A memória dos grandes arquitetos é a memória de uma cidade, de uma nação, de um país, faz parte da cultura mundial. Esta conservação e esta proteção chegam também através do conhecimento da arquitetura, das suas formas e da reflexão de como se pode ser conservada e transmitida para o futuro.
Esta missão tem sido desenvolvida e pode ser expandida nas relações entre os centros de pesquisas, casos do DIAPReM (Development of Integrated Automatic Procedures for Restoration of Monuments), da Università di Ferrara, e da Fundação Oscar Niemeyer, que permite formar uma rede entre as universidades brasileiras com o objetivo de transformar o Brasil em responsável pela conservação da arquitetura moderna brasileira, com seus grandes mestres Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, Lina Bo Bardi, Lucio Costa e Rino Levi, personagens equivalentes a Michelangelo, Bramante e Leonardo.
É necessário que este extraordinário capital cultural seja percebido pelo seu valor de memória e de matéria, integrado no seu contexto urbano e na paisagem. A Casa das Canoas é um exemplo extraordinário de arquitetura integrada à paisagem natural, que sofre as ações de desgastes naturais da sua matéria – o envelhecimento –, somada a uma degradação proveniente da interação com a natureza e que, portanto, deve ser conservada.
Há um ano aconteceu uma visita de estudo e um levantamento minucioso muito importante em conjunto com a Fundação Oscar Niemeyer, que permitiu chegar a esse levantamento, que não é apenas tridimensional, mas também um diagnóstico, como se faz em um corpo para entender as doenças que uma pessoa possui para posteriormente ser curada. O corpo é constituído de formas, mas é também de substâncias, de células, de sangue e a arquitetura “vive” disto.
Oscar Niemeyer tinha uma grande criatividade corpórea, criava os espaços com as proporções do corpo e temos que aprender a interpretar e ler essas qualidades. Portanto, a forma e a geometria são memórias geométricas muito importantes. Conhecer as memórias que estão no nosso cérebro significa conhecer também as formas que foram concebidas e desenvolvidas pelos grandes arquitetos.
A Casa das Canoas foi totalmente medida com o scanner laser 3D, que possui uma precisão milimétrica, com milhões de coordenadas geométricas que permitem consultar o modelo digital e conhecer suas superfícies, analisar suas formas e o estado de conservação atual dos seus materiais. Seja na forma arquitetônica, seja nos espaços de integração e relação com a natureza – os percursos, os córregos, enfim, com o ambiente natural.
É um trabalho integrado de restauração e de levantamento não só para documentação, mas também para proteger e conservar a memória. Uma ação que introduz conjuntamente Centros de Pesquisa, como o DIAPReM, e a Fundação Oscar Niemeyer. Colaborar com todos, para que estas memórias sejam protegidas e preservadas, incluindo ainda nesta conservação, as suas estruturas urbanas. Conservar as memórias e as matérias através das restaurações para dar valor ao que nós fomos, para que o futuro do Brasil tenha um importantíssimo passado, que pode ser parte do sucesso do país.
Acreditamos que uma das coisas mais extraordinárias que poderemos fazer nos próximos anos seria a criação e a manutenção de uma rede de universitária, com universidades italianas, como a Universidade de Ferrara e com outras entidades educacionais e centros de pesquisas de todo o globo, que possam colaborar com este projeto juntamente com as universidades brasileiras, com fundações e órgãos governamentais e empresas privadas interessadas. A digitalização da Casa das Canoas, de Oscar Niemeyer pode representar o primeiro exemplo de arquivo 3D diagnóstico das obras do modernismo e do moderno brasileiros. Após este primeiro passo, poderíamos pensar em usar estas tecnologias integradas para arquivar o patrimônio mundial como outras obras arquitetônicas de Niemeyer, Costa, Artigas, Bo Bardi, Levi e tantos outros grandíssimos arquitetos.
O objetivo do levantamento é de construir um banco de dados tridimensional da Casa das Canoas de modo a permitir a sua valorização, manutenção e restauração. A digitalização, o escaneamento da arquitetura de Oscar Niemeyer representa o primeiro exemplo de arquivo 3D das obras da arquitetura moderna brasileira.
nota
NA – A equipe de trabalho é a seguinte:
projeto de levantamento
Centro DIAPReM, Università di Ferrara, Dipartimento di Architettura
responsável cientifico
Prof. Arquiteto Marcello Balzani
coordenadores do projeto
Arquiteta Denise Araújo Azevedo, Arquiteto Luca Rossato
responsável do levantamento integrado 3d
Arquiteto Guido Galvani
responsável pela análise diagnóstica
Arquiteta Federica Maietti
apoio técnico
Leica Geosystem, Rio de Janeiro
sobre os autores
Marcello Balzani é professor do Departamento de Arquitetura da Universidade de Ferrara e responsável cientifico do DIAPReM Center e da Piattaforma Costruzioni, Rete Alta Tecnologia Emilia-Romagna.
Denise Araújo Azevedo é arquiteta PhD em Tecnologia da Arquitetura, e membro do DIAPReM Center, do Departamento de Arquitetura da Universidade de Ferrara.