É notável que o ensino da arquitetura mudou e evoluiu nos últimos anos com a inclusão de novas ferramentas de trabalho e compartilhamento de projetos, o uso de novas tecnologias como peças em impressão 3D, robótica e inteligência artificial, inclusão de novos materiais e a recuperação de técnicas mais tradicionais visando a sustentabilidade e melhor uso dos recursos disponíveis. Como essas diferentes formas de abordagem de projeto e a forma pensar o design se tornaram mais dinâmicos, tornou-se necessário criar e remodelar a forma como esse conteúdo chega aos alunos e como deixar o ensino de arquitetura mais atrativo e conectado ao mercado de trabalho. Devido a aspirações pessoais de ampliar o acesso e oferecer novas possibilidades de ensino, o arquiteto italiano, radicado em Barcelona, Alberto Collet, fundador do ateliê Bauart, por sua experiência na área de ensino e workshops internacionais de projeto, idealizou o Alternative Academic Project – AAP, cujo propósito é atuar como um laboratório inovador, fomentando novas ideias, experimentação e inovação, uma ponte entre empresas e universidades, uma conexão entre o público e o privado.
O AAP é o resultado de um interesse em construir um debate alternativo referente à arquitetura, ao planejamento urbano e à paisagem. A organização é formada por profissionais que procuram diferentes respostas no contexto das cidades e pretende se tornar uma programa original para diferentes escolas de arquitetura que possuem a vontade de expansão cultural porém ainda têm dúvidas em como oferecer esse tipo de contato internacional e como prospectar profissionais de outra região ou mesmo de outro segmento de trabalho além do escritório, para que exponham suas experiências sobre a prática e o mercado de arquitetura nacional e internacional. A organização tem como objetivo aprofundar a criação de debates alternativos por meio de entrevistas, workshops e seminários em faculdades de arquitetura e empresas, tendo em vista que existe uma forte necessidade do ensino acadêmico ser complementado com estes tipos de atividades, criando uma alternativa que gere vínculos culturais, aprendizado mais plural, que mostre um pouco mais da vivência do profissional da área e construir um tipo de “identidade arquitetônica”, no qual o estudante de arquitetura poderá se sentir mais estimulado com os estudos e com sua futura profissão.
Segundo Collet, o interesse da organização é de abordar sobre a criação de eventos culturais que abrirão diversas oportunidades e possibilidades, dentre as mais importantes, oferecer workshops que possam contribuir para que o estudante possa ter acesso a um conhecimento que, talvez, não tenha oportunidade de estudar no ambiente estudantil tradicional, tratar sobre como se inserir no campo profissional e a possibilidade de internacionalização de instituições, auxiliando nesse contato entre faculdades de vários países. A estrutura do AAP pretende apoiar diferentes profissionais em diferentes cidades e contextos, principalmente na América Latina. A América Latina foi escolhida para começar o projeto devido às grandes necessidades do desenvolvimento de propostas que podem ser pensadas, tanto em escala urbana quanto arquitetônica como também por toda variedade cultural e a grande possibilidade de integração.
Em 2019, o AAP organizou seu primeiro workshop, com o apoio da UNIBH, em Belo Horizonte sob o nome Arquitetura na cidade, trabalhando com uma equipe na área do hipercentro da cidade, propondo um edifício cultural.
O workshop foi desenvolvido seguindo três pilares que estruturam o programa:
- diversidade: abordagem integrativa de natureza interdisciplinar;
- compartilhamento: criatividade compartilhada para construir a capacidade de diálogo;
- aprendizagem: compreensão derivada da observação, participação e experiência.
A criatividade deve estar presente na origem do conceito e deve ser compartilhada por todos os participantes, sendo o fio condutor de todo o processo. Tudo é resultado da criatividade.
Já em 2020, por conta de todas as transformações que vieram com a Covid-19, a segunda edição foi toda organizada em formato online, retornando a cidade de Belo Horizonte e o tema foi a proposição de propostas na Lagoa da Pampulha, Patrimônio Mundial da Humanidade tombado pela Unesco, onde o objetivo dos participantes do e-workshop foi desenvolver intervenções arquitetônicas e urbanísticas de média escala, onde foram propostas investigações sobre o delicado processo de requalificação de áreas urbanas, enfatizando a relação entre o edifício e a cidade, salientando as possibilidades e conexões que a Lagoa da Pampulha propicia. O intuito era repensar ideias e estratégias para promoção de mais serviços e um tratamento espacial diferenciado. Esta edição de 2020, tal como a de 2019, teve o apoio de convidados internacionais, como os arquitetos Giancarlo Mazzanti (Bogotá, Colômbia), João Mendes Ribeiro (Coimbra, Portugal), Carlos Ferrater (Barcelona, Espanha), Oscar Gonzalez Moix (Lima, Peru), Cecilia Zurita (Ciudad de Guatemala, Guatemala) e David Ramirez (Ciudad de Guatemala, Guatemala) e vários escritórios e arquitetos brasileiros como o Estúdio 41 (Curitiba), Gustavo Utrabo (São Paulo), Janaina França Costa (Belo Horizonte), Mapa Arquitetos (Porto Alegre), Nitsche Arquitetos (São Paulo), Sheyla Passos (Belo Horizonte) e Tetro Arquitetura (Belo Horizonte).
Os estudantes que participaram da versão online do workshop em 2020 foram divididos em cinco equipes para o desenvolvimento das propostas, abordando seu o programa, interagindo com os arquitetos tutores e coordenadores, participando de seminários com os convidados, experimentando métodos de desenvolvimento das intervenções e distintas maneiras de representar suas propostas.
Participaram desta última edição os seguintes estudantes e suas respectivas equipes:
Team 1: Daniele Meloni, Fernanda Farah, Lynda Maria José Siguenza Contreras, Mariana Ricachinevsky e Mateus Bifano.
Team 2: Edoardo Soares, Brian De Leon, Clarissa Lustosa, Alice Verneque, Roberta Sartoretto e Carlos Arellano.
Team 3: Jorge Chacin, Julia Almeida, Maria, Alexandra Gudiel, Viola Bergamini e Wilson Lopes.
Team 4: Priscila Alves, Manuel Romo, Nilton Ribeiro, Lorena Nilzete e Ana Carolina Galama.
Team 5: Ana Barbosa, Daniela Giron, Juliana Dulius, Matheus Rosendo e Nathalia Melo.
Para 2021, pretende-se que a edição do evento possa gerar uma reflexão importante dentro da cidade e, ainda que seja totalmente online, transforme-se em uma extensão natural do trabalho que acontece dentro da sala de aula, laboratório de pesquisa e escritório, que mostre de forma inovadora o uso de tecnologias e opções mais consolidadas voltadas à técnica arquitetônica tradicional. A intenção é que esse tipo de evento ocorra anualmente tendo a possibilidade de crescer e se transformar, havendo a expansão para outras cidades, indo para além de Belo Horizonte, criando novas perspectivas e novos desafios de acordo com as demandas de cada região.
Ainda segundo o coordenador do projeto, neste momento em que estamos participando todos os dias de seminários e reuniões por vídeo chamada, lives no Instagram, entre outros, estamos aprendendo como o conhecimento é algo fluído, e a partir disso vamos aprender a envolvê-lo até uma hibridização para as futuras atividades do Alternative Academic Project – AAP.
Desde o início do projeto, existe um grande interesse de instituições de ensino, fundações e escritórios de arquitetura no desenvolvimento de atividades, principalmente para colaborar nos workshops e o objetivo é justamente criar essa rede de parcerias para que seja possível disponibilizar aos participantes e colaboradores cada vez mais conteúdo, aprofundamento do ensino e suporte técnico. Notou-se também como as empresas ligadas à área da arquitetura vêm apresentando uma abordagem das atividades, evoluindo ao longo do tempo. Dessa forma, é muito importante para o AAP o apoio dos patrocinadores e das inscrições dos participantes. É dada particular atenção a este aspecto, procurando dar uma qualidade superior à cada nova edição, no qual se possa oferecer atividades e cursos de excelência com um valor justo e que possa ser o mais acessível possível, tendo em vista a realidade do estudante brasileiro.
Para o futuro contamos com formas e metodologias que possam consolidar nossos objetivos no equilíbrio entre o mundo empresarial e acadêmico, com possibilidades de aumentar o nosso número de apoiadores, tendo cada vez mais instituições de ensino envolvidas e que consequentemente mais estudantes e jovens arquitetos possam ter acesso ao projeto.
nota
1
Mais informações no Instagram da instituição: AAP <https://www.instagram.com/alternative.academic.proj>.
sobre os autores
Alberto Collet é arquiteto em Barcelona, doutorando pela Faculdade de Arquitectura do Porto e é coordenador do AAP. Tem experiência como professor visitante na IUAV de Veneza, UDVGT e ISTMO da Guatemala, tutor/colaborador na ETSAB de Barcelona, Politécnico de Milão entre outras. Faz parte do corpo docente do LABA de RCR Arquitectes.
Felipe Sanquetta é arquiteto em Curitiba, mestrando pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Tem colaborado em escritórios de arquitetura e possui premiações em concursos de projeto como estudante e profissional. É redator na plataforma Prédios de Curitiba e iniciou sua colaboração com o AAP em 2021.