Segundo a analista de tendências globais Sharon Graubard, estamos entrando num “período modernista” da produção têxtil. Seus argumentos para tal afirmação fazem todo o sentido, quando o termo modernista é empregado para se referenciar a uma parte de todo conjunto do pensamento modernista: “Para os Modernistas, o que importa no conjunto final é a essência do material, o trabalho de formas puras que explora toda qualidade da matéria”, argumenta a analista (1).
Segundo Giulio Carlo Argan, dois dos princípios que sobre os quais a arquitetura moderna se desenvolveu em todo o mundo foram: o “máximo de economia na utilização do solo e na construção, a fim de poder resolver, mesmo que no nível de um “mínimo de existência”, o problema da moradia” e a “rigorosa racionalidade das formas arquitetônicas, entendidas como deduções lógicas (efeitos) a partir de exigências objetivas (causas)” (2). Essa última foi a que inspirou a analista a comparar a atual produção têxtil à arquitetura modernista.
O movimento modernista na arquitetura brasileira foi diferenciado, também, pelo uso dos materiais. A linguagem, importada da Europa, teve uma versão brasileira autêntica, foi antropofágica. Segundo Fernando Laram a cultura foi tão difundida que mesmo aqueles que não contatavam um profissional, assimilaram, e fizeram a sua casa à moda da época (3). O que se vê hoje tanto na moda quanto na arquitetura, não é uma produção de ‘mínimo de existência’ como afirma Argan, mas uma exploração de uma infinidade de materiais, quase sempre tendo como causa a ostentação do luxo.
A classe média, principalmente, usa, a revelia, uma mistura de materiais de última linha, geralmente a preços elevados, a fim de seguir a moda da época, ostentar uma imagem de alto nível, gerando uma arquitetura de gosto duvidoso. Mesmo sendo feita por profissionais habilitados, essa mistura rende quantias de comissões com os caros materiais, o que força ainda mais a sua disseminação. Dessa forma, a arquitetura é tratada com a mesma efemeridade como é a da produção do vestuário.
Quando se trata de um edifício, entende-se algo que necessita de um montante de materiais, de desgaste da natureza e de mão-de-obra muito maior. Além disso, não há como trocar a aparência de uma casa como se troca de roupa para uma festa, sem que produza uma grande quantidade de resíduos. Então, quando compramos uma peça de couro e poliéster, podemos pensar em descartá-la, ou mesmo nem usá-la (mesmo que isso também gere um impacto grande na natureza). Porém, a arquitetura como algo duradouro - ou não - deveria ser tratada com um pouco mais de cuidado e menos modismos.
notas
NA
As ilustrações deste artigo foram inspiradas em editorial da revista eletônica Dazed Digital, disponível em <http://www.dazeddigital.com/fashion/article/1166/1/human-building-blocks>.
1
TORRE, Luigi. "Estamos entrando num período modernista", diz analista. Portal FFW. Notícias. 18 de fevereiro 2010 <http://ffw.com.br/noticias/estamos-entreando-num-periodo. Acessado em 20 de março de 2010.
2
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. Editora Companhia das Letras. São Paulo. 2006
3
LARA, Fernando. "A insustentável Leveza da Modernidade". Portal Vitruvius. Arquitextos, no. 276, fevereiro 2005 <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp276.asp>. Acessado em 20 de março de 2010.
sobre o autor
Bruno Dalto é arquiteto e escritor. Ver <www.brunodalto.com>.