O Edifício GSW, o Posto de Polícia e Bombeiros (ambos em Berlim), o Laboratório de Pesquisa Farmacológica (Biberach) ou Centro de Inovação e Desenvolvimento para Sedus (Dogern) constatam como a cor é um elemento determinante da arquitetura de Sauerbruch Hutton. A equipe fundada em 1989, com sede em Berlim, é autora do novo edifício que abriga mais de 700 obras-de-arte realizadas durante a segunda metade do século XX e alguns dos mais importantes artistas atuais da Coleção Udo e Anette Brandhorst.
Inaugurado no último 21 de maio, o Museum Brandhorst é um volume retangular, prolongado e estreito que se articula com as atividades vicinais de um distrito de Munique, dialogando com um elegante quarteirão de moradias desenhadas nos anos 50 pelo arquiteto Sep Ruf. Sua posição toma como referência a implantação do edifício da Pinakothek der Moderne em continuidade com o museu, mas também redefini e outorga uma nova ênfase à intersecção urbana onde se situa.
O exterior do Museum Brandhorst se distingue por sua expressão policromática que, em primeira instância, quer metaforizar através de sua energia visual o caráter das obras de arte que estão em seu interior. Todo o edifício é coberto por faixas metálicas contendo, cada segmento, duas cores diferentes que se alternam horizontalmente, de maneira a criar uma paleta de 23 cores que vão do violeta escuro até amarelo claro, estabelecendo três faixas cromáticas distintas, em zonas de tons escuros, médios e brilhantes. Por trás desta camada há outra que envolve todo o edifício, composta por 36.000 ladrilhos cerâmicos e que, em combinação com as faixas metálicas, produzem diferentes qualidades de sombra. De uma perspectiva conceitual, os arquitetos queriam sintetizar e reinterpretar livremente conceitos de Gottfried Semper e Bruno Taut, proporcionando um edifício com uma imagem poderosa, mas, simultaneamente, sutil, que provoca um efeito perceptivo complexo, desconcertante e atrativo através de diferentes impressões causadas no pedestre que caminha junto ao edifício ou no indivíduo que se detém a contemplá-lo deliberadamente de diferentes ângulos.
O interior se opõe a isto por ser um espaço eminentemente branco e neutro, iluminado por luz natural. As qualidades de iluminação, disposição e superfície das galerias diferem em função de cada piso, havendo no nível inferior as salas menores, adequadas às condições que permitam a exibição de peças tridimensionais. No nível intermediário situa-se um pátio contendo seis salas iluminadas artificialmente e dedicadas à exposição de fotografia e obras sobre papel, contendo também espaços adequados para vídeos e arte eletrônica. No nível superior encontram-se as salas maiores, de até de 450m2, iluminadas com luz natural suavizada por um tecido que enfatiza sua entrada do teto, destinada às obras de grande formato, incluindo um espaço especificamente desenhado para abrigar as doze pinturas que integram o Lepanto Cycle de Cy Twombly, artista cujas obras constituem, ao lado das de Andy Warhol, as pedras angulares da coleção Brandhorst.
Diferentemente de outros exercícios coloridos realizados recentemente, e incluindo obras anteriores da trajetória de Sauerbruch Hutton, esta proposta transcende a mera intenção ornamental de uma fachada multicolorida. A cor, ainda que seja mais correto dizer neste caso o cromatismo, permite certamente imbuir a este edifício uma identidade singular como peça urbana, que é representação de um museu de arte contemporâneo, em contraposição à qual, a neutralidade do branco interior é aplicada para gerar um perfeito espaço para abrigar arte.
É um manifesto de como estes arquitetos alcançaram uma capacidade superior para construir ensaios complexos através da experimentação com a cor. A disposição aleatória, mas dirigida, das cores na fachada do Museum Brandhorst (constatando a afirmação de que não trabalham submetidos a nenhuma teoria das cores) os permitiu evitar constituir este edifício como um mero corpo policromático, conseguindo criar uma experiência cromática (através de uma pele em que a policromia cria uma espécie de efeito cromático que evoca a possibilidade de uma complexa monocromia) através da qual conseguem ensaiar um novo modo de olhar e ver um edifício. Isto lhes permite afastá-lo da natureza de edifício-objeto, que poderia ser atribuída a priori, e propor um exemplo que ajude a sustentar a especulação de Ludwig Wittgenstein, quando escrevera que os conceitos de cor devem ser tratados como os de sensação.
notas
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Artigo originalmente publicado em ABCD as Artes e as Letras, n. 903
[Tradução: Maria Claudia Levy; revisão técnica: Felipe Contier]
sobre os autores
Fredy Massad e Alicia Guerrero Yeste, titulares do escritório ¿btbW, são autores do livro “Enric Miralles: Metamorfosi do paesaggio”, editora Testo & Immagine, 2004.
Fredy Massad e Alicia Guerrero, Barcelona Espanha