Em março deste ano o Instituto de Arquitetos do Brasil, departamento São Paulo foi procurado pela Fundação Calder para tratar de uma grande exposição que ocorreria em novembro de 2015, na Tate Modern de Londres. O edifício-sede da instituição está em obras há um bom tempo e particularmente o andar onde fica o móbile de Alexander Calder estava sendo recuperado – piso, caixilho e instalações. Assim, foi feito um acordo viabilizando a presença da obra de arte na mostra.
Estando o prédio em reforma, buscamos contrapartidas para o empréstimo de obra tão importante, patrimônio valioso do IAB/SP. Ainda no começo deste ano, o Itaú Cultural atendeu a nossa proposta para patrocinar ações da entidade. O Calder ficaria na sede deste instituto na Avenida Paulista durante 4 meses. A sinalização da Tate, de acordo com a Fundação Calder foi a de oferecer para o IAB/SP o restauro completo da peça em Nova York antes de sua ida a Londres. Considerando a importância mundial da Tate, bem como a publicização da obra no mundo – fomos alertados de que para o curriculum vitae da obra seria muito importante –, concordamos em emprestar a escultura.
O restauro seria feito em Nova York, preorçado em US$ 80.000 (oitenta mil dólares), pagos pela Tate. Toda a intervenção do processo de restauro foi comunicada ao IAB/SP, com registro fotográfico do processo. Para a ida a Nova York, um courier do instituto foi no mesmo avião, acompanhando todo o transporte “prego a prego”, como se diz no meio. O seguro exigido e todas as despesas de transporte foram assumidos pela Tate, além de todas as outras condições do IAB/SP terem sido aceitas: para o translado, foi confeccionada uma caixa segundo orientação de especialistas para acondicionar a escultura; para contratação do seguro (feira junto a uma companhia de propriedade do Governo do Reino Unido) se realizou anteriormente uma cotação junto a companhia Sothebys. Toda a documentação está arquivada no IAB/SP.
A exposição será finalmente aberta nesta segunda feira, às 19 horas. O trabalho de curadoria é primoroso, Archim Borchardt-Hume e Rachel Barker fizeram um trabalho que merece todos os elogios. Para o preparo do espaço da exposição, o grupo da Tate Modern contou com uma consultoria do escritório Herzog & De Meroun, responsável pelo restauro do edifício-sede e pelo projeto do anexo, em construção.
O título da exposição é autoexplicativo: Performing Sculptures, “escultura performáticas”. Uma exposição emocionante sobre o pensamento dos artistas do início do século 20, suas inquietações e visões, onde arte e arquitetura estavam próximas em diversos sentidos. A música, o circo, a arquitetura, a cultura de uma forma geral, estão presentes nesta exposição, nos fomentando inevitáveis reflexões sobre o que é feito hoje.
Além da escultura do IAB/SP, que foi instalada em uma sala própria e está no final do trajeto da exposição, merecem destaque duas seções: a de “desenhos no espaço”, com arames, melhor do que muita holografia atual; e a da orquestra formada por objetos diversos, que geram som a partir do toque de um móbile, estudado para isso. A reconstrução da escultura, o posicionamento dos objetos e a montagem da escultura seguiu rigorosamente o concebido por Alexander Carder quando criou a instalação. De fato, a Viúva Negra, nome da escultura do IAB/SP, não poderia faltar neste show.
A exposição acaba em 30 de abril de 2016, quando a obra volta para o IAB/SP cumprindo todas as condições acordadas. Até lá a reforma do prédio já estará mais adiantada e o espaço pronto para receber tão importante patrimônio do Brasil e, particularmente, do Instituto de Arquitetos do Brasil – departamento de São Paulo, que a conserva por décadas e por outras tantas a manterá.
sobre o autor
José Armênio de Brito Cruz é arquiteto e atual presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – departamento de São Paulo.