstenes ainda dividiu a Terra numa grade rudimentar de meridianos e paralelos, “Todo o espaço terrestre poderia em teoria poderia ser medido e definido de acordo com princípios geométricos duradouros” (29).
Ptolomeu (150 a 170 d.C.) definiu os princípios científicos da cartografia. Seu trabalho foi mostrar o mundo conhecido formado por “golfos, cidades grandes, os povos e os rios mais notáveis, e as coisas mais dignas de nota de cada espécie” (30), investigando a forma, o tamanho e a posição da Terra em relação ao ambiente, grafando a parte conhecida, e em quais paralelos da esfera celeste cada uma das localidades estava situada. Seus avanços deram início a um relato topográfico de latitude e longitude de mais de 8 mil lugares na Europa, Ásia e África, um registro relevante para a geografia futura, e embora não sejam conhecidos mapas realizados a partir dele, sua importância ressurgiu na história do mapeamento do globo.
Ptolomeu se utilizou dos conhecimentos de Aristóteles, o qual dividiu a Terra em cinco zonas (klimata, em grego, inclinação ou clima): o Equador, como zona central, inabitável pelo calor extremo, duas zonas temperadas (onde vivia toda a população) e duas zonas polares, inabitáveis. As anotações do viajante Pítias de Massalia se tornaram leituras frequentes na biblioteca de Alexandria, indicando a ligação entre a duração do dia e a latitude, e a concepção de paralelas que circundavam o globo (31). A Biblioteca dispunha de códices que catalogavam dados, mapas, documentos e descrições de viajantes, como Pítias. Assim, Ptolomeu revisou o cálculo de Eratóstenes, e diminuiu o tamanho do globo (erroneamente), mantendo a divisão deste em 360 graus. mas agora, em duas dimensões, substituindo o círculo (uma dimensão) pela circunferência de duas dimensões. Dividiu a esfera terrestre em latitude e longitude, definindo a primeira pela duração dos dias, iniciando como grau zero no Equador, e supondo um dia de doze horas. Assim, foi dividindo o globo, até alcançar um dia de vinte horas; essa divisão foi baseada no cálculo de Hiparco, que o realizou por meio de observações astronômicas e da altura do sol e das estrelas. (32).
Para medir o fuso horário, utilizou-se de tabelas preexistentes, e troca de informações entre cidades; usando como referência um eclipse medido em cada uma delas com um relógio de sol, soube a hora exata em que acontecia o fenômeno de diferença dos fusos (“sugestão de Hiparco”). A longitude também admitia um referencial zero, localizado nas ilhas Canárias; assim, representavam-se 180 graus e doze horas; “Ptolomeu lançou uma rede sobre todo o mundo conhecido, definido pelos princípios abstratos e duradouros da geometria e astronomia, e pela mediação da latitude e longitude […] fazer todas as gerações posteriores verem uma série de linhas geométricas cruzando o polo, o globo e o Equador, como se fossem reais” (33).
Estas passagens demonstram sínteses hipotéticas geradas por ícones, esquemas e suas relações; por exemplo, a grade de longitude e latitude, uma convenção geométrica, até hoje utilizada. Estas convenções criaram um fluxo contínuo de diagramas reunindo num mesmo signo vários acontecimentos espaço-temporais — duração do dia, fusos horários, diferentes condições climáticas, e a interação do navegante com sua localização. A divisão da terra em graus é uma antiga convenção, um conhecimento preexistente, que serviu de base à evolução da representação do globo que serve à nossa localização até os dias atuais; e os mapas e cartografias, bem como os processos de sensoriamento remoto os utilizam.
Esquemas geométricos icônicos serviram à identificação de situações climáticas e contribuíram para medir fenômenos, relacionados à incidência solar. A trigonometria, com Hiparco e Ptolomeu, serviu para definir altura e localização do sol e estrelas pelo Astrolábio, e confeccionar mapas, exemplificando como o esquema faz a passagem da dimensão física ao signo, como Umberto Eco explica, “O esquema (de um triângulo) é proposto como uma regra para construir em cada situação uma figura, que tem as propriedades gerais de um triângulo” (34), como veremos adiante, na construção dos mapas.
Ícones influenciam outros ícones, signos evoluem e se tornam base para outros, funcionando como indicadores para novas soluções, como Peirce entendia os diagramas — registros de informações e soluções, indicando o futuro, e fundamento para o novo. Essa evolução pode ser demonstrada pela imaginação relativa à forma da Terra, que aguçou os que se dedicaram a representa-la.
Conhecer o nascimento e a evolução da cartografia se revela de grande interesse em diferentes tempos, iluminando a forma como vai sendo construída a interação entre espaço geográfico e sociedade e a criação de uma linguagem, fundamentando a passagem entre os fenômenos do mundo e a ação humana.
Mapas de registro e outros que planejam e criam o espaço — da cartografia estática à diagramática
O debate dos mapas como forma de conhecimento não é trivial, “Do mesmo modo, incluir a Cartografia a e a representação das paisagens relativas às cidades como elementos que operam (e não apenas registram) sobre esses espaços, e em razão disso, utilizá-las como meios relevantes para interpretar as cidades também não é comum” (35). Essa não trivialidade é fundamental para passar ao tema do desenvolvimento do território, a partir do mapa.
Mapas que antecedem cidades definem um projeto ou plano de cidade, uma construção hipotética e abdutiva por excelência; por sua vez, os que registram o território são elaborados para determinada finalidade, exercício de um poder ou controle: cadastro, tributação, definição de caminhos e de rotas, fluxos econômicos, comerciais e logísticos etc. Na condição de mapas a posteriori, podem, ao definir diagnósticos, servir a uma finalidade fiscal, jurídica ou militar (defensiva), mas também como base para projetos e intervenções urbanas. São cadastrais, pois apresentam informações fundiárias e de forma urbana, tais como mapas de diagnóstico, pois reúnem informações para o planejamento urbano e políticas setoriais.
Quando a cartografia subsidia planos ou projetos, é um dispositivo de linguagem para o raciocínio espacial diagramático (36). Assim, mapas com abordagem realista ou indutiva, registro cadastral, estatístico ou temático, dão lugar à modalidade criativa e construtivista, como parte de um processo de interpretação (37). Essa razão icônica, e ferramenta geradora de significados, teria possibilidade de indicar o futuro ao idealizar o espaço, aproximando-se do planejamento territorial (38), fazendo da cartografia como diagrama uma contribuição para definir e dar forma ao território que representa.
Diagramas ou esquemas, sob esta concepção, coordenam documentos e outros ícones. A noção de diagrama no desenho e no planejamento de cidades implica em considerar o espaço urbano, ou regional como um sistema. O diagrama reúne e aproxima representações diversas do território, trazendo-o à consciência de um ou vários intérpretes — usuários, planejadores, administradores, instituições e comunidades.
O mapa das costas do Mediterrâneo, no medievo, conhecido como gênero cartográfico Portulano, ou Cartas Portulano (39) foi possível com o aperfeiçoamento de instrumentos náuticos, como o astrolábio, o quadrante e o relógio de sol, traçando-se rotas para chegar aos portos, orientadas pela rosa dos ventos (linha dos ventos, rumo dos ventos), subdividida convencionalmente em quatro, oito e 32 direções. Em 1302, o navegador e inventor Flavio Bioia inseriu a gravura dessa Rosa no fundo de uma caixa, e sobre ela, a agulha imantada (norte verdadeiro), criando a bússola, como a conhecemos (40). O ícone que a representa foi acrescentado às Cartas Portulano em 1375 (41), e os mapas receberam em sua parte superior a orientação norte, concretizando sugestão de Ptolomeu (42).
Esse salto qualitativo, transpondo o instrumento como ícone, trazendo a orientação da bússola, a rosa dos ventos e o norte para o papel, possibilitou interpretar o mapa e navegar. Este se tornou um guia icônico para orientar os navios, já que o Quadrante e o Astrolábio eram de difícil uso para os marinheiros. No Reino de Aragão (que compreendia várias ilhas mediterrânicas e parte da Itália), os navios levavam dois mapas, a bússola e um compasso de navegação: “Pujades detecta a produção de mais de dois mil ’Kits’ de navegação, com duas cartas Portulano, bússola e compasso de navegar, para que os marinheiros se orientassem pelos rumos, marcando as distâncias percorridas (43).
A construção dos mapas possibilitou que objetos físicos fossem transpostos à representação icônica, relativamente ao território mapeado. Com isso o esquema convencional da rosa dos ventos (dividida também em 360 graus e 32 direções) gerou nova semiose com hipóteses dos rumos encontrados no mapa.
Esse método persistiu na elaboração das plantas de cidades, aprimorando-se no Renascimento: “conseguia fazer isso com facilidade, marcando no plano as linhas dos ventos, seguindo-as, como faziam os marinheiros, com o uso da bússola compreendendo os espaços do mar e das encostas, a partir de mapas desenhados, dessa maneira levantava a orientação dos lados e dos ângulos, a partir ‘das fundamentas’, com método exatíssimo” (44). Essa passagem, atribuída ao biógrafo de Rafael Sanzio (Paolo Giovio), ao comentar o processo renascentista de medir e redesenhar as ruínas dos edifícios do Fórum romano, e determinar sua localização na Carta de Leão X (45), esclarece que o método cartográfico foi se tornando mais rigoroso com o uso da bússola, possibilitando calcular distâncias e ângulos, primordial para se elaborar plantas de cidades.
Dois métodos para tomar medidas e elaborar plantas urbanas, de irradiação e caminhamento (de rodeo) se tornariam frequentes (46); sendo este último o mais usado para medir e localizar edifícios e muralhas, ao dar-lhes a volta completa usando um aparelho que continha uma bússola ao centro, e um círculo giratório, com a marcação da rosa do ventos. Esse círculo estava acoplado a uma régua de madeira ou latão; apoiava-se na parede, e então se media a abertura angular, relativamente ao norte. Logo, procedia-se à medida da parede, e da distância entre os edifícios; a transferência dessas medições de campo e a confecção dos mapas envolvia o desenho da rosa dos ventos no papel, onde se ia desenhar os edifícios. Traçava-se a linha norte e se sobrepunham sobre ela as medidas de campo, que podiam então ser transferidas ao desenho. E, “em seguida, iremos sobrepor o papel no qual desenhamos a bússola e a colocamos de modo que a linha tirada da bússola concorde com aquela desenhada no papel, no qual se desenhava o edifício […], assim acha-se o mesmo grau daquele vento da bússola desenhada” (47).
O método de irradiação evoluiu, como descrito por Cosimo Bartoli em De modo di misurare le distantie, de 1564: “para tomar a posição de determinados lugares basta se posicionar em uma colina ou edifício alto, direcionando o óculo fixo do instrumento para um ponto cuja distância era conhecida, e o óculo móvel para o ponto que se pretendia levantar, reproduzindo no papel a sequência das tomadas realizadas, com as correspondentes direções dadas pela bússola e ângulos obtidos na circunferência graduada. Por meio de triangulação, e tabelas de senos e cossenos dos ângulos obtidos, podia-se calcular a distância entre os vários pontos observados” (48). Nesse método, utilizavam-se o transferidor para registro dos ângulos, e compasso e régua para traçar o mapa (49).
O esquema se reafirma, pois a bússola contém um círculo graduado (360 graus), no qual os ângulos são medidos a partir de pontos na paisagem, por observação direta. Com esses ângulos, o território pode ser representado com a triangulação, e as propriedades trigonométricas são preservadas. Com essas relações e poucas medidas de campo, era possível construir um mapa interativo (50) — as propriedades do triângulo servindo para observar a paisagem e transpor essas relações ao signo. Tem-se a trigonometria como geradora de imagens, como um esquema para Kant, explicado por Umberto Eco como a permanência das propriedades de triangulação, tanto no campo conceitual (signo) como prático.
Cidade renascentista e cartografia — construção dos mapas, espaço ideal e espaço real
A cartografia e a representação icônica comparecem nas escalas abordadas no Renascimento, a cidade e o mundo — dominar o espaço requeria uma ciência, em que cada parte de um edifício ou cidade deveria se integrar em um só sistema, regido por relações matemáticas (51). O Renascimento introduz importantes inovações à representação do espaço urbano — o papel do projeto, o controle do espaço projetado como sistema composto de partes, um regramento com intensiva colaboração da planta e da morfologia urbana. Na Itália renascentista, o debate sobre a Città Ideale, integrada às novas teorias militares, enfatizou que o urbano se desenvolveria plenamente se houvesse um plano regular para representar as relações entre defesa, idealização da beleza e planta urbana — um hipoícone de controle da forma e seus significados.
Se na Idade Média a cidade optava pela delimitação da área defensável, sem qualquer menção explícita a um planejamento, ou prioridade ao traçado urbano (52), o regramento da produção espacial por um projeto se intensificou no Renascimento (53). A Cidade Ideal apresentava perímetro geométrico e regular, e um esquema genérico a reproduzir; no entanto, a irregularidade do traçado das muralhas e dos elementos de defesa se revelava uma preexistência, e também em cidades novas, construídas em sítios de topografia acidentada, induzindo a transformação do ícone, — de um esquema genérico em um diagrama, — pois sua própria condição real — da implantação, do sítio, topografia — exigiram essa evolução.
A substituição das fortificações medievais apresentava-se onerosa, assim como a remodelação de traçados preexistentes, o que levou à readaptação das muralhas, à luz da intenção de defesa. A perspectiva passa a integrar os princípios de representação, bem como ruas retilíneas são agora fundamentos do processo projetual, definindo ideais de beleza concentrados na forma urbana, que deveria expressar o rigor da matemática e da geometria. O acesso à artilharia fez da regularização geométrica das ruas um artifício imprescindível para atividades militares, induzindo o desenho da cidade como necessidade defensiva.
O Renascimento urbanístico foi impulsionado pelo Arquiteto militar Claude Chastillon (ca.1559-1616), ao projetar para Villefranche-sur-Meuse uma planta quadrada com um baluarte poligonal em cada vértice, e uma place d’armes circular central, definindo um esquema a ser seguido, mas adaptável às condições locais de implantação. Da praça de armas, nasciam oito ruas que seguiam de maneira radial, quatro em direção aos baluartes e as demais em direção às muralhas.
Essa cidade foi a primeira aplicação de um novo esquema urbano a um sistema de fortificação e, a primeira realização de um plano radial de cidade completo. Neste modelo urbano, em vez de muralhas altas e verticais, muralhas baixas em ângulo oblíquo em relação ao solo dificultariam ataques, e baluartes angulares, definindo a fortificação, ajudavam a configurar um perímetro poligonal regular.
O Renascimento é o triunfo da planta urbana com princípios regulares como ícone e cartografia em escala local, estendendo-se ao território. Seus princípios estão registrados em De Re Aedificatoria, de Leon Battista Alberti, tratado que apresentou uma inovadora concepção de cidade, entendida em relação com o território, presente na Cidade Ideal. Concebida com seus elementos padrão, muralhas periféricas geometricamente regulares, ruas ortogonais ou radiais, estabeleceu dispositivos de defesa fundamentais ao desenho urbano, ao vincular as fortificações ao contínuo, recortado como uma reggio (54) (região) a defender, tornando arquitetura e cidade indissociáveis.
Desta maneira, a representação nestas escalas expressa a cartografia local e regional, contra os mapas e representações do mundo conhecido, a grande cartografia que desempenhou papel fulcral aos descobrimentos de novos continentes e às grandes navegações.
Nessa escala local, plantas e esquemas geométricos de cidades planejadas e ideais, e perspectivas em voo de pássaro, que exaltavam a unidade amuralhada e cingida por espaços abertos e simétricos, conformavam a imagem das cidades do Renascimento. Assim, da cidade real do medievo à cidade ideal e icônica do Renascimento, no processo de construção dos signos, ora é o realismo do território quem deflagra a representação cartográfica, ora são os próprios signos — as plantas de cidades planejadas — que dão ritmo às relações de conhecimento, gerando cidades novas — materialidades que se tornam modelos a inspirar realizações futuras, evoluindo em sua condição representativa.
A cartografia no século 17 e a representação das cidades como máquinas de guerra
A planta de uma cidade setecentista se volta a representar um espaço defensivo, presente no desenho de muralhas poligonais construídas para acomodar a artilharia, nos baluartes e cidadelas como parte de uma “máquina de guerra”, de controle e afirmação do poder monárquico centralizador, em elaboração junto à formação dos Estados nacionais, e seus dispositivos administrativos e fiscais — controlar para cobrar impostos, planejar para dominar.
Se no passado, os ícones cartográficos respondiam a intenções e valores como interpor à cidade novos limites e formas, muralhas e portas, eixos e espaços livres que sinalizaram um controle centralizado do espaço e a formação dos Estados nacionais, estas condições evidenciam uma cartografia pautada por esses pressupostos, servil à empresa real de domínio do território e da população — e que serviu para defender, controlar e arrecadar tributos.
A cidade setecentista é a expressão de um artefato com intenção e propósito, pautada por relações com o entorno, a população e as instituições singulares, indicadas por sua ligação com a guerra, defesa e controle. Sua planta expressa essas preocupações, de acordo com caracteres gerais e particulares — modelos esquemáticos e traçado regular incorporam um modo de ser, e uma cartografia presente e que visa o futuro — a defesa.
Na França setecentista surgiria um grande projeto que os revolucionários de 1789 chamavam de “mapa geral” do país, a Carte de Cassini, a primeira aproximação sistemática de levantamento topográfico e mapeamento de todo um país, usando a ciência da triangulação e da Geodésia, a mensuração da superfície da Terra.
Bem antes disso, em dezembro de 1666, Luís XIV (1638-1715) criou a Academia das Ciências, para atender aos objetivos do controlador-geral das Finanças, Jean-Baptiste Colbert, e em 1672, o Observatório de Paris já estava em plena atividade, reunindo astrônomos e cartógrafos, como Cassini I, um renomado astrônomo italiano.
A proclamação da Constituição em 1793 foi o primeiro movimento estatal de um projeto privado de cartografia, levado a cabo por várias gerações dos Cassini, em sintonia com interesses defensivos e fiscais da família real francesa. A contribuição militar dos mapas se tornava flagrante. A República francesa, na iminência de ser invadida pelos reinos vizinhos, clamava por mapas precisos das diversas regiões e fronteiras, e o trabalho dos Cassini proporcionaria a defesa do novo regime. A Convenção Nacional posicionara seu interesse em racionalizar a administração de todo o território do país, transformando províncias eclesiásticas, parlements, câmaras e dioceses em 83 Departamentos. Para essa reforma, os mapas de Cassini foram fundamentais para afirmar o Estado e administrar a França, e para fazer um mapeamento atual e em grande escala de todo o reino, e conhecer e avaliar seus recursos.
Produzir mapas mundiais não era o foco, e embora a Geodésia e a medição da forma e do tamanho da Terra com precisão fossem instrumentos consolidados, a finalidade era mapear a França para difundir a agrimensura e a cartografia a todos os Estados-nação. Os Cassini foram os primeiros a fundamentar a cartografia ocidental e acentuar o papel dos mapas para a administração dos Estados nacionais, como dispositivos de registro que legariam a estadistas como Colbert informações para conhecer um país inteiro, e a academia científica desempenhar papel decisivo na administração do Estado. Esses mapas deveriam contribuir como diagnóstico para avaliar a destinação possível desses territórios, se à guerra ou à agricultura, ao comércio ou à manufatura, identificando recursos naturais e infraestrutura, estradas e cursos d’água, e indicando aprimoramentos. Para além de registros, relações de uso se estruturavam por meio deles, caracterizando-os como diagramas, um ícone síntese, constituído de outros, definindo limites com a representação do espaço contínuo.
O mapa da França resultou em um esquema geométrico de triangulação que pretendia cobrir toda a extensão do país, devendo gerar um método de mapeamento total. Distâncias eram calculadas com base na triangulação, que deixava vazios para serem preenchidos com as características dos lugares. Para construir a triangulação, foi preciso mapear toda a costa da França, escolhendo uma linha de meridiano (uma convenção), a partir da qual a triangulação topográfica foi realizada pelo agrimensor Picard, sob o comando de Cassini. Ao observar como guia eclipses das luas de Júpiter, já mensurados para calcular a longitude, essa abstração geométrica era complementada pelo trabalho de campo, que proporcionou a Carte de France Corrigé (1684).
O mapa dos Cassini e Picard era apenas um esqueleto geométrico, pontos, linhas e triângulos que abstraíam costas, vales e planícies, e que estruturavam a localização dos principais lugares, num levantamento ilustrativo de sua posição, atendendo ao planejamento estatal. Para reverter este esquematismo sem conteúdo, outro levantamento de registro de rios, vilas e cidades seria realizado por Cassini III, e levaria dezoito anos para ser concluído — 180 mapas regionais, na escala uniforme de 1:86.400, para cobrir todo o país.
Este mapeamento que procurava identificar o território real, sobrepondo-o ao esquematismo da triangulação, fazia o ícone evoluir, tornando o esquema de base um diagrama, aberto a incorporar aspectos reais do espaço: “A topografia precedia agora a geometria e os engenheiros de Cassini esforçavam-se para pôr carne geográfica no esqueleto triangular” (55) — esboçando a “roda dos signos” peirceana — a geometria e a topografia em representação simultânea, escolhendo sinais, símbolos e letras que traduzissem a complexa trama do território, numa nova linguagem cartográfica.
O território dos fisiocratas e da economia — a dependência urbano-rural e a cidade
O processo de mapeamento da França pelas sucessivas gerações dos Cassini representa um esforço sistemático de atender a exigências cadastrais ligadas aos objetivos políticos e econômico-financeiros dos dirigentes, primeiro de Luís XIV, depois de Luís XV (56).
Com a Fisiocracia (57) (do grego — "Governo da Natureza") os mapas se tornariam o instrumento fulcral para o controle da terra, em prol da elaboração de uma teoria econômica surgida sob a Ilustração francesa no século 18, para a qual a riqueza das nações provinha sobretudo do valor das "terras agrícolas" ou do "desenvolvimento da terra", justificando a necessidade de cadastrá-las, utilizando-se de mapas especializados. Entre algumas características do pensamento fisiocrático, destacam-se a ordem natural (a natureza e a terra como base), o laissez faire e laissez passer, a ênfase na agricultura, e a necessidade iminente de uma reforma tributária para equalizar a cobrança de tributos.
Os fisiocratas propugnavam um imposto único sobre ela, o "imposto territorial", que deveria ser a principal fonte de receita pública. Para implementar esse nível e intensidade de tributação, o mapa da França e de suas regiões e cidades era indispensável, para que o tributo fosse aplicado proporcionalmente à posse da terra.
Controladores gerais entenderam os mapas como uma necessidade e instrumento para a administração estatal (monárquica) eficiente, o que teve início com Colbert. A partir deste, compreendeu-se que a geografia e os mapas eram indispensáveis ao reconhecimento e projeto da infraestrutura, a exemplo das redes de transportes, e para estender o controle fiscal da terra não apenas no âmbito da cidade, mas regulamentando a tributação provincial, passando a uma ferramenta que introduzia a escala das regiões, situada entre o urbano e o nacional. Para essa mudança escalar, o Estado precisou de um diagrama de localização dos lugares significativos, para atender aos objetivos administrativos como a tributação.
O esforço fisiocrata de controle das regiões evidenciou as restrições e limites da Carte de Cassini, que se mostrava sempre parcial, diante da necessária incompletude de qualquer mapa, sugerindo que mapas e registros requerem outros tantos, em uma roda de semioses, para tender à grande complexidade, capaz de pôr à prova todo e qualquer esquema geométrico.
É possível pensar que a era do nacionalismo surge no século 18, junto com os mapas de Cassini (58) quando efetivamente se tornaram instrumento nacional, em nome da República Francesa. Naquele momento, a nação substituiu o Império, a partir de uma renovada concepção de território, em que a soberania se entendeu como uma ação homogênea, operando sobre cada centímetro quadrado de um território totalmente conhecido e registrado.
A Carte de Cassini foi, no entanto, um passo sem precedentes, consistindo no primeiro mapa geral de uma nação baseado na mensuração topográfica e geodésica, e capaz de fazer o mapa corresponder ao território convencionando que a informação coubesse em uma série de triângulos geométricos.
O cadastro da propriedade na França somente ocorreu no período do império napoleônico, com a Lei de Finanças de 1807, como complemento do Código Civil. O Plano cadastral se tornou parte fundamental da ação do Estado, para a cobrança de impostos proporcionais e igualitários, possibilitando com isso o direito de propriedade, criando um registro realizado num mapa homogêneo de cem milhões de parcelas, e evitando pendências judiciais (59).
No século 19, surge um novo gênero, o mapeamento temático, para registro da natureza geográfica de eventos físicos e sociais. Mapas temáticos possibilitaram representar a distribuição espacial de variáveis como intensidade e difusão de doenças ou da pobreza. Caminhava-se em direção de uma geografia moderna, onde geográfico é um ponto de vista de onde observar, analisar e agrupar fatos e eventos, a partir de conquistas estatísticas e recenseamentos, incluindo abordagens filosófica, matemática, físico-cultural e histórica da realidade representada. Com a publicação de As origens das espécies de Darwin (1859), houve uma integração da geografia e evolução das espécies (60), “aquele grande tema, aquela quase pedra fundamental das leis da criação, a distribuição geográfica”.
Tem-se um exemplo claro de como os mapas, desde Ptolomeu, criaram uma representação do espaço contínuo, onde os conteúdos relativos ao clima, relevo e também à evolução das espécies estão conectados e dependiam de suas posições (vizinhança) e relações uns com os outros. Esses mapas greco-romanos, criados com esquemas geométricos-matemáticos e o conhecimento do mundo da época, deram base para representar em princípios científicos novos conhecimentos, lançando as bases de ciências que surgiriam muito tempo depois, como a ecologia e a ecologia da paisagem.
Cidade moderna e a expansão ilimitada dos territórios — Barcelona de Cerdà
A cidade do controle e da defesa cedeu passo àquela do higienismo e da modernidade, nos séculos 19 e 20 (61); se a cidade moderna cresceu e se expandiu à luz de esquemas pré-determinados que a tornariam equânime pela reprodução de seu (s) modelo (s) — haussmaniano, corbusiano ou à imagem do Plano Cerdà (62), a cidade contemporânea busca por suas formas, diagramas e processos; seus valores abraçam a equidade de oportunidades e a participação coletiva e acesso ao espaço urbano. Seu desafio tem novos contornos, pautados pelas múltiplas escalas em conexão, pela desigualdade de oportunidades e de governança, e sua cartografia complexa urge ícones capazes de evidenciar essa intricada rede de relações.
A cartografia pode então ser abordada como um instrumento de poder político e social, diretamente ligada aos vários contextos histórico-sociais e ideológicos que a produzem (63). É possível que a cartografia e as várias escalas abordadas expressem ou reprimam informações e importantes dimensões.
Assim como os antecedentes da cidade renascentista ou defensiva, novas inflexões levaram à necessidade de aprimoramento dos meios de representação e criação do espaço, diante das necessidades, valores e princípios que regem o planejamento e a produção espacial, até os nossos dias. Os mapas podem funcionar como proposições — hipotéticas e futuras (quando envolvem planos e projetos), ou registros presentificados.
O crescimento demográfico e a concentração populacional nos centros urbanos urgiam que a cidade histórica se renovasse, dando lugar ao expansionismo. Ao mesmo tempo, exigia um plano para uma cidade funcional, salubre e eficiente (64), e o urbanismo se estabelece enquanto campo disciplinar. Na Espanha, por exemplo, com a urgência da reforma urbana em 1850, uma junta de Arquitetos e Engenheiros em Madrid discutiu normas e controles para futuras intervenções; foi então criada a Junta Consultiva de Polícia Urbana — JCPU, evidenciando a filosofia que adviria, de que “se parte del princípio de que las alineaciones son las condiciones generales y locales de salubridade, para señalar los limites de longitud y latitude, direción y forma de las calles […], así como la elevación de los edifícios y tamaños de las manzanas” (65).
Neste contexto expansionista, Idelfonso Cerdá cunhou o termo “urbanismo” em 1854, e em 1855, apresentou o Plano Cadastral de Barcelona, o plano topográfico (Plano Particulario), que possibilitaram o Plano do Ensanche (66). A cobrança fiscal se baseou nesses levantamentos, no cadastro parcelário, definindo valores, e o Plano que propôs a expansão urbana (Ensanche) atendeu à escassez de espaço e salubridade, obstadas pelas pré-existências medievais (67). Novas demandas relacionadas ao crescimento populacional e à industrialização motivaram os conceitos modernos de setorização e racionalidade, e a implementação do Plano Cerdà que estendia a cidade a partir da quadra aberta e de um sistema de circulação e infraestrutura que poderia crescer no território, viu-se totalmente dependente do cadastro fundiário e da topografia.
Aprovado pela coroa espanhola em 1859, e por ela imposto à municipalidade, o Plano Cerdà definiu nova estrutura urbana, que ainda perdura e define a cidade (68). Esta passava por um crescimento econômico resultante da atividade portuária e da indústria têxtil, experimentando superlotação, epidemias e insalubridade. Por essas razões, as urgências materiais do plano eram múltiplas, de natureza funcional, social, econômica e administrativa, e que tomaram forma com a adoção da quadra regular como um módulo, um esquema de ordenamento urbano a partir de quadras (manzanas) quadradas, de 113 metros de lado e vias de vinte metros de largura. Um conjunto quadrado de nove quadras está inserido num quadrado de quatrocentos metros de lado, modelo que inspirou as superquadras de Brasília (69), e o expansionismo da Barcelona de Cerdà amplificou em seis vezes a cidade intramuros (70).
A condição diagramática do Plano-esquema reside na forma aberta e combinações possíveis de ocupação das quadras, rompendo a rigidez do parâmetro e dotando-o de conteúdos diversificados. Cerdá propõe duas possibilidades para reverter o esquematismo da proposta (71); a primeira delas, ocupar a quadra com edifícios em dois de seus lados, mantendo as vias de vinte metros que chegaram aos dias atuais. A taxa de ocupação ficaria em dois terços da superfície do quarteirão, propiciando espaços internos arborizados, e equipamentos urbanos; os edifícios poderiam ser implantados em “L” ou “U”, potencializando espaços livres e abertos, e a permeabilidade das quadras.
A proposta potencializava a relação entre quadra, edifício e vias de circulação, expressa no ícone representado pelo Plano, marcado por suas quadras que potencialmente criavam um módulo para a cidade em expansão, e um novo tecido urbano que se estendia desde o antigo núcleo medieval até a divisa com outros municípios. O Plano apresentava virtudes: o perímetro da quadra deixava de limitar e conter o espaço público, e ao permitir o livre acesso pedestre, contrariava o caráter semipúblico e prioritariamente comercial pensado para Paris, com o Plano Haussmann (72).
O crescimento urbano ilimitado e a expansão periférica, motes da cidade moderna, contrapõem-se a uma nova e urgente abordagem urbano ambiental, em que o plano se constitui na representação de uma complexidade socioespacial que urge por uma visão sistêmica (73), enfrentando a degradação do meio ambiente em busca de soluções para o desenvolvimento com preservação da vida e do meioambiente natural. Estas urgências trazem ao planejamento desafios que o entendimento dos diagramas e do pensamento diagramático se torna central.
Cidade contemporânea no limiar do território e das formas de planejamento integrado
Se a cidade moderna e industrial se pautou pelo progresso ilimitado, e o crescimento embasado na racionalidade de uma economia que exauria os recursos naturais finitos, a expansão ilimitada de cidades e regiões vem sendo questionada.
Esquemas de cidades que se desdobram e seguem modelos, ou que reproduzem a visão ideal de uma Barcelona que se estendia replicando a quadra aberta e regular (74), vão dando oportunidade a uma reflexão sobre novos arranjos espaciais planejáveis, voltando-se para tecidos consolidados, e refletindo sobre o espaço periurbano e as fronteiras da expansão irrefreada.
Princípios urbanos foram ao longo de séculos construídos e transformados em fórmulas, que desenharam a cidade ideal e seus traçados reguladores, estabilizados em esquemas de cidades e modelos replicáveis. De uma cidade confinada ou em continuada expansão, dando as costas ao meio-ambiente ou destruindo-o, verificam-se entre seus valores a preservação do ambiente natural e construído, a contenção do espraiamento e a ocupação de vazios — como comparecem em recentes propostas ou reflexões sobre a urbanização, a metropolização e o papel de planos e projetos urbanos.
Destaca-se como em recortes históricos diferentes, os mapas, em suas várias escalas, foram evoluindo, transformaram-se em formas representativas do momento e de suas relações de força, dos interesses de quem cartografava e de quem aguardava, com ansiedade, por eles: reis, ministros, astrônomos, geômetras, cientistas, cobradores de impostos e taxas, engenheiros e arquitetos, e dos interesses e forças de quem era o objeto do cartografar — a sociedade, a população, fazendo dos mapas objetos vivos — espaço e tempo.
Para além de entender o objeto da cartografia e seus agentes no passado, é possível (e necessário) compreender os instrumentos cartográficos diagramáticos dos dias atuais — em um momento em que cidade, região e nação parecem dialogar, para planejar (em tese) e de forma integrada, recortes territoriais diversos.
O termo território requer definição; o entendemos não apenas como extensão de terra com limites físicos, político-administrativos ou naturais, mas como um sistema, envolvendo eventos e processos sociais. O território se vincula à sua população, sendo um ente vivo constituído por fluxos e dinâmicas multifatoriais (75). Ao contar com populações, processos e temporalidades, com uma auto-organização em sistema, faz-se notar movimentos que emergem de “baixo para cima” (76).
Por ser multifatorial e interescalar, território é uma forma material e complexa do espaço, abstração em busca de especificidade, por definir várias escalas — a cidade, a relação dela com outras, em uma região. Dessa maneira, os sistemas territoriais são representados por ícones conforme o que a cartografia pode representar, e como o faz, tornando-se instrumento para delimitar o contínuo de muitas formas, com valores e processos histórico-sociais.
A dinâmica de produção específica e abordagem multiescalar exige a especialização das formas de representação, indo de um mapa ou conjunto deles a uma organização documental capaz de lidar com demandas reais — é preciso que o conjunto de representações evolua, para se tornar apto a representar as relações socioespaciais.
Um exemplo contemporâneo da evolução das formas cartográficas é o instrumento de coordenação documental denominado Schéma de Coherence Territorial (Esquema de Coerência Territorial) — ScoT, em constante aprimoramento no país de origem (França), e que se tornou central para pôr em prática o Plano Estratégico Espacial. Esse tipo de planejamento estratégico requer governança, em busca da gestão com finalidade social e preservação do meio ambiente, incluindo mobilidade, habitação, produção e usos diversos.
A França nas últimas três décadas acumulou inúmeras leis de proteção ambiental nacionais, regionais e urbanísticas com a dimensão ambiental a fundamentá-las. Também foram criados novos consórcios municipais, arranjos com gestão administrativa, política e econômico-tributária integrada, como também leis em vários níveis de responsabilidade dos agentes administrativos, e para este complexo foi criado este instrumento de planejamento e coordenação.
Um SCoT é um inventário de informações cadastrais, indicadores e ao mesmo tempo, uma reflexão qualitativa e cartográfica sobre o recorte espacial a ser planejado, nos níveis regional e urbano, reunindo municípios associados. Define seus objetivos e busca atingi-los coordenando três documentos, uma caracterização do território, um diagnóstico que envolve cartografias temáticas e um documento de ação (tático), indicando possibilidades de desenvolvimento.
O instrumento é um diagrama, ao dotar o plano de caráter reflexivo e criador, indissociável da participação social, mas se pautando pelo viés ecológico e ambiental, com visão social e econômica, procurando cartografar para responder aos problemas interpostos pelo desenvolvimento e os efeitos das atividades antrópicas. Instrumentos de planejamento são diagramáticos quando integrados por um conjunto documental formado de textos diversos (hierarquias da legislação, diagnósticos econômico sociais etc.), e cartografias temáticas, que relacionadas, oferecem um conhecimento amplo do recorte. Ao apresentarem etapas de planejamento, ações futuras, e cartografias de processos e resultados esperados, num mesmo documento síntese, tem-se o conjunto de interpretações para passar à ação.
O planejamento integrado não apenas identifica a expansão urbana sobre áreas ambientalmente protegidas, mas é um dos principais elementos do debate contemporâneo sobre a cidade e suas transformações, olhando as relações com outras escalas e com a dimensão socioespacial, em perspectiva multifatorial. Essa forma de abordagem entende a cidade e o território como sistema, pautado pela urgência de interação do homem e o território urbanizado, produto de intervenções na natureza (77).
Nos SCoT (78), a palavra esquema, ao contrário de simplificação, remete a um signo icônico complexo, receptor e ordenador de textos e linguagens que representam esse sistema. Nesse instrumento, o conjunto documental é amplo e está correlacionado; leis nacionais definem limites para os consórcios intermunicipais, e essa articulação escalar e legal confere sentido aos mapas. A linguagem verbal e genérica (as leis) toma forma em outra, espacial, conectada e contínua. Estes documentos não operam tão somente como cartografia de registro, que finaliza um plano, mas neles os mapas são meio para um raciocínio diagramático e aberto, como nos princípios da Semiótica (79), propondo ações para a transformação de um estado de coisas reconhecido. Como um articulador de várias escalas e instrumento dinâmico, a escuta social e a ação a partir desta se tornam centrais, um meio espacial e estratégico, possibilitando o entendimento do presente (diagnóstico) e a perscrutação do futuro.
O meio ambiente comparece como dimensão integradora do plano (80) visando intensificar a qualidade do ambiente biofísico, e adequando-o às transformações demográficas e ecológicas. A integração entre ambiente natural e antrópico, chegando à escala local e ao urbano, foi se demonstrando essencial para superar a fragmentação da ocupação do espaço, e evitar o espraiamento urbano às franjas periféricas, devido à ausência de um direcionamento por planos.
Conclusão
Se o mapa não é o território, este artigo o apresentou como um recorte vivo dos fluxos temporais e espaciais que caracterizam os eventos. Procurou-se mostrar, nos vários exemplos apresentados, sua eficiência como linguagem rigorosa, a qual, em sua evolução, foi ganhando em precisão, e que, em sua convencionalidade, é capaz de operar como intermediação do conhecimento do mundo, e criação de conhecimentos novos, a partir de hipóteses (a abdução peirceana).
As Academias de Ciências foram fundadas no século 17 para estudos astronômicos para precisar o rigor dos mapas, fazendo-os científicos e cada vez mais exatos; estes se tornaram ferramentas de grande poder para várias ciências, evidenciando a contribuição das linguagens verbal e não verbal, como numa roda dos signos, para produzir conhecimento. Esse papel da roda dos signos e da relação dessas linguagens se tornou muito evidente nos SCoT, pois estes se autodefinem como instrumentos abertos e em contínua interação com o mundo e o espaço contínuo a recortar.
Mapas, cartas, planos de cidade são diagramas, signos que geram conhecimento e ciência, evidenciando que linguagens verbais e não verbais interagem de modo dinâmico. Indutivos devido à carne geográfica a que se referem, dedutivos por seus esquemas estruturais, os mapas são abdutivos, pois indicam o novo, e o devir do processo de mapeamento movido pela realidade. Antigas hierarquias que priorizavam proposições e textos verbais, que hoje se transformam numa linguagem múltipla e conectada, podem ser revistas, iluminado a ciência a partir do espaço e de suas representações.
Diagramas fazem parte do ordenamento do território (exemplificado com o caso francês), uma vez que este é composto de múltiplas determinações e dimensões, e de um complexo de significados que o plano representa. Estas considerações evidenciam a relevância do pensamento diagramático, na construção do conhecimento, o que esclarece a importância do espaço como meio de produção da (as) ciência (s).
notas
1
PEIRCE, Charles S. Semiótica. São Paulo, Perspectiva, 2005.
2
PEIRCE, Charles S. Textos escolhidos de Charles Sanders Peirce. Semiótica e filosofia. São Paulo, Cultrix, 1975.
3
ECO, Umberto. Kant e o ornitorrinco. São Paulo, Record, 1997. p. 308.
4
Idem, ibidem, p. 308.
5
Idem, ibidem.
6
PIAGET, Jean; INHELDER, Barbel. A representação do espaço na criança. Porto Alegre, Artes Médicas, 1993.
7
ECO, Umberto. Op. cit., p. 90.
8
PEIRCE, Charles S. Apud ECO, Umberto. Op. cit., p. 35-36.
9
PEIRCE, Charles S. Textos escolhidos de Charles Sanders Peirce (op. cit.).
10
BROTTON, Jerry. Uma história do mundo em doze mapas. Rio de janeiro, Zahar, 2012.
11
FARIAS, Priscila L.; QUEIROZ, João. On Peirce's diagrammatic models for ten classes of signs. Semiotica, n. 202, 2014 <https://bit.ly/41O0IHo>.
12
Idem, ibidem.
13
ECO, Umberto. Op. cit.
14
PEIRCE, Charles S. Textos escolhidos de Charles Sanders Peirce (op. cit.).
15
PEIRCE, Charles S. Apud ECO, Umberto. Op. cit., p. 61.
16
SILVA, Fabio Cesar da. O esquematismo transcendental kantiano. Revista Reflexões, ano 3, n. 5, Fortaleza, 2014 <https://bit.ly/3BU1wj4>.
17
KANT, Imannuel. Crítica da razão pura. Lisboa, Fundação Calouste Gulbekian, 2013, p. 181.
18
Idem, ibidem, p. 183.
19
PEIRCE, Charles S. Textos escolhidos de Charles Sanders Peirce (op. cit.).
20
ECO, Umberto. Op. cit., p. 90.
21
PEIRCE, Charles S. Textos escolhidos de Charles Sanders Peirce (op. cit.).
22
NUNES, Mônica B. Cartografia e paisagem: o mapa como objeto de estudo. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 65, 2016 <https://bit.ly/3ZSwOPk>.
23
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. São Paulo, Paz e Terra, 2021.
24
NUNES, Mônica B. Op. cit.
25
BROTTON, Jerry. Op. cit., p. 11.
26
KANT, Imannuel. Idem, ibidem, p. 181.
27
ECO, Umberto. Op. cit.
28
PEIRCE, Charles S. Textos escolhidos de Charles Sanders Peirce (op. cit.).
29
BROTTON, Jerry. Op. cit., p. 20.
30
PTOLOMEU. Apud BROTTON, Jerry. Op. cit., p. 13.
31
BROTTON, Jerry. Op. cit.
32
Hiparco é o pai da trigonometria; fez o primeiro astrolábio e um catálogo com 850 estrelas, aproveitado por Ptolomeu, que lhe acresceu outras duzentas. Este calculou a longitude medindo a distância de meridianos, de leste a oeste, de acordo com o fuso horário e a distância, apoiando-se no Itineraritum, guia romano de viagens contendo um rol de cidades e seus principais marcos, o qual foi aperfeiçoado, passando a ter um valor de esquema, e a ser vendido aos viajantes. BROTTON, Jerry. Op. cit.
33
BROTTON, Jerry. Op. cit., p. 27-28.
34
ECO, Umberto. Op. cit., p. 78.
35
OLIVA, Jaime; FONSECA, Fernanda P. Reflexões sobre o urbano, a cartografia e a iconografia: O caso da metrópole de São Paulo. Revista Geografia e Pesquisa, Ourinhos <https://bit.ly/3P6qQ8N>.
36
JORGE, Ana Maria Guimarães. Pensamento Diagramático na Semiótica Dialógica de Charles S. Peirce. Anais Intercom — Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 25º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Salvador, 2002 <https://bit.ly/41HYGs8>.
37
OLIVA, Jaime; FONSECA, Fernanda P. Op. cit.
38
LUSSAULT [1995]. Apud OLIVA, Jaime; FONSECA, Fernanda P. Op. cit.
39
NOGUEIRA, Magali G.; BIASI, Mario di. Fontes e técnicas da cartografia medieval portulano. Terra Brasilis. Geografia e História em Questão, 2019 <https://bit.ly/3VRjvhc>.
40
BROTTON, Jerry. Op. cit.
41
NOGUEIRA, Magali G.; BIASI, Mario di. Op. cit.
42
BROTTON, Jerry. Op. cit.
43
NOGUEIRA, Magali G.; BIASI, Mario di. Op. cit., p. 9.
44
SOUZA, Maria Luiza Z. de. Carta de Rafael Sanzio — Castiglione ao Papa Leão X e sua importância para o estudo da arquitetura e do urbanismo do período do renascimento. Dissertação de mestrado. São Paulo, FAU USP, 2006 <https://bit.ly/3Dx6vXK>.
45
RODRÍGUEZ, Federico A. El levantamiento planimétrico de la ciudad. In URTEAGA, Luís; PIQUÉ, Francesc N. (org.). Historia de la Cartografía Urbana en España: modelos y realizaciones, 2017 <https://bit.ly/3ZSxynA>.
46
Idem, ibidem.
47
Carta de Leão X. In SOUZA, Maria Luiza Z. de. Op. cit., p. 135.
48
BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Decifrando mapas: sobre o conceito de “território” e suas vinculações com a cartografia. Anais do Museu Paulista, São Paulo, 2004, p. 208 <https://bit.ly/407EOO3>.
49
Idem, ibidem.
50
ECO, Umberto. Op. cit., p. 90.
51
WITTKOWER, R. La Arquitectura en la edad del Humanismo. Buenos Aires, Nueva Visión, 1958.
52
LE GOFF, Jacques. O apogeu da cidade medieval. São Paulo, Martins Fontes, 1992.
53
BUENO, Beatriz Piccolotto S. Op. cit.
54
Região é uma noção, alvo de variadas acepções. Região está ligada ao extenso territorial, bem como à ideia de diversidade espacial e escalar. Com o fim da Idade Média, as regiões se identificaram com unidades administrativas, conformando divisões para as cartografias, ajudando a limitar atribuições de competências na gestão do Estado moderno. GOMES, Paulo Cesar da C. O conceito de região e sua discussão. In CASTRO, Iná Rosa et al. Geografia, conceitos e temas. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2000.
55
BROTTON, Jerry. Op. cit., p. 139.
56
Idem, ibidem.
57
Para os fisiocratas, apenas o trabalho agrícola criava valor aos produtos sociais e todo o trabalho "industrial" e não agrícola consistia em "apêndices improdutivos" para o trabalho agrícola. No entanto, uma das mais importantes contribuições da Fisiocracia para o mundo contemporâneo talvez seja a ênfase na dependência da produtividade agrária e em seu complemento urbano, expondo a dimensão do meio ambiente como fundamento dessa relação, com a capacidade do meio ambiente natural se renovar.
58
BROTTON, Jerry. Op. cit.
59
FRANÇA. Histoire du Cadastre. Le Cadastre Parcellaire de 1807. 2023 <https://bit.ly/4gmOCt0>.
60
DARWIN, Charles. Apud BROTTON, Jerry. Op. cit., p. 151
61
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. São Paulo, Edições Graal, 1979.
62
ABASCAL, Eunice; ABASCAL BILBAO, Carlos. Arquitetura e ciência: planos, projetos urbanos e coisas. Do Plano Cerdà ao urbanismo sustentável. Arquitextos, São Paulo, ano 22, n. 257.06, Vitruvius, out. 2021 <https://tinyurl.com/8m34mtt8>.
63
NUNES, Mônica B. Op. cit.
64
ABASCAL, Eunice; ABASCAL BILBAO, Carlos. Arquitetura e ciência: planos, projetos urbanos e coisas. Do Plano Cerdà ao urbanismo sustentável (op. cit.).
65
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66
MENDOZA, Josefina Gómez; CARBONERO. Op. cit.
67
LAMAS, José Maria Ressano Garcia. Morfologia urbana e desenho da cidade. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2000.
68
ABASCAL, Eunice; ABASCAL BILBAO, Carlos. Arquitetura e ciência: planos, projetos urbanos e coisas. Do Plano Cerdà ao urbanismo sustentável (op. cit.).
69
TREVISAN, Ricardo. Cidades novas e seus conceitos. Cidades novas [online]. Pesquisa, inovação & ousadia. Brasília, Editora UnB, 2020 <https://tinyurl.com/yfws4683>.
70
CARRERAS, 1986. Apud TREVISAN, Ricardo. Op. cit.
71
TREVISAN, Ricardo. Op. cit
72
Idem, ibidem.
73
PENNA, N. A. Urbanização, cidade e meio ambiente. Geousp Espaço e Tempo (online), v. 6, n. 2, 2002, p. 125-140 <https://tinyurl.com/249atwzx>.
74
ABASCAL, Eunice; ABASCAL BILBAO, Carlos. Arquitetura e ciência: planos, projetos urbanos e coisas. Do Plano Cerdà ao urbanismo sustentável (op. cit.).
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79
JORGE, Ana Maria Guimarães. Op. cit.
80
ALVIM, Angélica T. B.; RUBIO, Viviane M. Op. cit.
sobre os autores
Eunice Helena S. Abascal é arquiteta e urbanista, professora da área de História e Teoria da Arquitetura, docente e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Carlos Abascal Bilbao é arquiteto e urbanista e mestre em Ciências Sociais pela Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais Fesp da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.