Your browser is out-of-date.

In order to have a more interesting navigation, we suggest upgrading your browser, clicking in one of the following links.
All browsers are free and easy to install.

 
  • in vitruvius
    • in magazines
    • in journal
  • \/
  •  

research

magazines

drops ISSN 2175-6716

abstracts

português
A implantação dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro configura grande oportunidade para discussão e proposição de novos futuros para a cidade brasileira. Em contraponto ao projeto executado, é apresentada outra possível proposta à Vila Olímpica.

english
The implementation of the 2016 Olympic Games in RJ constitutes a huge opportunity to discuss and propose new futures to the Brazilian cities. In contrast to the project installed, it’s presented an alternative design proposal to the Olympic Village.

español
La implantación de los Juegos Olímpicos de 2016 en Río de Janeiro establece gran oportunidade para el debate y proposición de nuevos futuros para la ciudad brasileña. En contraste con el proyecto ejecutado, se presenta una propuesta alternativa a la Villa

how to quote

PIZARRO, Eduardo. RIO 2016. Um outro futuro possível. Drops, São Paulo, ano 16, n. 104.07, Vitruvius, maio 2016 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/16.104/6029>.



RIO 2016 como questão

O Brasil foi, em 2014, sede da Copa do Mundo Fifa e já está pronto para os Jogos Olímpicos de 2016, na cidade do Rio de Janeiro. Em se tratando de megaeventos: qual o seu impacto a curto, médio e longo prazo? Sobre quais custos financeiros, ambientais e sociais se apoiam? Os megaeventos são pensados por e para quem? Colocando-se numa balança, qual o seu saldo, positivo ou negativo? Por fim, como fazer valer essa oportunidade?

Assim como aponta Raquel Rolnik, a realização de megaeventos pode estar associada a projetos de requalificação urbana, como o caso emblemático das Olimpíadas de 1992 em Barcelona, destacando-se o legado pós-jogos, a ser absorvido e apropriado por um coletivo urbano (1).

Todavia, experiências anteriores, como a dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, e da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, mostram como esses megaeventos podem ser, potencialmente, destrutíveis e insustentáveis, ao refletir interesses exclusivos de grandes empreendedores privados nacionais e/ou internacionais, em detrimento da cidade como um todo e, principalmente, da parcela da população menos favorecida, que habita áreas de risco ou de interesse dos detentores de poder, assim como afirma Ermínia Maricato (2). Rolnik reitera:

“Coisas nada civilizadas ocorrem quando um país prepara um megaevento” (3).

Os megaventos, portanto, podem ser simples "lonas de circo", que chegam, de repente, de fora, instalam-se em locais privilegiados, até então desocupados ou que se fizeram desocupar. Assim servem à realização controlada de atividades pré-estabelecidas, por um curto período de tempo, ao final do qual a lona é desmontada e o circo vai embora, deixando para trás o terreno sujo e vazio. Restam dinheiro e reconhecimento nas mãos dos promotores circenses, abandono e incertezas para o restante da população.

Frente a isso, a realização dos Jogos Olímpicos na cidade do Rio de Janeiro em 2016, acompanhada das intervenções e transformações inerentes a um megaevento, configura uma grande oportunidade para parar, pensar, discutir e projetar cidade, para que esta possa ser, talvez, mais eficiente, mais funcional, mais segura, mais igualitária, mais sustentável e, acima de tudo, mais humana.

Para tanto, é aqui proposta uma alternativa projetual à Vila Olímpica dos Atletas de 2016, a ser implantada na Barra da Tijuca (Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro) buscando, todavia, transcender a esfera carioca e discutir o futuro das cidades brasileiras de uma forma geral. As dinâmicas de planejamento, construção e apropriação das cidades precisam romper o status quo. A Vila Olímpica carioca constitui uma oportunidade única para se fazer valer dos grandes investimentos financeiros, de modo a constituir modelo e fomento ao desenvolvimento urbano brasileiro, refletindo-se, dessa forma, na vida de todos.

A principal ferramenta que nós, arquitetos e urbanistas, dispomos é, sem dúvida, o desenho. Pautada, dessa forma, pelo desenho e pela prática projetual, busca-se oferecer uma resposta, ou até mesmo uma despretensiosa provocação, ao modo pelo qual a cidade olímpica foi pensada, projetada e implantada (4).

RIO 2016 como futuro

De cara, a Vila Olímpica abriga os atletas por um período de tempo muito curto. Portanto, apesar de ser necessário refletir as necessidades de um atleta olímpico, o projeto da Vila Olímpica deve focar, fundamentalmente, o projeto de legado, ou seja, o projeto de uma cidade que seja adequada e convidativa a um público diversificado, incluindo, obviamente, crianças e idosos.

Além disso, a Vila Olímpica deve ser encarada como um projeto habitacional e urbano de exceção, questionando o modo padrão, massivo e descontextualizado de produção das cidades brasileiras, e experimentando, como em um grande laboratório urbano, novas alternativas projetuais.

Diferentemente da Vila Olímpica já implantada na realidade - que configura, basicamente, um aglomerado de condomínios verticais cercados, acessados por vias expressas -, a presente proposta ocupa a área prevista ao Parque Olímpico (antigo Autódromo Nelson Piquet) na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Desta forma, a Vila Olímpica é pensada como um eixo de estruturação entre o tecido urbano existente e a paisagem natural, notadamente a Lagoa de Jaguarepaguá, que passa ter uma “frente” para a cidade.

Uma das principais diretrizes do projeto é inserir na Barra da Tijuca uma urbanidade que reflita o contexto local e a “tropicalidade carioca”, ao mesmo tempo em que absorve novos conceitos, sistemas e infraestruturas. A despeito das práticas rodoviaristas e do planejamento e construção que vêem a cidade como uma mera justaposição de prédios isolados, a cidade deve ser desenhada, em sua essência, por meio de um Sistema de Espaços Livres. Este sistema é composto por diferentes tipos de espaços livres, que se conectam física, visual ou funcionalmente, de acordo com uma hierarquia que garante sua coesão e vivacidade.

Os espaços livres constituem, fundamentalmente, os espaços devotados à prática da vida urbana, além da articulação entre diferentes escalas de projeto e apropriação, da micro à macro, levando em conta e estimulando a interação entre as escalas do pedestre, do ciclista, do transporte público - seja este um sistema de ônibus, metrô, VLT, navegação fluvial - e, até mesmo, do transporte motorizado individual.

O Master Plan da Vila Olímpica aqui proposta busca romper com os padrões de desenho urbano, parcelamento do solo e tipos edilícios. O projeto da linha d’água (waterfront) é tomado como elemento fundamental à criação de percursos e articulações urbanas, oferecendo ao morador e/ou visitante uma série de experiências e oportunidades de apropriação, desde um parque de conservação do mangue, a uma vila flutuante, a um centro multiuso, ou a uma praia urbana.

É proposta uma ocupação de maior densidade – assegurada, ao mesmo tempo, a qualidade urbana e ambiental dos espaços entre os edifícios - com sistema de transporte limpo e eficiente, sistema de manejo de resíduos à vácuo, estações distritais de tratamento de água e esgoto, além de produção de energia limpa, sempre pautados pelo reaproveitamento de recursos, desenvolvimento de agricultura urbana e espaços urbanos que permitam a criação de comunidades coesas, com reflexos positivos em suas dinâmicas educacional, econômica, social e humana.

As vias de circulação são projetadas de modo a retomar sua função genuína de espaço público, não apenas de passagem, mas também de estar, encontro e apreciação.

Os edifícios da Vila Olímpica são projetados, em primeira instância, como elementos delimitadores e estruturadores da forma urbana, construindo referenciais paisagísticos, destacando visuais, ou conformando sequências urbanas estimulantes (5), com espaços ora amplos e monumentais, ora compactos. Tomando como referência os conceitos de projeto de Ken Yeang, os espaços coletivos internos às edificações são pensados como prolongamentos dos espaços livres situados na cota zero, constituindo espaços privados com espacialidades da esfera pública (6).

De modo a privilegiar a paisagem natural e garantir melhor ventilação e insolação urbanas, o gabarito é menor quanto mais próximo da lagoa o edifício é implantado. A diversidade hierárquica característica dos espaços livres se reflete na forma construída, composta desde quadras-bloco e edifícios curvos (crescentes) de 4 a 6 pavimentos, a torres multifuncionais de até 50 pavimentos.

Por fim, a proposta busca oferecer uma resposta mais adequada ao tempo, ao local, ao clima e à população, às suas necessidades, anseios e às possibilidades de mudança. Constitui, portanto, uma alternativa mais sincera e engajada com essa grande oportunidade descortinada, pela realização dos Jogos Olímpicos de 2016, ao futuro das cidades brasileiras.

notas

1
ROLNIK, Raquel. O espetáculo e o mito. Disponível em: <http://pagina22.com.br/index.php/2011/08/o-espetaculo-do-mito/> Acessado em 02/10/2011.

2
MARICATO, Ermínia; BONDUKI, Nabil. De olho nas Olimpíadas. Jornal do Campus, São Paulo, 2010, p. 7.

3
ROLNIK, Raquel. Coisas nada civilizadas ocorrem quando um país prepara um megaevento. Disponível em: <http://www.adusp.org.br/files/revistas/52/r52_a1.pdf> Acessado em 10/02/2014.

4
A proposta apresentada foi desenvolvida como TFG na FAUUSP (2011), sob orientação do de Silvio Soares Macedo. Em 2012, a proposta foi reconhecida com o Prêmio Jovem Cientista 2012, promovido pelo CNPq, Fundação Roberto Marinho, Gerdau e GE, em cerimônia em Brasília, com o Presidente da República.

5
CULLEN, Gordon. Townscape. London, The Architectural Press, 1961.

6
QUEIROGA, Eugênio. Espacialidades da esfera pública na urbanização contemporânea: o caso da Megalópole do Sudeste. In: MAGNOLI, Miranda Martinelli; KAHTOUNI, Saide; TOMINAGA, Yasuko (orgs.). Discutindo a paisagem. São Carlos, Rima, 2006, p. 121-142.

sobre o autor

Eduardo Pimentel Pizarro é doutorando (2015–), mestre (2014), arquiteto e urbanista (2012) pela Universidade de São Paulo (FAU USP). Período sanduíche na Architectural Association Graduate School (Londres, 2013). Ganhador de prêmios nacionais e internacionais como o Prêmio Jovem Cientista (Brasília, 2012, entregue pelo Presidente da República) e o 1st Prize da LafargeHolcim Student Poster Competition (Detroit, 2016).

 

comments

newspaper


© 2000–2024 Vitruvius
All rights reserved

The sources are always responsible for the accuracy of the information provided