Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
AlBorde é um estúdio colaborativo e experimental, preocupado com a construção relacional do espaço, focado em resolver necessidades reais com base nos materiais e nos agentes envolvidos em cada projeto

how to quote

SCHIAVO, Bruno. A arquitetura de AlBorde. Drops, São Paulo, ano 13, n. 064.04, Vitruvius, jan. 2013 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/13.064/4615>.



Aberta à paisagem marcada pelo vulcão Ilaló, às proximidades de Quito, no Equador, a “Casa Pentimento” tem um sentido de integração visual e climática com o ambiente. Um único módulo prefabricado de concreto, que pode ser empilhado em quatro posições diferentes, cria paredes estruturais de fechamento entremeadas por vazios. Por eles penetram a luz e o ar, além de fornecerem suporte ao mobiliário, às escadas, à fachada-jardim. À leve inclinação do terreno acomodam-se os níveis, dispostos em volumes diferentes, que ocasionalmente incorporam o jardim. Percebe-se logo o trabalho sobre dois temas modernos: o da possibilidade de variação a partir do módulo e o da permeabilidade entre o exterior e o interior.

Situada agora na própria encosta do vulcão Ilaló, ainda mais distante da cidade, a “Casa Entre Muros” propõe outro sentido de integração com o seu meio. Do corte realizado para a terraplanagem foi aproveitado o material que soergueu as paredes estruturais. Chamadas de “muros”, estas foram dispostas transversalmente ao longo do terreno e, pela leve quebra com o seu paralelismo, fortalecem o todo da estrutura. Em seguida, pela escavação dessas paredes criaram-se os vazios que abrigam mobiliário e objetos domésticos. Os volumes são dispostos em sequência, abertos à vista do vale, unificados por um corredor lateral. A madeira e o bambu utilizados também foram retirados daquele sítio; tendo sido cortados em “boa lua”, almejou-se evitar o seu tratamento com produtos químicos. Seguindo tradições ancestrais, através de uma cerimônia, os arquitetos, os pedreiros e os futuros moradores pediram permissão ao vulcão para que se edificasse ali. A relação harmônica entre a natureza e o objeto construído foi buscada e aprofundada em todas as etapas da construção.

O que aqui pode soar como um antagonismo entre posturas divergentes frente ao projeto de arquitetura é superado pela prática de um mesmo escritório, responsável pelas duas obras. Formado em 2007, o equatoriano AlBorde uniu David Barragán (que assina a citada “Casa Pentimento”, de 2006, junto a José Maria Sáez) e Pascual Gangotena, e conta hoje também com Marialuisa Borja e Esteban Benavides. O grupo atua em palestras,  debates e exposições que ultrapassam as fronteiras da América Latina e tem sido nomeado a diversos prêmios internacionais. No dia 14 de Novembro de 2012 receberam o da Fundação Schelling de Arquitetura, na Alemanha, das mãos de Kenneth Frampton, um dos mais importantes historiadores e críticos da arquitetura na atualidade. “O grupo equatoriano impressiona pela interpretação poética dos fundamentos da construção. (...) No Equador, a arquitetura de qualidade só se realiza com um grande engajamento dos arquitetos.”

É possível ter um ideia de tal engajamento em “Esperanza Dos”, realizado em 2011 em uma comunidade situada em Manabi, também no Equador. A partir de um método construtivo de complexidade mínima, voluntários e moradores utilizaram um sistema capaz de incorporar muitas variáveis do processo, desde as necessidades da população à organização do material e do trabalho na construção. A geometria proposta adapta-se muito bem aos desníveis do terreno e às necessidades de ampliação; ela configura uma cobertura única para o espaço de 140m2, realizada uma semana com custo total de 700 dólares.

O que norteia a ação de AlBorde não é o imperativo do dinheiro disponível para cada projeto, tampouco a garantia de um nicho de mercado ou a especialização em alguma técnica construtiva específica ou tipologia arquitetônica. As soluções que o escritório encontra vêm de relações mais imediatas estabelecidas com os materiais e com os agentes envolvidos em cada projeto. O grupo mantém-se aberto às contribuições de profissionais de outros campos, artistas, publicitários, atores, músicos, reconfigurando-se de acordo com as necessidades e oportunidades do trabalho coletivo. Com isso, pode ser um engano associá-los muito rapidamente aos modelos mais comuns alternativos à prática arquitetônica convencional, seja o do apelo à função social do arquiteto em atuação no canteiro de obras, seja o do discurso da sustentabilidade. As experiências de AlBorde contribuem para o reposicionamento crítico do arquiteto na sociedade na medida em que fazem da arquitetura uma atividade colaborativa. Nesse sentido, o protagonismo da atividade projetual a partir do desenho, da linguagem e da forma arquitetônicas cede lugar a um processo que rearranja tanto os recursos materiais disponíveis quanto as energias sociais envolvidas.

Por isso, produção de AlBorde vai além do objeto arquitetônico. Preocupados com a construção relacional do espaço, a adaptação não passiva às circunstâncias sociais gera resultados diversos, que vão desde máscaras para ciclistas a uma tenda itinerante de experimentação teatral, passando por pranchetas acopladas a cadeiras usadas e uma cobertura feita de materiais descartados que se adapta a um alambrado. Os integrantes do AlBorde colocam-se como “uma geração em transição”, que compreende ser “parte de um processo de livre circulação de informação”. Nessa perspectiva, não são preponderantes o objeto arquitetônico enquanto finalidade e nem a autoria do projeto. Ir além das fronteiras da prática da arquitetura baseada no desenho, sem descartá-la, e vivendo nas beiras em que a disciplina se encontra com outras atividades é o que AlBorde propõe. Sua obra reflete aspectos fundamentais que cristalizaram a profissão e traz implícita uma renovação através da própria interação do arquiteto com o seu meio.

nota

NA
AlBorde é um estúdio colaborativo e experimental focado em resolver necessidades reais com base no material disponível, sejam recursos sociais ou materiais físicos. O coletivo trabalha com o que tem a seu alcance, recombinando o preexistente de maneira ad hoc e sem prejuízos. O trabalho se realiza a partir da complexidade específica do problema mas com uma perspectiva integral, uma exploração que os levou a colaborações interdisciplinares junto a músicos, artistas, atores, desenhistas, publicitários etc. A força de suas construções está enraizada em seu engenho projetual para unir respostas arquitetônicas objetivas a percepções subjetivas do usuário, o que resulta em sistemas construtivos híbridos que combinam o tradicional com o contemporâneo, integrando, além disso, a direção de energias sociais e comunitárias para levar a cabo suas obras. Fonte: www.albordearq.com.

sobre o autor

Bruno Schiavo é formado em arquitetura e urbanismo pela FAU USP.

 

comments

064.04 modos colaborativos
abstracts
how to quote

languages

original: português

share

064

064.01 homenagem

Niemeyer segundo Goldberger

Paulo Ormindo de Azevedo

064.02 homenagem

José Wolf

Um artista de seu tempo

Mário Sérgio Pini

064.03 planejamento

Quem paga a conta da sustentabilidade?

Luiz Augusto Pereira de Almeida

064.05 legislação

Fechamento de sacadas em condomínios

Rodrigo Karpat

064.06 sustentabilidade

Projeto sustentável, edificação durável?

Clarice Menezes Degani

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided