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drops ISSN 2175-6716

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A geógrafa Maria Adélia Souza se recorda dos encontros e desencontros de sua trajetória com a de Lúcio Kowarick, falecido recentemente.

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SOUZA, Maria Adélia. Lúcio Kowarick (1938-2020). Um colega ilustre, competente e digno. Drops, São Paulo, ano 21, n. 156.01, Vitruvius, set. 2020 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/drops/21.156/7865>.


Lúcio Kowarick, 2012
Foto Mauro Bellesa [Wikimedia Commons]


Entristeceu-me profundamente e surpreendeu-me a morte de Lúcio Kowarick (1). Há décadas não tinha notícias dele, pois faz tempo que não frequento a USP e, assim, as informações cotidianas desaparecem.

A surpresa se deve ao fato de que meus amigos não morrem!! Apenas deixo de encontrá-los! São eternos!

Sempre acompanhei de perto seus escritos e sua obra que foram fundamentais para a compreensão que tenho, como geógrafa estudiosa da constituição do espaço metropolitano de São Paulo, através dos seus conflituosos e perversos processos de uso do território. Nisso, seu A espoliação urbana (Paz e Terra, 1979) exibe para mim uma perfeita teoria explicativa dessa nossa formação territorial e metropolitana.

Meus alunos – e não foram poucos em sessenta anos de trabalho junto ao planejamento territorial e, mais sorrateira e recentemente, como geógrafa – sabem disso. Essa sua teoria me faz compreender ainda melhor aquilo que Milton Santos definiria, posteriormente, como meio técnico-cientifico informacional.

Enquanto Lúcio nos propunha uma perfeita teoria da metropolização valendo-se de São Paulo como empiria, na mesma época Milton Santos lançava seu O espaço dividido – os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos (edição francesa da M.TH. Genin, Paris, 1975; edição brasileira pela Francisco Alves, Rio de Janeiro,1979) uma das mais importantes teorias sobre a urbanização do mundo pobre.

Duas leituras indispensáveis para que hoje possamos com muito rigor científico compreender a formação dos usos seletivos do território na metrópole provocados pelos processos de espoliação urbana e de constituição do meio técnico-cientifico informacional. Indico a importância dessas elaborações teóricas pois entendo que o empirismo desvairado, sem teoria que o oriente, transforma o avanço do de conhecimento num processo oco.

Para mim, em minhas buscas de conhecimento da urbanização brasileira e da variedade de suas paisagens são eles são autores fundamentais, até hoje.

Ademais, minha memória guardou com exatidão o dia em que conheci, quando jovem estudante do segundo ano de Geografia – começando a fazer meu primeiro estágio realizado na Sagmacs (2), cujo aprendizado faz parte até hoje de minhas descobertas – o sociólogo recém-formado, Lúcio Kowarick. Conviver com aquela equipe multidisciplinar, participar de suas discussões e debates sobre o planejamento urbano e regional brasileiro se constituiu, felizmente para mim, um enorme e inesquecível aprendizado.

Em Paris, pelos idos de 1964/1965 – por aí, não me lembro com exatidão – Lúcio fazendo seu DEA (3) e eu que o alcancei nas trilhas da vida fazendo meu DES (4), nos reencontramos, novamente.

Éramos um pequeno e solidário grupo de brasileiros que convivíamos para discutir sobre a ditadura, pensar nas estratégias de resistência e realiza-las, ainda que no exterior. Lúcio era recém-casado, com sua primeira filhinha, de que em muitas noitadas fui babá... Saudades daqueles tempos.

Inesquecível o apoio que Lúcio Kowarick me deu em 1995, quando o convidei para integrar uma Comissão de Professores para pensarmos e realizarmos uma urgente e necessária reforma da Graduação na USP, juntamente com o pró-reitor de graduação de então, no Gabinete do Reitor Flavio Fava de Moraes, em cujo reitorado tive a honra de ser sua Chefe de Gabinete. Era muito difícil realizar qualquer tipo de mudança na universidade naquela época. Lúcio permaneceu comigo solidário, persistente, mas nada conseguimos.

Saudades eternas desse grande sociólogo, suave no seu modo de ser, rigoroso em seu trabalho e de uma modéstia e humildade da qual sou testemunha e que valorizava enormemente sua existência, e nossa amizade.

O derradeiro presente que Lúcio nos deu, a Milton Santos e a mim, foi assistir todo curso que oferecemos na FAU USP, discutindo o livro O espaço dividido. Tempos de elegância e generosidade acadêmicas onde a crítica era permanente, o pensamento critico vigoroso e denso e o conhecimento libertário se fundava na clareza das pequenas teorias que esses dois grandes mestres e alguns outros com os quais tive a honra e o privilégio de conviver das ciências sociais nos deixaram.

À benção Lúcio Kowarick!

Até um dia!

nota

1
Lúcio Kowarick faleceu no dia 24 de agosto de 2020.

2
Sagmacs – Sociedade para Análise Gráfica e Mecanográfica Aplicada aos Complexos Sociais.

3
DEA – Diplôme d’Etudes Approfondies.

4
DES – Diplôme d’Études Superieurs

sobre a autora

Maria Adélia Souza é professora aposentada titular de Geografia Humana da Universidade de São Paulo – USP.

 

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