Rodrigo Brotero Lefèvre: O ano de minha formação foi 1961, corresponde ao quinto e último ano da escola. Em janeiro de 1962 eu me formei e recebi o diploma. Isso significa que eu entrei na escola em 1957 e cursei até 1961. É importante destacar isso pois foi exatamente o fim do governo de Juscelino Kubitschek e o início do governo de Jânio Quadros. Propriamente durante o governo de Jânio Quadros. Em setembro, Jânio Quadros renunciou, e, em janeiro, quatro meses depois, eu me formei.
RM: O tipo de formação que recebeu na escola, correspondia às exigências do mercado de trabalho?
RBL: Talvez o curso respondesse às exigências do mercado de trabalho, na medida em que existiam poucas exigências do mercado de trabalho. Quer dizer, o arquiteto acabava se formando e arranjando um empreguinho ou montando um pequeno escritório de arquitetura. No fim, acabávamos nos virando para produzir uma obra razoável.
RM: Isso acontecia com todos os arquitetos que se formavam? Ou muitos saíam para fazer decoração, comunicação visual, desenho industrial?
RBL: Não, nessa época ainda não existia isso que agente chama de comunicação visual, nem de desenho industrial. Pelo menos não era tão conhecido, e na FAU não tinham ainda se formado as seqüências de comunicação visual e desenho industrial. Fazia-se um trabalho nesse sentido, mas era muito pouco para se pensar nisso como um mercado de trabalho para o arquiteto. Existia um certo grupo de arquitetos formados que realmente não se dedicavam à profissão por falta de algumas faculdades e de alguns cursos que posteriormente foram formados. Existia um índice grande de alunos que ia fazer arquitetura pela proximidade da área com certos setores das artes plásticas, ou certos setores da comunicação visual, do cinema, etc.
Assim, tinha muita gente que ia fazer arquitetura pela falta de outros cursos de comunicações, de artes plásticas, etc. Também tinha muita gente que entrava no curso de arquitetura, como alternativa mais fácil em relação ao curso de engenharia. Por isso o grupo de arquitetos que se formava na FAU nessa época era muito heterogêneo. Podia-se passar pelo curso sem necessariamente se formar um arquiteto. Por isso a quantidade de gente que saía para trabalhar com venda de material de construção e se vinculava, por exemplo, a empresas como a Eternit.
Eu conheço um arquiteto que se empregou na Eternit e passou 12 anos trabalhando lá, muito mais como relações públicas para vender os produtos, do que em um processo de pesquisa da Eternit, já que essas pesquisas são feitas na Suíça. Assim também acontece nas firmas de divisórias, etc.
Realmente, do grupo de arquitetos que se formava, era apenas uma pequena parte que acabava sendo arquiteto, realmente exercendo as funções que poderíamos chamar de funções do arquiteto. Talvez nós pudéssemos dizer que era um curso elitista, na medida em que ele não tinha uma estrutura muito clara, definida e coerente. O curso dependia muito do auto-didatismo, da experiência concreta que os estudantes pudessem adquirir na medida em que trabalhassem fora da faculdade. Nesse caso, então, para o estudante poder vir a ser arquiteto realmente ele dependia de uma situação favorável. Ou seja, logo conseguir alguns projetinhos enquanto ainda fosse estudante, ou ter condições de logo se empregar num escritório de arquitetura, coisa rara, tanto quanto hoje, um estudante trabalhar num escritório de arquitetura, em condições de realmente produzir nesse escritório.
Gostaria de ressaltar que o curso era insuficiente sobre outros aspectos, não em relação ao mercado de trabalho propriamente dito, mas no que diz respeito à responsabilidade que um arquiteto formado deve assumir no contexto social em que vive. Não é um problema de mercado. Nós não estamos tratando o fazer arquitetura como mercadoria, mas estamos pensando nele como parte do desenvolvimento, como uma visão de mundo, como parte da contribuição que nós podemos dar para um mundo melhor. Nesse sentido a formação na faculdade era totalmente falha.