Em 20 de março de 2019 foi realizado o evento em comemoração aos dez anos do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural, coordenado pela prof.ª. dr.ª Cybelle Salvador Miranda, tendo como local o auditório da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará. – FAU-UFPA.
O seminário, composto por quatro mesas com enfoque na produção voltada ao patrimônio da saúde, culminou com o lançamento do livro Hospitais e Saúde no Oitocentos: diálogos entre Brasil e Portugal, organizado pela profª Cybelle e pelo prof. dr. Renato da Gama-Rosa Costa, publicação da Editora Fiocruz parte da Coleção História e saúde.
A mesa de abertura contou com a presença do Prof. Dr. Ronaldo Marques de Carvalho (FAU-UFPA), da prof.ª dr.ª Jane Beltrão (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Pará), do prof. dr. Luiz de Jesus Dias da Silva (diretor da FAU-UFPA), além da coordenadora do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural – Lamemo. As falas dos participantes da mesa enalteceram a trajetória do Laboratório, relembrando histórias e parcerias realizadas ao longo do seu percurso. Durante as falas, exibiram-se imagens representativas de eventos e sujeitos participantes das várias atividades realizadas pelo laboratório. A professora Cybelle Miranda discorreu sobre o tema "Estudos sobre o Patrimônio da saúde: diálogos entre a Antropologia e a Arquitetura".
Após a abertura iniciaram-se as exposições programadas para as quatro mesas.
Na primeira mesa foram apresentados trabalhos de conclusão de curso relacionados ao tema da Saúde, orientados no laboratório, tendo como mediador o Professor Ronaldo Marques de Carvalho, iniciando-se com o trabalho da arquiteta Laura Costa, Arquitetura e Memória em saúde: Projeto museográfico para o Instituto Evandro Chagas, no qual foi elaborado projeto de requalificação da edificação histórica para a função museológica. Em seguida, a arquiteta Larissa Leal apresentou seu trabalho de conclusão de curso – TCC, Subsídios para a caracterização do Hospital João de Barros Barreto como patrimônio da saúde no Pará, o qual, a partir do uso do método estratigráfico associado à pesquisa documental e iconográfica, demonstrou as alterações feitas no conjunto, de modo a criar subsídios para a patrimonialização do hospital. Encerrando-se a mesa, foi apresentado o trabalho da arquiteta Thayse Queiroz, Proposta de criação de um jardim terapêutico para o Hospital Barros Barreto, que possuía o intuito de proporcionar maior humanização no hospital, com enfoque na reabilitação psicoemocional dos pacientes por meio da criação de um jardim terapêutico.
A mesa seguinte, com tema "O patrimônio da saúde entre a etnografia e a história da arte", foi mediada pela arquiteta Cibelly Figueiredo, na qual foram expostas duas dissertações. A primeira, da arquiteta Lívia Costa, tratando o Sanatório Domingos Freire, sob a ótica das doenças e vigência dos hospitais de isolamento, adotando a etnografia como método para sondar a memória do hospital demolido nos sujeitos que vivenciam o atual Hospital Barros Barreto. A dissertação seguinte, Memória e Identidade: o complexo arquitetônico da Santa Casa de Misericórdia, da arquiteta Ana Valéria Barros, se propõe entender o complexo atual da Santa Casa e suas alterações ao longo do tempo, o qual vem sendo alvo de constantes modificações e adições, de modo que é necessário identificar quais setores e elementos arquitetônicos são valorizados neste complexo pavilhonar, de modo a propor a patrimonialização dos espaços de maior representatividade.
Na terceira mesa, mediada pela professora Dinah Tutyia (Universidade Federal do Amapá – Unifap), tratou de uma pesquisa com foco na tecnologia das construções denominada "Forros na arquitetura hospitalar em Belém e Portugal: o estuque decorativo eclético", coordenada pelo prof. dr. Ronaldo Marques de Carvalho com participação da arquiteta Larissa Leal, então bolsista de iniciação científica. O professor Ronaldo contou como iniciou este projeto, como desdobramento de seus estudos doutorais e que veio a abranger duas dimensões no estudo do estuque: artística e tecnológica. A pesquisa teve como princípio o estado da arte do estuque e por objetivo final desenvolver um protótipo de uma nova argamassa para a reabilitação de forros construídos com esta técnica. O espaço estudado foi a capela da Santa Casa de Misericórdia, com a análise histórica e física, além de serem realizadas caracterizações química e morfológica do estuque existente na capela. Foram demonstrados na exposição os resultados da pesquisa, desde a confecção de formas, corpos de prova, a posterior elaboração de placas, além do estudo de traços e ensaios para se chegar ao resultado mais próximo do original, preservando a identidade arquitetônica da obra. Foi relatado, por fim, o seu resultado final, que conseguiu produzir um material de acabamento para o teto da capela, mais leve e flexível que o original.
Apesar da simplicidade com que o prof. Ronaldo relatou o seu trabalho, a prof.ª Cybelle comentou sobre as várias dificuldades vividas no processo, desde a falta de maquinário e equipamentos, de espaço físico, e outras carências de infraestrutura e de técnicos que pudessem apoiar nos serviços de laboratório na UFPA. Esta pesquisa também originou o trabalho da bolsista de iniciação científica Ana Paula Figueiredo, “A arquitetura assistencial em Belém e a estética dos interiores ecléticos: Hospital D. Luiz I da Benemérita Sociedade Beneficente Portuguesa e Santa Casa de Misericórdia do Pará”.
A mesa final do evento contou com os organizadores e parte dos autores do livro Hospitais e saúde no Oitocentos. Inicialmente o Prof. Dr. Renato da Gama-Rosa Costa (Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz) relatou seu trabalho no Rio de Janeiro, no qual a higiene pública está diretamente ligada ao urbanismo e a busca por melhoria da saúde da população da nova capital. Citou a influência francesa com grande força no Rio de Janeiro, assim como as fases do neoclássico e como isso repercutiu no trabalho dos arquitetos e nos projetos hospitalares. O organizador destacou ainda a oportunidade de produzir o livro como consequência de várias pesquisas desenvolvidas pelo Lamemo em parceria com a Fiocruz, tendo apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ.
Em seguida a arquiteta Cibelly Figueiredo abordou sua dissertação que tratou de estudos do Hospital D. Luiz I da Benemérita Sociedade Portuguesa Beneficente do Pará, a qual, com enfoque no classicismo, fez um relato histórico do hospital e sua associação com o contexto social, político e econômico de Belém, e, por conseguinte, retratando seu caráter religioso, social, assistencial e cultural, assim como sua constante proximidade com Portugal. Retratou também a inversão de influências decorrentes da mobilidade dos brasileiros de torna-viagem, as intervenções realizadas no hospital e a sua necessidade de preservação. Por fim, realizou-se a palestra de conclusão do evento com a prof.ª Cybelle Salvador Miranda, que em conjunto com a arquiteta Emanuella Godinho discorreram sobre o tema “Da instituição asilar ao Movimento antimanicomial: a reconstituição da memória do Hospital Juliano Moreira do Pará”. Este trabalho teve como base a busca pela memória, seja por imagens, relatos e descrições, que pudessem orientar a reconstituição digital do edifício, conhecido inicialmente como Hospício dos Alienados, e depois, Juliano Moreira. A investigação teve o intuito de mostrar não só os problemas, mas também as realizações e experiências da instituição, assim como entender a arquitetura do edifício, que culminaria em sua reconstituição. Tal imagem tem por objetivo reativar a memória do hospital demolido à população paraense.
Concluídos os trabalhos das mesas, realizou-se o lançamento do livro, com dedicatórias dos autores presentes, contando com o comparecimento de alunos, amigos e familiares, celebrando, com júbilo, o marco de dez anos de atividades do Lamemo.
sobre os autores
Cybelle Salvador Miranda é arquiteta e urbanista, doutora em Antropologia, pós-doutoramento em História da Arte (Universidade de Lisboa), professora associada (FAU-PPGAU-UFPA), coordenadora do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural (Lamemo) da Universidade Federal do Pará.
Ronaldo N. F. Marques de Carvalho é arquiteto e urbanista, professor associado III (FAU-UFPA), pesquisador associado do Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural, mestre em Ciências da Arquitetura (Proarq-UFRJ), doutor em Engenharia de Recursos Naturais (Proderna), pós-doutoramento em Arte e Técnica de estucagem (Universidade de Lisboa).
Beatriz Trindade de Oliveira Lobato é graduanda em Arquitetura e Urbanismo e bolsista de extensão no Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural – Lamemo da Universidade Federal do Pará.