A expressão matar o mensageiro se deve, para alguns, ao rei persa Dario, que executou o funcionário que trouxe a informação da derrota para Alexandre. Outros a atribuem a Genghis Kahn, o imperador mongol que, por prudência, matava o portador de más notícias antes que elas se espalhassem.
Não sei se o Brasil vai se alinhar à tradição de Dario e do Khan. Mas é óbvio que o ex-super-herói Sergio Moro voltou de suas intempestivas férias na terra de tio Trump decidido a tentá-lo.
Quem acompanha a novela que ainda não tem dois meses e se consagrou com o nome de VazaJato, já percebeu que as respostas do ex-juiz acerca das mensagens nada republicanas trocadas entre ele e o promotor chefe são dignas de contorcionista do Cirque de Soleil.
Basicamente ele tem dito que não se lembra nem reconhece as mensagens, que provavelmente foram adulteradas, mas que, se lembrasse e reconhecesse, elas provavelmente não teriam nada demais. Até porque, se tivesse feito aquilo que alguém criminosamente insinuou que fez, nada mais teria feito que aquilo que todo mundo faz.
Traduzindo: algum supercriminoso cibernético, provavelmente russo, teria conseguido quebrar o código de um app de comunicação para falsificar mensagens em que o ex-super-juiz comenta que fez as coisas mais normais do mundo.
Agora, numa única semana, ficamos sabendo que os russos são da nossa simpática vizinha Araraquara e usam Windows 10.
Que o senhor Dallagnol, o homem do Powerpoint que pôs Lula na cadeia, e o senhor In Fux We Trust, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ganharam um por fora (valor não revelado) para conversar sigilosamente com representantes dos maiores bancos nacionais e internacionais sobre o que poderia acontecer na eleição, cinco meses antes da eleição.
E que o ex-super-herói resolveu publicar uma Portaria que abre concretamente a possibilidade de deportar o mensageiro – jornalista americano – que tem trazido tão más notícias.
Quando os russos são de Araraquara e usam Windows 10 não há por que estranhar que o número da Portaria seja 666.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos, não é supersticioso, mas fez doutorado na Espanha e sabe que brujas, las hay.