Os historiadores poderão esclarecer uma dúvida que aflige o Brasil: de onde vem e a que serve a quantidade de despautérios diários que este governo lança ao ar?
Alguns órgãos de mídia e pessoas que apoiaram Bolsonaro hoje o declaram incapaz de governar ou mesmo compreender a natureza de seu cargo. Para estes, os absurdos e bobagens espalhados pelo presidente e seus assessores mais midiáticos expressariam um conjunto de acidentes que levou ao poder uma pessoa despreparada.
Outros acreditam que as declarações da famiglia, das damares, weintraubes e helenos são uma imensa cortina de fumaça para desviar a atenção da forma escandalosa como está sendo dissipado o patrimônio nacional e como avança o perverso projeto de jogar sobre as costas dos que quase nada tem o custo de uma crise que não foi sua responsabilidade.
Mas talvez se deva admitir que uma resposta não elimina a outra. Para dizer de forma mais literária: que haja sentido na loucura.
Vejamos um exemplo recente. O presidente defende o trabalho infantil, contra a lei nacional e contra um dos consensos internacionais.
Para isso ele mente, sem nenhum pudor, quanto à própria infância. As redes rapidamente recuperaram um depoimento de seu irmão afirmando que o pai jamais permitiu que trabalhassem.
Ele também oferece a falsa opção: trabalho ou drogas. Como se a exploração infantil ou a destruição pelas drogas fossem as únicas alternativas das crianças e jovens pobres do país.
Mas afinal talvez sejam mesmo, no futuro em construção por Bolsonaro e por todos que, sincera ou oportunisticamente, o apoiam. Por que a escola pública e gratuita está sob ataque político e asfixia econômica. Por que os direitos trabalhistas já desapareceram. Por que não há nenhuma indicação de alguma política de criação de emprego ou distribuição de renda.
Nesse futuro em (des)construção, talvez nossos jovens só tenham uma alternativa fora da escola: buscar trabalho nas milícias pelas quais a famiglia tem tanta consideração e respeito.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular de uma universidade ainda pública e gratuita.