Lelé é um dos três grandes da arquitetura brasileira, junto com Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. Assim disse Lúcio sem falsa modéstia e sabedoria. Brasília marcou a carreira dos três. Se Lucio a concebeu urbanisticamente, Oscar nela projetou os edifícios que o alçariam ao reconhecimento internacional e Lelé, que participou ativamente de sua construção, em Brasília moldou seu perfil profissional e deixou boa parte de seu legado arquitetônico.
Lelé é grande, porque, indo além de Oscar e Lúcio, aliou arte e tecnologia em sua obra. Foi um arquiteto construtor e em seus projetos a expressão plástica sempre esteve muito bem integrada com a solução tecnológica. Se Niemeyer mudou os rumos da arquitetura ousando na plástica, Lelé, mantendo a escola de seu mestre, criou nova escola, que valoriza a engenhosidade tecnológica sem deixar de ousar na plástica. E não seria isto o que melhor define a essência buscada, e nem sempre alcançada, da arquitetura moderna, muito além das discussões intermináveis sobre forma e função? E também não seria essa a característica que sobressai na obra de grandes ícones como Calatrava, Gehry, Hadid, Foster, Rogers e outros nomes que compõem o painel estelar da arquitetura contemporânea?
Lelé nunca procurou ser uma estrela. Nele o reconhecimento profissional não era uma vaidade pessoal, mas o resultado de uma busca perfeccionista de uma arquitetura com racionalidade construtiva, criatividade tecnologia adequada à realidade social, conforto ambiental e expressão plástica não gratuita. Essa arquitetura, que Lelé já fazia desde o início de sua carreira é a verdadeira arquitetura sustentável, que tanto se valoriza hoje em dia.
Lelé sempre projetou a frente de seu tempo. Sua arquitetura, por traduzir sustentabilidade ambiental, econômica e social é modelo para a arquitetura do futuro. Seus projetos apontavam para uma sociedade eficiente, justa e bonita. Basta ver obras como os hospitais da Rede Sarah, as escolas de argamassa armada e os projetos habitacionais desenvolvidos e nunca executados para o Programa Minha Casa Minha Vida, para constatar que Lelé já materializava essa sociedade ainda utópica na sua obra.
Por essa característica visionária e que certamente será a cara da nova arquitetura do século 21, Lelé merecerá o amplo reconhecimento que não obteve em vida, a não ser para aqueles que sabem o grande valor, ainda não totalmente desvendado, do seu legado arquitetônico e humano.
Salve Lelé, descanse em paz, porque na grandiosidade da sua obra e personalidade geniais e generosas ainda há muitas lições que precisamos apreender.
sobre o autor
Sérgio Jatobá, arquiteto e urbanista (UnB, 1981). Doutor em Desenvolvimento Sustentável (UnB/Univerdidad de Valladolid, 2006). Servidor do Governo do Distrito Federal e pesquisador do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais – NEUR e do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília. Foi pesquisador bolsista do IPEA.