Heitor Frúgoli Jr / Marcos Cartum: Como surgiu a idéia das viagens coletivas às cidades brasileiras? É verdade que Curitiba foi no início a principal motivação?
Paul Meurs: Faz cinco anos que estou trabalhando nessa tese de doutorado, só que naquela época saiam tantas matérias na Holanda que eu escrevia sobre arquitetura brasileira, que muitas pessoas me procuraram para fazer trabalhos no Brasil. O NAi [Netherlands Architecture Institute], que fica em Roterdã, procurou minha ajuda para uma mostra que estava organizando sobre reurbanização de favelas. Tinha muito pouco a ver com meu trabalho, mas me propus a pesquisar e a levar para Roterdã o estudo de caso da Favela do Dique, em Santos, que por coincidência fica bem perto do Engenho dos Erasmos. Nós apresentamos o projeto e o então presidente da COHAB foi para Roterdã apresentar isso num congresso, onde foram discutidos projetos semelhantes da Indonésia, da Tailândia, enfim, de uma porção de outros países.
Já a matéria que fiz sobre Curitiba, por sua vez, provocou muitas reações entre ecologistas e pessoas que lidam com o tema da cidade sustentável e da metrópole integrada. Daí eles me procuraram e a gente logo percebeu que seria um caso muito interessante para políticos, arquitetos e urbanistas holandeses conhecerem. Então, junto o NIROV [Instituto Holandês de Planejamento e Habitação], de Haia, organizamos em 1995 a primeira viagem, com seis dias em Curitiba e um dia em São Paulo (que era uma escala da viagem, escolhida como contraponto). Fez muito sucesso, vários participantes usaram as reflexões de Curitiba no contexto holandês, claro que não copiando projetos, mas tentando captar a maneira de pensar dos curitibanos e implantar isso na Holanda.
Essa viagem então provocou uma segunda vinda, em 1996, para se conhecer Curitiba melhor, e então resolvemos incluir Brasília também, que é quase um modelo oposto, embora, é claro, num contexto diferente, além de ficar um pouco mais de tempo em São Paulo, por ser uma cidade muito à frente para os arquitetos e também por muita coisa para se ver. Nós montamos essas viagens em eixos temáticos, para não ficarmos completamente perdidos, já que na realidade são cidades extremamente complexas e variáveis, muito diferentes umas das outras. Cada cidade tem características específicas, e a partir disso deu para organizar o olhar estrangeiro para cada cidade, além de se montar uma seqüência. Foi dessa maneira que nós montamos as viagens e também o livro.