Qual a relação entre um projeto sustentável e uma edificação efetivamente sustentável? A reflexão que se segue parte da ideia de que a sustentabilidade de uma edificação é dada pela permanência, ao longo do tempo, da sua utilidade e da eficiência de suas facilidades, assim como de como ela se insere no contexto urbano permitindo o desenvolvimento e as condições de vida das futuras gerações.
Inicialmente, eram tidos como projetos sustentáveis aqueles com características relacionadas à ecologia, à preservação de ecossistemas e, essencialmente, àqueles que, para sua execução, não causassem grandes impactos ambientais. Esta visão foi se ampliando e os projetos sustentáveis passaram a considerar a concepção de sistemas de vedação e de instalações prediais com melhores desempenhos em termos de eficiência energética e uso racional de água.
Ferramentas de simulação computacional surgem como aliadas nesse processo. A racionalização no consumo de insumos naturais renováveis e não-renováveis e de insumos não naturais também já é considerada nos memoriais descritivos e nos projetos executivos. Assim, projetos mais sustentáveis vêm surgindo e vão além dos aspectos ambientais, solucionando também questões econômicas e sociais relacionadas.
Então, partindo-se de um projeto sustentável, tem-se por consequência uma edificação sustentável?
A primeira resposta está na análise contextual sob a qual se insere a edificação e as respostas dadas pelo projeto para questões futuras como a previsão de infraestrutura para a mobilidade urbana, abastecimento de água e energia, drenagem urbana, coleta de resíduos e efluentes. Também como ponto de partida está a investigação e a previsão das diferentes necessidades dos diversos tipos de usuários e como elas são atendidas e previstas pelos projetos. Aspectos culturais também devem ser analisados com bastante cuidado. Somente partindo de projetos que consideraram estas informações é que as edificações futuras poderão ser capazes de se sustentar ao longo do tempo.
Além desses pontos, a sustentabilidade das edificações depende da resultante dos projetos em termos de qualidade ambiental interior – conforto e saúde, e de competitividade – despesas operacionais, de conservação e de manutenção. Deve ser evidente a sua capacidade de adequação, flexibilização e adaptação futura dos espaços disponíveis, sistemas construtivos e equipamentos.
Outros pontos fundamentais para a sustentabilidade das edificações e que não são tratados pelos projetos são a disponibilidade de informação ao usuário e a capacitação dos gestores prediais para a realização das rotinas operacionais, de conservação e manutenção preventiva dos sistemas e equipamentos instalados. Outro ponto é a implementação de práticas de monitoramento que permitam acompanhar os consumos e os padrões de desempenho dos sistemas presentes. Este acompanhamento pode se dar por meio de dispositivos de medição, setorização e automação, no entanto, independente do meio, ele é essencial para o conhecimento dos padrões presentes, a definição de indicadores, a busca de melhorias, a identificação de desvios, a aplicação de correções e a alimentação de novos sistemas, sempre partindo dos consumos efetivos e dos desempenhos alcançados pelos sistemas presentes.
Assim, projetos sustentáveis se tornam edifícios sustentáveis a partir do momento em que as soluções de projeto são postas à prova e monitoradas e que os benchmarks são criados, permitindo o aperfeiçoamento dos desempenhos e, consequentemente, proporcionando durabilidade à edificação.
sobre a autora
Clarice Menezes Degani é engenheira especialista em sustentabilidade e assessora da vice-presidência de Sustentabilidade do Secovi-SP.