São cada vez mais numerosas as fontes de ruídos presentes nas cidades, que provocam danos à saúde da população. Por isso, quanto mais se expandem os centros urbanos, maior é o desenvolvimento da acústica. O problema é que no Brasil há apenas cerca de trinta profissionais especializados em acústica ambiental e de edificações. Ao mesmo tempo, existe uma grande procura por engenheiros acústicos em razão do crescimento do setor de construção civil e arquitetura (1).
A engenharia acústica emprega profissionais nos campos de consultoria, projeto, fiscalização, produção industrial e serviços, além de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico. Nessa área, também atuam engenheiros civis, engenheiros mecânicos, engenheiros eletricistas, engenheiros do ambiente, físicos, arquitetos e outros profissionais. Eles elaboram projetos acústicos para auditórios e salas de espetáculos, edifícios (residenciais, escritórios, shoppings, hotéis), ruído de equipamentos, e atuam ainda em diversas áreas ambientais (acústica ambiental, urbana e controle de ruídos), incluindo planejamento municipal e transportes.
Além de adquirir novas competências para o mercado de edifícios ambientalmente sustentáveis, a intenção é mostrar os aspectos relacionados ao desempenho dos edifícios; especializar o conhecimento dos profissionais em temas específicos, com aquisição de conteúdos hoje pouco difundidos. Com isso, o especialista deverá dominar não apenas o tema do conforto acústico, como também utilizá-lo para preservar a saúde humana, frente aos desgastes impostos pela ausência de controle de ruídos na sociedade em geral.
Cultura do ruído
Embora o ruído seja um assunto tabu no Brasil, pois, de maneira geral, a cultura do brasileiro é fazer barulho, essa atitude não é sustentável e está com os dias contados. A poluição sonora sempre foi pouco debatida e a ênfase maior das questões ambientais, em geral, fica centrada na poluição do ar e da água. Porém, esse cenário está mudando, pois na medida em que provoca doenças – distúrbios do sono, stress, depressão, irritabilidade e até problemas cardiovasculares –, a poluição sonora é considerada problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A entidade estima que 800 milhões de pessoas sofram com perda auditiva, quantidade que deverá aumentar para 1,1 bilhão até 2015 – aproximadamente 16% da população.
O ruído pode afetar ainda o desempenho nas atividades de trabalho, ao interferir na comunicação oral, na concentração na vida cotidiana das pessoas, prejudicando a saúde mental, o relaxamento, e causando queda da qualidade de vida. No caso das crianças, pode comprometer o crescimento, além de todo o processo de aprendizado.
Por outro lado, há ainda um grande trabalho a fazer com relação à legislação nacional, considerada inadequada e defasada para a gestão de ruído urbano nas cidades brasileiras. Nos países da Europa já está em vigor desde 2002 a Diretiva Europeia que trata da gestão da poluição sonora no meio ambiente. Na América Latina, cidades como Santiago (Chile) e Buenos Aires (Argentina) já dispõem de uma cartografia sonora. O objetivo da ProAcústica é adotar um Plano Diretor Sonoro para as cidades brasileiras. Um caso interessante que podemos citar é o de Fortaleza, onde se iniciou o mapeamento acústico da cidade e a Secretaria do Meio Ambiente já exige estudos de impacto ambiental de ruído para ferrovias, estádios e rodovias. Pretendemos criar uma metodologia e simulações para a gestão de ruído ambiental nas cidades.
Já a Comissão de Acústica em Edificações da ProAcústica deverá ser responsável por criar uma base de dados sobre acústica nas construções, baseada em ensaios, a fim de orientar o mercado a respeito dos requisitos da Norma de Desempenho (NBR 15.575). Ao final, pretende elaborar um manual técnico sobre as implicações acústicas da norma, oferecendo dados a respeito de diversas soluções construtivas. Mais adiante a ideia é criar um sistema para certificação acústica de edificações, com selo baseado em classes de desempenho, dependendo do uso do prédio.
A ProAcústica deverá montar ainda um banco de dados sobre desempenho acústico de sistemas construtivos e fazer avaliação junto aos usuários a respeito dos níveis de conforto acústico dessas habitações. Hoje, os níveis mínimos exigidos pela norma já não dão conta de oferecer conforto acústico para os moradores. Vamos tomar a frente e ampliar essas exigências e o escopo da norma, diferenciando-as para os vários tipos de uso, desde habitação, até hotéis, edifícios corporativos, hospitais, refeitórios, salas de aula, entre outros.
nota
1
A fim de oferecer especialização aos profissionais, a ProAcústica está realizando, em parceria com a Poli-USP, ITS de Lisboa e a FDTE, um curso de pós-graduação em Engenharia Acústica de Edifícios e Ambiental, para dar suporte ao crescimento do mercado nacional.
sobre o autor
Davi Akkerman é presidente da ProAcústica – Associação Brasileira para a Qualidade Acústica e diretor da Harmonia Acústica, empresa especializada em projetos e consultoria na área.