Carlos Dias, para nós, o Lito. Nascido na Angola portuguesa, foi obrigado, sem ser culpado, a fugir jovem de sua terra natal. Passou apuros em Portugal, e rumou para o Brasil, país que adotou e se encantou, como gostava de dizer, pelos cheiros e sabores, pela sua gente e seu futuro.
Aqui se formou na FAU USP, em arquitetura. Profissão que exerceu com paixão, poesia e, como diria sua amiga Hanita, valentia. Empolgado, era sempre um otimista com o trabalho. Ensinou. Pintava com fervor onírico. Riscava como poucos, com maestria. Seu discurso desenhado fascinava sempre àqueles que tiveram o prazer de sua convivência.
Gostava de piadas, escrachadas. Fazia disso o contraponto das angustias do projeto e, talvez, da vida. Pai coruja de Maya, recebia o carinho persistente de sua companheira de quase sempre, Cynthia.
Tive a alegria de partilhar com ele aulas, trabalhos, concursos e cervejas. Entre tantos concursos, o projeto para o Museu da Memória, no Chile.
Perde a arquitetura, perdem seus queridos, perco o amigo. Ou não, porque nos resta a memória, que nos maltrata, mas nos dá sentido.
Como lembrava Lito, “o que são saudades”.
sobre o autor
Lucas Fehr é arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie.