Paulinho, meu primeiro contato com você foi quando ingressei no Departamento de Projetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro – FAU UFRJ em 1995 para assumir o cargo de professor, depois de ter passado no concurso público. Foram mais de dez anos de uma longa espera por uma oportunidade, que naquela época era escassa.
Quando cheguei com esta expectativa e entusiasmo – naturais a quem tinha esperado tanto tempo –, você me recebeu como chefe do Departamento e me disse: “Porra, você não sabe onde está se metendo”. Para mim, no primeiro momento, seu comentário não soou como uma recepção amigável e acolhedora, mas no segundo momento entendi que acabava de conhecer alguém que fazia da ironia, das palavras corrosivas, instrumentos para acordar as pessoas em sua volta.
Conheci assim sua qualidade de provocar, não a provocação barata e sem sentido, mas aquela elaborada e profunda, que nos acompanhou desde então. Sorte a minha de ter como colega durante tantos anos alguém que comprava os desafios, mas ao mesmo tempo não o fazia de maneira submissa; ao contrário, tua grande qualidade – e por isso meu enorme prazer em ouvir e conversar com você – era ser capaz de sempre me surpreender.
Alguns de teus alunos podem ter achado tuas palavras e ensinamentos diretos ou sinceros em demasia, quase demolidores, mas os que conseguiam ultrapassar esta barreira e te ouvir, seguramente saíam melhores do que tinham entrado. Sua didática direta, sem rodeios ou preocupação em agradar, mas sempre questionadora, certamente criou muitos sentimentos, muitas mágoas, mas também provocaram – e disso tenho absoluta certeza – enormes descobrimentos e profusão de campos semeados. Você não era o tipo que passa a “mão na cabeça”, pois tinha a enorme virtude da franqueza, do olhar profundo e erudito (porque isto também você era...). Você, Paulinho, não era para principiantes.
Depois da reforma curricular em 2006, ter você ao meu lado na criação da disciplina Atelier Integrado 1 foi uma das maiores demonstrações de carinho que recebi. Se precisávamos de algo naquele momento, era de colegas desafiadores, sonhadores, firmes e sobretudo entusiasmado. Quando alguém encara coisas novas com uma quase obrigação de dar certo, nada melhor do que ter ao seu lado alguém mesmo tempo camarada e crítico.
Depois passei alguns anos fora da FAU, trabalhando no Plano Diretor e na Pro reitoria. Quando voltei, em uma mesa discutindo a nova reforma curricular, tuas palavras soaram tão claras e precisas que me fizeram sentir em casa novamente.
Querido Paulinho, está difícil acabar esta despedida. Embora você soubesse da admiração e carinho que sempre tive por você, não gostaria de estar escrevendo isto, nesta hora, nesta circunstância. Você me disse que sairia por apenas quinze dias, que voltaria logo, mas ontem soube que não seria assim. Mais uma vez você me surpreendeu.
Muita gente na tua despedida. Aplausos. Homenagens na Congregação ocorrida na parte da manhã. Mas nada disso amaina a imensa dor e saudade que carrego no meu peito. Muito obrigado por ter sido meu colega, meu crítico, meu companheiro.
sobre o autor
Pablo César Benetti é arquiteto (Universidad Nacional de Rosario, 1973), mestre em Planejamento Urbano e Regional (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1988) e doutor em Estruturas Ambientais Urbanas (Universidade de São Paulo, 1997). Foi diretor da FAU UFRJ (2002-2006), coordenador do Plano Diretor da UFRJ (2008-2009) e Pro-Reitor de Extensão da UFRJ (2011-2015). Atualmente é professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o Laboratório de Habitação e Forma Urbana do Programa de Urbanismo Prourb FAU UFRJ.
