A novamente mal chamada “reforma administrativa” é mais um exemplo do famoso “me engana que eu gosto”, que vem dominando a política brasileira nos últimos quatros anos.
Como a série tem feito sucesso, tudo indica que não será a última. Mas a cada nova temporada os roteiristas vão se aprimorando.
Lá no começo da série, nos garantiram que no dia seguinte à queda de Dilma, os investimentos chegariam, a economia voltaria a crescer e o dólar ficaria baratinho.
Depois, venderam uma “reforma trabalhista modernizadora” que iria criar “milhões de novos empregos”. Aí veio a versão menos docinha e o ex posto Ypiranga faz cara de mau para lembrar que você pode escolher entre ter direitos ou ter emprego.
Na terceira temporada aprendemos que podíamos trocar a aposentadoria e seus “escandalosos privilégios” por mais empregos. A aposentadoria foi e os empregos não vieram.
Também há os sucessos que atravessam temporadas. Alguém contou quantas vezes nesses quatro anos os “especialistas” e os bem pagos “comentaristas” das televisões e dos jornalões avisaram que “apesar de tímidos” já havia sinais de “recuperação da economia”?
Claro que veio o Covid-19 para atrapalhar. Mas espera, a pandemia não era só uma gripezinha? Afinal, o que são 130 mil mortos perto do equilíbrio das contas públicas?
Mas “agora” tudo vai dar certo. Um governo preocupado com o Brasil vai acabar com os privilégios dos funcionários públicos concursados. O “mercado” delira e a gente aceita porque, afinal, isso tudo que está aí é uma pouca vergonha.
Mas logo ficamos sabendo que não é bem assim. Os funcionários do legislativo não vão entrar na reforma. Os do judiciário também não. Os do Ministério público também não. E os coitadinhos dos militares que já tiveram aposentadoria especial e aumento de salário, também não.
Mas não importa, a enfermeira que atende no SUS, em hospitais super bem equipados e a professora que cuida das crianças nas nossas luxuosas escolas públicas, não vão mais ter essa mamata toda.
E vai acabar essa bobagem de concurso. Assim toda vez que elegermos um prefeito, um governador ou um presidente, eles podem demitir todo mundo e dar emprego para os seus cabos eleitorais. Bom, não é mesmo?
Ah. O roteirista avisou que funcionário público agora poderá ser demitido por “desempenho insuficiente”.
Pena que não vale nem para o Guedes, nem para o quase ministro da saúde, nem para o Dória, nem para o presidente patriota que comemora o sete de setembro com bandeira americana.
sobre o autor
Carlos A. Ferreira Martins é professor titular do IAU USP São Carlos.