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interview ISSN 2175-6708

abstracts

português
Esta entrevista com Rodrigo Brotero Lefèvre foi realizada em junho de 1974, na Residência Marietta Vampré. A entrevista foi disponibilizado em Vitruvius em março de 2000

english
This interview with Rodrigo Brotero Lefèvre was made in june 1974 inside Marietta Vampré's house. The interview is available in Vitruvius since march 2000

español
Esta entrevista con Rodrigo Brotero Lefèvre fue realizada en junio de 1974 en la casa Marietta Vampré. La entrevista está disponible en Vitruvius desde marzo del 2000

how to quote

MAIA, Renato de Andrade. Rodrigo Lefèvre. Entrevista, São Paulo, ano 01, n. 001.01, Vitruvius, jan. 2000 <https://vitruvius.com.br/revistas/read/entrevista/01.001/3352>.


Residência Dino Zammataro, São Paulo. Rodrigo Lefèvre

Renato Maia: Quais as outras correntes dentro da arquitetura nesse período?

Rodrigo Brotero Lefèvre: Basicamente era isso que existia. Podia haver pequenas alterações desse fulcro central que era a participação no processo de industrialização, mas acho que o fundamental no momento era isso que existia. Tanto que a produção da arquitetura dessa época, a meu ver, tem muito de uma academia paulista de arquitetura, com uma identidade muito grande em tudo o que os arquitetos faziam.

RM: Existia uma rivalidade entre os arquitetos de São Paulo e os arquitetos do Rio de Janeiro?

RBL: Isso era um fator secundário. Quem estava fazendo arquitetura era o Niemeyer com alguns tipos de obras, no caso muito específico, que eram as obras em Brasília, numa situação toda ela favorável com grandes possibilidades de fazer o que fez. Em São Paulo, existia uma dificuldade muito maior. Para conseguir fazer esse tipo de coisa os arquitetos daqui tinham que ser, no mínimo, eficientes do ponto de vista do custo da construção, do ponto de vista da participação da especulação imobiliária, das vendas. Então não existia grandes possibilidades de sair por aí fazendo coisas como o Niemeyer fez em Brasília, por exemplo. O fator fundamental era a pretensão de que o processo de modernização fosse realmente um desenvolvimento. Poderia ter aqui em São Paulo um pessoal fazendo obras tendo em vista a industrialização da construção, e, em Brasília, um Oscar Niemeyer fazendo obras tendo em vista a afirmação da burguesia nacional. O que, num certo sentido, era a mesma coisa.

Usava-se muito concreto e colocava-se a alvenaria como um processo arcaico de construção, um processo não voltado para o processo de industrialização, que era o que se buscava. Falava-se em pré-fabricação, em placas pré-moldadas, em divisórias. Teve quem chegou a fazer placas divisórias internas de casa com todas as características de uma placa móvel, mas que era fundida no local, de concreto. Eram coisas feitas tendo em vista modelos de arquitetura voltados para a industrialização da construção.

Então, nessa altura, a utilização de qualquer elemento material que estivesse vinculado historicamente ao processo artesanal de produção era rebaixado. Nessa época, fazer telhado era uma coisa proibida para nós, para a academia, e usar alvenaria também. Nós tínhamos que usar a laje como cobertura, as placas divisórias de concreto, elementos pré-moldados, etc, apesar de não haver nenhuma normalização dos materiais de construção, e de não haver condição de realmente se adotar esse tipo de coisa em grande escala. Basicamente, todos os arquitetos estavam produzindo experiências de laboratório tendo em vista uma industrialização que não aconteceu.

O que me parece importante dizer é que na época de 1964 até 1969 começou-se a ver alguma coisa um pouco diferente daquele processo anterior.

Depois de 1964, os governos que se sucederam tiveram como política fundamental, apesar da adoção de certos problemas básicos como a habitação, o planejamento urbano, os planos diretores de municípios, etc. Na realidade, isso funcionou fundamentalmente do ponto de vista financeiro, quer dizer, o que se montou no Brasil foi um grande esquema financeiro, através do qual se pretendeu resolver certos problemas de habitação, de planejamento urbano, de adaptação das nossas cidades a esse processo de modernização.

Me parece, assim, bem resumidamente, que só a adoção de um esquema financeiro não teria nunca condições de vingar, porque existiam outras coisas que estavam envolvidas. Os primeiros exemplos de conjuntos habitacionais feitos pelo BNH, como a Vila Kennedy, e outros, que inclusive já eram anteriores ao BNH, ainda eram coisas de Carlos Lacerda no governo da Guanabara, anterior a 1964. A Vila Kennedy, que até hoje nós confundimos com o BNH, sem razão. O BNH é que adotou aquele tipo de solução.

Existem outras coisas envolvidas além do problema financeiro de fazer a casa, comprar a casa, fazer alguém ter aquela casa. Existem problemas gravíssimos de como o morador vai usar a casa: que tipo de casa é essa; qual é o conceito de casa para o morador; como essa casa se relaciona com o resto da cidade; que condições o morador tem de realmente continuar mantendo aquelas relações que ele mantinha com a cidade, na nova casa. Todo esse processo foi esquecido.

Simplesmente montou-se um esqueminha financeiro, um modelinho financeiro, que seria a grande bola de neve, como se dizia na época. Paralelamente a isso, não se criou nada, em contraposição com aquilo que os arquitetos poucos anos antes achavam que ia se dar no Brasil. Não se criou nada no sentido de qual orientação dar para o problema da habitação no Brasil. Não do ponto de vista financeiro, mas do ponto de vista concreto, de construção, de sistema construtivo, da localização da habitação no urbano, etc. Não se criou nada disso.

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