Meu Deus! O que estará acontecendo na Colômbia? Surpreso, aqui mesmo na revista Projetos do portal Vitruvius (1) me encontro ante tão maravilhosos projetos. Reais e construídos. Projetos públicos, pensados para a cidade, abertos, com árvores, com verde! Projetos arrojados, de um bom gosto notável! Serão os novos ares refrescando a vontade da iniciativa pública e privada, assim como os investidores, arquitetos e estudantes?
Meu Deus! O que estará acontecendo com o Brasil, a vedete da vez no cenário internacional? Arrisco, aqui, a alguém publicar um projeto que chegue perto aos realizados na Colômbia, algum projeto de um parque público, pensado para todos, que sirva de inclusão social. Atualmente, como a Espanha há alguns anos, este é o país das construções, mas... e a Arquitetura?
Ok, temos teleféricos, mas... e os centros culturais regionais, as bibliotecas de bairro, as escolas, as residências de terceira idade, os ginásios de bairro, residências para estudantes, escolas de formação profissional, creches, academias para populações carentes, quadras de esporte? Quantas oportunidades – perdidas – para se exercer o domínio da arquitetura no Brasil. Digo arquitetura e não construção. Digo pensar um resultado de qualidade e com materiais de qualidade quando o projeto está destinado ao popular, ao anônimo, aos usuários do cotidiano. Isso eu estou vendo logo ali, aqui pertinho, em Medellin, em Bogotá.
Haverá de se estudar a fundo tão relevante transformação ocorrida na Colômbia...
Além dos programas dos edifícios, se nota qualidade plástica e formal, além dos materiais.
Na mesma revista, se pode comparar dois raciocínios projetuais, verdadeiro abismo conceitual:
Enquanto na Colômbia os projetos são representados com verde, com árvores, com vegetação que além de sombra renova nosso ar e purifica o ambiente, o projeto brasileiro digno de destaque (Projeto Urbano do Córrego do Antonico, MMBB Arquitetos) é uma “plaza dura” como as que tanto se fizeram em Barcelona nos anos 1980/90 e que tanto se criticou por não trazer nem aconchego, nem sombra, nem conforto aos usuários. No render apresentado tampouco se vêem bancos e lugares de estar, como os exemplos vistos na Colômbia. O texto diz querer criar “um ambiente de vivência”, mas no sol do meio-dia ao se ir buscar um filho na escola, não há praça desolada como essa que crie alguma vivência. Que tal aproveitar a rica e fértil terra do nosso país pra espalhar mais verde, mais vegetação, mais plantas nativas? Isso começa logo no Photoshop ao caprichar no render prá que fique bonita a imagem. E um projeto como o do Córrego do Antonico, água e vegetação tem tudo a ver. Arrisco a colocar uns bancos, algumas árvores frondosas ou frutíferas (e não palmeiras ornamentais, por favor) que o resultado será de uma vivência humana mais perto de uma cidadania dignamente universal, como a almejada por Milton Santos.
Em recente livro publicado por Josep Maria Montaner (Arquitectura y politica), desfilam por suas páginas, entre outros temas, diversas iniciativas contemporâneas de governos que vem utilizando a arquitetura como ferramenta de inclusão social. Surpreendo-me ao encontrar inúmeros exemplos na Colômbia, por todo o país. O Brasil está somente representado pelo temporalmente longínquo projeto de Curitiba.
Que pena!
Olhemos a Colômbia com mais atenção...
notas
1
Projetos, n. 134, ano 12, fev. 2012 <www.vitruvius.com.br/revistas/browse/projetos/12.134>.
sobre o autor
Roberto Bottura é arquiteto e urbanista, formado pela PUC-Campinas e mestre em Teoria e História da Arquitetura pela Universitat Politècnica de Catalunya. Atualmente é investigador do Núcleo de Estudos das Espacialidades Contemporâneas – USP.