As manifestações em defesa da educação no dia 15 de maio surpreenderam o governo a ponto de fazê-lo cometer vários erros consecutivos.
O desgaste foi tão grande que o governador paulista, agora empenhado em desmarcar-se de Bolsonaro, se apressou em declarar que não haverá corte nos recursos das estaduais paulistas.
A tentativa do ministro da educação de confundir o público com a notícia de uma suplementação falhou. Os cortes continuam.
Também não ajudou o governo o fato de mais um de seus fiéis escudeiros, o governador carioca, ter em seu currículo um estágio na prestigiada Universidade de Harvard que ele foi obrigado a admitir que nunca fez.
É um bom tema para psicanalistas que aqueles que demonstram tanto ódio à educação tenham a compulsão de inventar títulos, cursos ou estágios universitários que nunca fizeram.
Mas em matéria de tiro no pé, nada se compara a ter estimulado primeiro e tentar esvaziar depois, as manifestações deste domingo, que ninguém mais sabe para que foram convocadas.
Inicialmente eram contra o Congresso e o STF, que estariam atrapalhando o presidente. O nome disso é autogolpe. Jânio tentou o seu em 1961. Não deu certo mas contribuiu para jogar o país nas trevas durante 20 anos.
Desta vez foi tão canhestro que mesmo apoiadores de primeira hora, do MBL a Janaína, passaram a criticar abertamente o presidente e seu entorno.
Também não ajudou o fato de Queiroz, o motorista e faz tudo da famiglia presidencial, pagar em dinheiro vivo 140 mil reais ao hospital mais caro do país. Justo quando o sigilo fiscal e bancário do 01 estão quebrados.
Quando escrevo é impossível saber a dimensão das manifestações. Se forem maiores que as do dia 15, ganha Bolsonaro e perde a democracia. Se não, Bolsonaro fica ainda mais fraco, mas a democracia continua em risco.
nota
NE – O subtítulo, da responsabilidade do editor, recorda frase de Nunes, jogador do Flamengo, que parece sintetizar a prática vacilante do governo atual.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do IAU USP, não estagiou em Harvard nem paga hospital em dinheiro vivo.