Mapa é um escritório binacional, com uma sede em Porto Alegre e outra em Montevidéu. Desde já é digno de nota que novas gerações de arquitetos na América do Sul estejam trabalhando de forma colaborativa, dissolvendo os limites nacionais, e formulando perspectivas de trabalho mais integradoras.
No caso do Mapa, a pesquisa projetual se volta para a questão da racionalização produtiva, que envolve, como é claro, uma correlata racionalização de projeto. Contudo, ao invés de insistir na produção de peças pré-moldadas (vigas, pilares, lajes, painéis), os arquitetos partem para a produção completa de unidades habitacionais compactas em fábrica, transportadas prontas por caminhão, e apenas instaladas nos terrenos a que se destinam – em geral locais distantes e não urbanos –, com um mínimo impacto no local.
Os primeiros modelos destas “casas que se movem” eram em steel frame. Por sua vez, os mais recentes são de CLT – Cross Laminated Timber, um sistema industrializado de painéis rígidos de madeira proveniente de reflorestamentos – os arquitetos com certa ironia a intitulam de “madeira digital”.
“Projetamos com os pequenos detalhes. Já que estávamos fabricando, podíamos trabalhar não somente com o centímetro, como é o convencional, mas trabalhamos com o milímetro”, afirma Maurício López, sócio do escritório. O detalhamento minucioso converte-se, em seguida, na lógica modular de projeto. A modulação é parâmetro para estrutura primária, revestimentos, acabamentos e mobiliário, num raciocínio que tanto se informa pelas dimensões padrões de pré-fabricados quanto orienta a definição dos tamanhos finais de cada peça.
À primeira vista, o Minimod parece um objeto estranho instalado numa paisagem natural, como que a indicar um certo antagonismo entre arquitetura e natureza. Porém, trata-se do inverso. Se, historicamente, indústria e natureza têm uma relação destrutiva, no Minimod, a relação é de respeito. A pré-fabricação permite o afastamento da área de produção, a otimização da execução e, em última instância, a preservação do sítio natural.
Por todos os motivos, estamos longe, aqui, do paradigma produtivo e ideológico que levou à construção de massivos conjuntos habitacionais em série. O Minimod não se propõe enfrentar o problema da grande escala, e todos os desafios sociais a ela relacionados. Mas funda um novo raciocínio ancorado na pequena escala, que, dada a sua limpeza, praticidade e racionalidade, pode vir a alimentar novas pesquisas em escalas que se ampliam. O próprio sistema Minimod, aliás, permite a associação de unidades com vistas à construção de conjuntos maiores.
nota
NE – Desde 2010, a APCA incorporou os críticos de arquitetura, concedendo anualmente sete prêmios. Em 2018, os críticos Abilio Guerra, Fernando Serapião, Francesco Perrotta-Bosch, Gabriel Kogan, Guilherme Wisnik, Hugo Segawa, Luiz Recamán, Maria Isabel Villac, Nadia Somekh, Renato Anelli foram os responsáveis pela seleção dos premiados. Os artigos dedicados à premiação da modalidade Arquitetura e Urbanismo da APCA 2018 são os seguintes:
RECAMÁN, Luiz; SOMEKH, Nadia. BR Cidades: a reconstrução democrática do espaço urbano. Prêmio APCA 2018 – Categoria “Urbanidade”. BR Cidades / Ermínia Maricato, Karina Leitão, Paolo Colosso, Carina Serra, João Sette Whitaker, Margaterh Uemura, Lizete Rubano e Celso Carvalho. Drops, São Paulo, ano 19, n. 141.05, Vitruvius, jun. 2019 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/19.141/7384>.
ANELLI, Renato. Exposição Vkhutemas: revolução social e produção serial. Prêmio APCA 2018 – Categoria “Pesquisa e difusão”. Exposição Vkhutemas / Celso Lima e Neide Jallageas (curadoria e pesquisa), Goma Oficina (comunicação visual e maquetes de arquitetura). Drops, São Paulo, ano 19, n. 141.06, Vitruvius, jun. 2019 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/19.141/7386>.
CAMARGO, Mônica Junqueira de. Rosa Kliass, uma trajetória duplamente exemplar. Prêmio APCA 2018 – Categoria “Trajetória”. Drops, São Paulo, ano 19, n. 141.07, Vitruvius, jun. 2019 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/19.141/7388>.
PERROTTA-BOSCH, Francesco; WISNIK, Guilherme. Minimod, Mapa Arquitetos. Prêmio APCA 2018 – Categoria “Inovação tecnológica”. Minimod – Mapa / Luciano Andrades, Matías Carballal, Rochelle Castro, Andrés Gobba, Mauricio López, Silvio Machado. Drops, São Paulo, ano 19, n. 142.05, Vitruvius, jul. 2019 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/19.142/7410>.
VILLAC, Maria Isabel. Arquitetura como experiência e apropriação. Prêmio APCA 2018 – Categoria “Contribuição à cultura brasileira”: Brasil Arquitetura / Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci. Drops, São Paulo, ano 19, n. 142.07, Vitruvius, jul. 2019 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/19.142/7422>.
KOGAN, Gabriel. Vazio e pensamento, vento e movimento. Prêmio APCA 2018 – Categoria “Obra brasileira no exterior”: Capela Bienal de Veneza / Carla Juaçaba. Drops, São Paulo, ano 20, n. 143.05, Vitruvius, ago. 2019 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/20.143/7457>.
SEGAWA, Hugo. Prêmio APCA 2018 – Categoria “Melhor obra”: Campus da UFABC / Claudio Libeskind e Sandra Llovet [no prelo].
sobre os autores
Francesco Perrotta-Bosch, arquiteto, foi curador da exposição “Irradiações – Fabio Penteado” (Casa da Arquitectura, Matosinhos, Portugal, 2019) e curador assistente do pavilhão brasileiro da Bienal de Arquitetura de Veneza, em 2016. Organizador do livro Biselli Katchborian (Acacia Cultural, 2019) e coautor do livro Entre. Entrevistas com arquitetos por estudantes de arquitetura (Viana & Mosley, 2012).
Guilherme Wisnik, arquiteto, é professor doutor na FAU USP. Foi Curador-Geral da 10aBienal de Arquitetura de São Paulo (IAB/SP, 2013). Autor dos livros Lucio Costa (Cosac Naify, 2001), Caetano Veloso (Publifolha, 2005), Estado crítico: à deriva nas cidades (Publifolha, 2009), Dentro do nevoeiro: arquitetura, arte e tecnologia contemporâneas (Ubu Editora, 2018) e Bolívia 2016 (Circo de Ideias, 2018).