As 15.000 pessoas que se manifestaram pacificamente no centro de São Carlos na última quarta-feira correspondem a 6% da população da cidade.
Presença coerente com a nossa característica de cidade universitária. Duas grandes universidades publicas, uma universidade privada, dois centros da Embrapa, dois polos de alta tecnologia resultam numa proporção de um pesquisador com doutorado para cada cem habitantes, como acaba de calcular um professor da USP.
Na minha memória pessoal, a maior manifestação já vista na cidade.
Pacífica, diversa, bem-humorada – às vezes, irônica – como deve ser uma manifestação em defesa da educação, da liberdade de expressão, da aposta no futuro.
A grande mídia evitou fazer balanços gerais, mas a partir dos cálculos das principais cidades é possível avaliar que, no país, tenham ido às ruas mais de 2 milhões de pessoas.
Isso chamou a atenção da imprensa internacional, que chegou a falar em “maré humana” nas ruas contra a política governamental. Talvez por que até agora a avaliação que se tinha nos pouco mais de quatro meses do desgoverno bolsonarista era de uma grande apatia da população ao lado de um completo desconcerto da oposição.
A tentativa de algumas vozes no governo e nas redes sociais aparelhadas de atribuir o movimento a forcas partidárias contraria as evidencias factuais.
Parece claro que quem estimulou esses milhões de pessoas, jovens na sua imensa maioria, a ir para as ruas foi o próprio governo, com suas provocações baratas, sua proposta obscurantista de demonização dos professores; seus argumentos ilegais para justificar os cortes e, como cereja do bolo, a declaração presidencial que definiu os estudantes como “idiotas úteis”.
A resposta não poderia ser mais rápida e veio no repúdio aos “idiotas inúteis” no governo.
Mas talvez a grande síntese tenha sido o cartaz que dizia: “De falta de educação, basta o presidente!”
nota
NE – nos dois artigos anteriores, o autor comentou o processo de desmonte da universidade pública pelo governo federal:
MARTINS, Carlos A. Ferreira. Destruição em marcha acelerada. Universidade em risco – parte 1. Drops, São Paulo, ano 19, n. 139.08, Vitruvius, maio 2019 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/19.139/7341>.
MARTINS, Carlos A. Ferreira. Destruição em marcha acelerada – parte 2. Folow the money. Drops, São Paulo, ano 19, n. 140.02, Vitruvius, maio 2019 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/19.140/7347>.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos.