Marisa Barda: Na sua opinião, a globalização influenciou sobre o modo de pensar arquitetura?
Vittorio Gregotti: Certamente sim, na minha opinião influiu de maneira errada porque se fez do problema da globalização um fundamento. Com a globalização existe uma condição econômica diferente, houve uma supervalorização da economia como conteúdo da arquitetura – a economia é um dos aspecto da arquitetura e não é o elemento dominante – e como tal deveria influir como influencia qualquer tipo de transformação econômico e social na história.
MB: Como posiciona sua arquitetura no panorama mundial?
VG: Antes de mais nada, eu sou um arquiteto europeu, o panorama mundial é meio difícil de medir porque as minhas raízes herdadas, as minhas perspectivas são muito diferentes das de um arquiteto de um país do terceiro mundo, dos Estados Unidos, do Japão ou da América do Sul e penso que, apesar dos temas inerentes à globalização, existem diferentes tradições, diferentes perspectivas e diferentes modos através dos quais pode-se traduzir a arquitetura.
MB: Então a regionalidade se mantém apesar da globalização?
VG: Sim, com uma certa riqueza por que a diferença de articulação entre as coisas é sempre uma riqueza.
MB: O senhor está trabalhando em países com culturas diferentes. Como vê a arquitetura contemporânea destes países?
VG: Tenho trabalhado na África ou na Ásia Menor e lá a tendência é tentar imitar as arquiteturas dos países que acreditam mais desenvolvidos. O modelo mais copiado é o dos EUA e isto é muito discutível, afinal cada um destes países tem uma cultura que tem que ser conservada, desenvolvendo-a em um sentido moderno.
MB: Como vê o Brasil no processo da globalização?
VG: Penso que o Brasil tem as suas tradições, uma história muito longa, mesmo se esta história depende da cultura européia. Em três séculos instituiu uma tradição particular, o próprio caráter, mas não só do ponto de vista histórico mas também geográfico. A Europa tem uma geografia aonde a cada 11 Km tem uma cidade diferente, igrejas, etc. No Brasil as cidades são distantes umas das outras – talvez 400 km – e, portanto, a dominação geográfica é mais forte, muito mais forte do que na Europa, e é menos transformada. A Europa não tem um espaço que seja natural, sempre foi historicamente transformada. Mesmo as florestas são replantadas, enquanto que no Brasil é bem diferente.