No próximo ano comemora-se com imensa exposição em Berlim o centenário da Bauhaus.
O edifício de Dessau, projeto de Walter Gropius, foi repudiado pelos nazistas. Queriam pô-lo abaixo, pois representava, segundo eles, algo da arte moderna e degenerada.
Acabaram por utilizá-lo como sede de uma escola de jardinagem para Hausfrauen. Depois usaram o prédio como sede de executivos nazistas da fábrica Junkers de aviões.
Lembrei disso no outro dia, quando falei sobre o Instituto de Arte Contemporânea – IAC (a primeira escola de design, montada no Masp em 1951) e as relações entre a cultura europeia moderna e fontes locais no seminário e exposição Bauhaus Imaginista, que está no Sesc Pompeia (1).
É muito alvissareiro saber que estamos comemorando esse “sítio disputado” que é a Bauhaus 85 anos depois de seu fechamento.
A Bauhaus foi sufocada financeiramente pelos setores conservadores de Weimar e de Dessau. Foi fechada pelos nazistas. Muitos de seus professores e alunos seguiram para outras paragens, inclusive para o Brasil.
Sua pedagogia foi ponto de partida para o IAC, como demonstrou minha colega Adele Nelson, da Universidade do Texas. Foi a chama que se desdobrou na New Bauhaus e no Institute of Design em Chicago. Repercutiu, só para citar nosso continente, no Chile, no México, na Argentina, por aqui...
Ganhamos gente formidável, graças a esse êxodo provocado pelo terror.
E várias cidades do mundo hoje releem a escola da República de Weimar com esta exposição. E são muitxs acadêmicxs a rediscutir e desdobrar aqueles quatorze anos de conturbada existência da instituição.
Não é formidável pensar que que ninguém se lembra da tal escolinha de jardinagem?
A linda foto que ilustra o texto é do edifício de Bauhaus Dessau. É assinada por Leda Brandão de Oliveira. As grades no primeiro plano, todo mundo adivinha porquê.
nota
1
Exposição Bauhaus Imaginista, curadoria de Marion Von Osten e Grant Watson. Sesc Pompeia, de 24 de outubro a 6 de janeiro de 2019.
sobre a autora
Ethel Leon é jornalista, pesquisadora, professora na área de história do design brasileiro e autora dos livros Memórias do design brasileiro, IAC – Primeira Escola de Design do Brasil, Michel Arnoult, design e utopia – móveis em série para todos e Design brasileiro – quem fez, quem faz.